HISTÓRIA DE ISRAEL
John Brigth
OS PATRIARCAS
A História dos Patriarcas formam o primeiro capítulo de grande da História Teológica das Origens de Israel. Que teve o início na Mesopotâmia e seu desenrolar em Canaã.
Contar está história não é tão simples. Há alguns que pensam que apenas usando as tradições primitivas pode-se chegar aos acontecimentos Históricos. Todavia todas estas questões trazem problemas metodológicos.
A. NARRATIVAS PATRIARCAIS: O PROBLEMS E O MÉTODO SEGUIDO
1. A NATUREZA DO MATERIAL
O problema de descrever as Origens de Israel está em não ter os materiais históricos ou contemporâneos à disposição. E nós não podemos espiritualizar e descartar este fato.
a) A hipótese documentária e o problema das narrativas Patriarcais.
As narrativas patriarcais escritas por Moisés, não possui uma teoria que prove que elas são narrativas históricas contemporâneas. Este problema foi levantado no século XIX com a historiografia moderna.
Por não ser narrador (Moisés) um contemporâneo dos primeiros acontecimentos narrados, trouxe aos críticos, certo olhar cético.
Ainda hoje, apesar do crescente reconhecimento de que o julgamento acima era demasiado severo, o problema não foi resolvido.
Até a data de hoje o tratamento que se tem dado à história de Israel. Tende a dar uma avaliação negativa às tradições primitivas, com uma conseqüente relutância em confiar nelas como fontes de informação histórica.
b) Nova luz sobre as tradições patriarcais
Embora a gravidade do problema não deva ser minimizada, tornou-se cada vez mais evidente que temos necessidades de uma avaliação nova mais complacente. Essa conclusão se dá em virtude de várias linhas de estudo, que forçaram uma revisão das noções adotadas anteriormente. A mais importante dessas linhas foi a das pesquisas arqueológicas na idade das Origens de Israel.
Esses achados arqueológicos mudaram a maneira de olhar o problema. As diversas escavações em vários sítios arqueológicos trouxeram novas descobertas que iluminaram a idade patriarcal de maneira grandiosa trazendo milhares de textos contemporâneos ao período das Origens de Israel. Tais como: textos de Mari (décimo oitavo século); da primeira dinastia da Babilônia (do décimo nono século ao sexto); placas de Alalakh (décimo sétimo e quinto século); do Médio Império Egípcio (do vigésimo ao décimo oitavo século); Ebla do Norte da Síria, entre outros.
Tudo isso levou os radicais a modificarem sua hipótese e a uma nova apreciação da natureza das tradições.
Ainda os fatos destes documentos refletiram autenticamente o meio da época da qual eles tratam, despertou grande apreciação do papel da tradição Oral na transmissão do material.
c) Atrás dos documentos: a formação da tradição
A história das tradições patriarcais antes de entrarem, nos vários documentos só pode ser traçada em parte e por inferência.
Dois documentos, mesmo de estrutura cronológica e genealógica, podem ter apesar das divergências uma notável homogeneidade de esquema e podem contar a mesma história. O que gera transmissão histórica.
Durante todo este processo, as tradições passaram por uma espécie de seleção, refinação e normalização.
Ao mesmo tempo, outras tradições que escaparam aos documentos mais antigos ou a sua origem, foram igualmente transmitidas.
Tudo o que se pode dizer com segurança é que a corrente de transmissão remonta à idade patriarcal, e que as tradições contadas e transmitidas entre vários clãs, alcançaram durante o período mais primitivo da vida de Israel a Palestina; uma forma normativa como parte de uma grande narrativa épica das Origens de Israel.
E, de fato, amplamente aceito que as histórias patriarcais foram passadas de forma literária durante os tempos iniciais da monarquia, todavia e improvável que o autor do décimo século tivesse usado essas histórias.
Fato é que essas narrativas patriarcais que desenvolveram a antiga tradição. Essa idéia é apoiada por varias linhas de evidência.
2. AVALIAÇÃO DAS TRADIÇÕES COMO FONTES HISTÓRICAS.
A idade das tradições patriarcais por mais que tem suposições de autenticidade, não é aceita por todos de maneira unânime.
Como, pois devemos julgá-las e como usá-las para reconstituir as Origens de Israel.
a) Limitações da evidência
É impossível escrever a história das Origens de Israel, devido as suas limitações, tanto da parte arqueológica, como da própria Bíblia, pois, seu começo é desconhecido. Nenhum dos antepassados dos hebreus foi citado em inscrições contemporâneas e a arqueologia ainda não provou que as histórias dos patriarcas aconteceram exatamente como a Bíblia narra.
b) Limitações inerentes à natureza do material
Toda literatura deve ser interpretada à luz do tipo ao qual pertence. E isso também vale para literatura da Bíblia. Sendo assim as narrativas patriarcais, portanto, devem ser avaliadas pelo que elas são, ou seja, uma história Teológica que relata os acontecimentos humanos.
Além disso, a longa corrente de transmissão oral, pela qual passaram as tradições e a forma dessas tradições deve ser levada em consideração, o que não dá total crédito ao material.
Porém o fato de as histórias dos patriarcas não chegarem a nos na forma de anais históricos, certamente não significa que elas não tenham nenhuma intenção historiográfica.
Todavia o material histórico, não serve como única base para reconstruir a historia das migrações patriarcais e a biografia dos próprios patriarcas. Pois os acontecimentos são muito mais complexos que o modo como são apresentados na narrativa Bíblica.
c) Método seguido
O melhor método para estudar a história dos patriarcas seria o mais rígido e objetivo possível. Porem o único método seguro e certo está num exame equilibrado das tradições contra o cenário do mundo da época, e, a esta luz, emitir juízos positivos permitidos pela evidência.
B. O AMBIENTE HISTÓRICO DAS NARRATIVAS PATRIARCAIS
1. Os patriarcas no contexto da primeira metade do segundo milênio
Não há sombra de dívidas que a história dos patriarcas enquadra-se autenticamente no ambiente do segundo milênio.
a) Os primitivos nomes hebraicos no contexto do segundo milênio
Os nomes que aparecem nas narrativas patriarcais eram comuns tanto na Mesopotâmia como na Palestina do segundo milênio.
Nomes como Jacó, Abraão, José são encontradas em textos das civilizações como Chagar-bazar, Mari e outras cidades da Mesopotâmia.
b) Costumes patriarcais no contexto do segundo milênio
O contexto de Gense tem explicação à luz dos costumes do segundo milênio. De maneira particular os textos de Nuzi, que era uma população hurriana da região Oriental do tigre no décimo quinto século. Os hebreus foram muito enfurecidos por essas nações apesar de não ter peregrinado por essa região.
Os costumes legais também tiveram muita influência sobre os hebreus, desde, a herança, negócios, e até relacionamentos conjugais. Isso fica claro no texto de Nuzi.
Entretanto tais evidências de costumes eram vigentes e semelhantes em várias partes de Crescente Fértil, principalmente no segundo milênio, mas que também iria ser encontrado nos séculos seguintes.
Podemos concluir que as narrativas patriarcais refletem os costumes sociais e domésticos da época.
c) O final da Idade Patriarcal
O que já foi relatado acima não significa dizer que podemos que nenhum dos acontecimentos relatados nos capítulos de 12-50 de Gênesis é posteriores ao décimo sexto século. Alguns talvez até o sejam.
Pois alguns das narrativas podem referir-se acontecimentos da idade do Bronze recente.
Por isso, é impossível fixar uma data exata para entrada de Israel no Egito e assim fixar o fim do período patriarcal.
2. Os Antepassados Hebreus e a História
2.1. A migração dos Patriarcas
Com base na historicidade da tradição os antepassados de Israel vieram originalmente da Alta Mesopotâmia, para a população seminômade com cuja área eles sentiam uma íntima afinidade.
a. A Tradição Bíblica
A Bíblia ratifica com unanimidade, que a partida de Abraão deu-se em Harã. Que veio a ser tempos depois à pátria de Labão (Gn 11.32; 12.5; 27.43; 28.10). Esta tradição também e confirmada por Js 24.2ss.
b. A Tradição à Luz da Evidência
Alguns fatos históricos trazem grande evidência em toda a Mesopotâmia do Norte, que ali havia uma população de hebreus na primeira metade do segundo milênio.
Tudo isso é confirmado primeiramente, com a grande semelhança das profecias como vemos na bíblia e os textos da Mari, que mostram alguma coisa da pré-história. Alguns desses fatos mostram que a profecia foi levada a Israel pelos antepassados que vieram de um meio cultural semelhante.
Além disso, a lei israelita, ou código de Aliança (Ex 21-23), tem paralelos muito semelhantes à tradição legal Mesopotâmia, especialmente exemplificados nos códigos de Eshnunna e de Hamurabi.
O mesmo se pode dizer das narrações da Criação e Dilúvio (Gn 2.6-9), que também tem grandes semelhanças com as histórias da Mesopotâmia.
Por isso, a tradição Bíblica de que os patriarcas migraram daquela are deve ser vista em sua historicidade essencial.
c. Ur dos Caldeus
A tradição de que Tare, pai de Abraão tem migrado de Ur dos Caldeus para Harã não é tão certo. Apesar de Ur e Harã estarem unidas por laços de comércio e religião. Os relatos históricos não confirmam essa idéia, e muitas vezes refere-se a ur simplesmente como “Terra dos Caldeus”.
Gn 24.4,7 parecem colocar o lugar do nascimento de Abraão na Alta Mesopotâmia e as tradições patriarcais mostram pouca evidência de influência do Sul da Mesopotâmia.
d) Os antepassados hebreus e os arameus
Os antepassados de Israel, embora fossem predominantes de um troco semílico do noroeste, erma sem a menos dúvida uma mistura de muitas raças e a própria Bíblia ratifica esta idéia.
Os hebreus tinham forte parentesco com os arameus, que se localizavam em Padã-Aram. Estes arameus são encontrados em textos do décimo segundo séculos.
Os arameus eram encontrados e toda a Síria e Alta Mesopotâmia, e sua língua se divulogou por toda região com muita rapidez.
A língua aramaica provavelmente se originou de um dialeto que evoluiu localmente no leste da Síria ou noroeste da Mesopotâmia, e se estendeu por todo Crescente Fértil. E vários povos adotaram a língua Aramaica.
2.2. OS PATRIARCAS COMO FIGURAS HISTÓRICAS
A evidencias que aduzimos até agora nos dá todo o direito de afirmar que as narrativas patriarcais estão firmemente fundamentadas na história. E podemos acreditar que seus personagens foram indivíduos históricos reais.
a) Chefes de clãs seminômades
Os patriarcas não foram simples indivíduos particulares, mas chefes de clãs consideráveis.
A Palestina no começo do segundo milênio, estava cheia de clãs seminômades, os quais eram chefiados por indivíduos, reais. É provável que Abraão, Isaac e Jacó tenham sido chefes de clãs no segundo milênio.
b) “Apiru” (Hapiru)
Alguns acreditam que os hebreus são também conhecidos como “Apiru”, “Hapiri” ou “Habiru”. O vocábulo “hebreu” (ebri) é uma derivação popular do nome do antepassado “Heber”, “apiru” e “hapiru” apresentam uma semelhança sedutora. Embora os estudiosos digam que estes nomes não são identificados etimologicamente, parece haver ligação entre eles.
Este termo parece que se refere originalmente não a uma unidade étnica, mas a um extrato da sociedade. Homens de várias raças e línguas poderiam ser apiru. O termo denotava claramente uma classe de pessoas sem cidadania, que viviam à margem da estrutura social existente, sem raízes ou lugar fixo.
c) Os patriarcas e a história. Sumário
Não há como negar que os patriarcas eram figuras históricas. Eles faziam parte da migração de clãs seminômades que levaram nova população a Palestina nos primeiros séculos do segundo milênio, no início da idade do Bronze Média.
A luz das evidências pode dizer ainda que estes clãs viessem da Mesopotâmia e se instalaram na Palestina.
3. A RELIGIÃO DOS PATRIARCAS
Os patriarcas foram indivíduos que devem um lugar na história da religião, especialmente na religião de Israel.
A Bíblia considera Moisés o fundador da religião de Israel, e realmente ele o foi. Mas ela também começa a história de Israel e de sua fé com Abraão.
Visto por este ângulo, Abraão aparece como o primeiro antepassado da religião de Israel.
A religião dos patriarcas ou Gênesis representa assim um fenômeno histórico.
a) A natureza do problema
Não é fácil deduzir a natureza da religião patriarcal da narrativa do Gênesis. Teologicamente falando todas as narrativas patriarcais foram escritas do ponto de vista de uma teologia javística por homens que adoravam Iahweh. Quer mencionassem seu nome ou não, eles não tinham a menor dúvida de que o Deus dos patriarcas era realmente Iahweh, a quem eles consciente ou não adoravam.
Entretanto, não podemos atribuir à fé de Israel posterior aos patriarcas, pois não é historicamente preciso afirmar está idéia.
A descrição da religião patriarcal deve ser examinada, como fizemos com a relação às tradições, como um todo, a luz do que conhecemos da religião dos começos do segundo milênio, especialmente à luz dos elementos semílicos do noroeste, dos quais se originam os antepassados de Israel.
b) O deus dos patriarcas
Na história dos começos cada patriarca é representado adorando o seu deus por livre e pessoal escolha e entregando-se, depois a este seu deus.
Neste período havia um vínculo pessoal íntimo entre o pai do clã e o seu deus, que era visto como a divindade padroeira do clã. O deus era o chefe invisível da csa e de todos os membros da família.
Por essa razão, é que é normal ouvi-se: “Deus de Abraão”, “Deus de Israel”. É possível que os nomes dado ao Deus de Israel, sejam uma influencia dos vizinhos da época. Pois é provável que os patriarcas adorassem suas divindades ancestrais em identificação em El.
De qualquer modo, as divindades patriarcais não eram meras divindades tocais, porque os nomes de Deus atestam uma fé em um Deus Altíssimo, Onipotente e que vela pelos interesses do seu povo.
c) A natureza da religião patriarcal
Não é fácil descrever a religião dos patriarcas em seus detalhes, pela falta nos conhecimentos nesse campo. Porem pode dizer que ela era um tipo comum da religião da época.
Os antepassados de Israel conforme a própria Bíblia (Js 24. 2,14) tiveram um passado de adoração aos deuses não pagãos. Quem são esses deuses não podemos dizer com clareza apenas conjeturarmos.
A religião patriarcal era assim uma religião de clã, na qual o clã era realmente a família do deus patrono. Embora tenha algumas características esta religião não era monoleísta.
O culto dos patriarcas é descrito como excessivamente simples. O centro deste culto era o sacrifício animal, como entre os semitas.
Quando entraram na palestina os patriarcas tiveram contato com diversos santuários, aonde sem duvida prestaram seu culto. Entretanto, o culto patriarcal nunca foi um culto local, mas sempre o culto da divindade ancestral do clã.
d) Os patriarcas e a fé de Israel
Quando os clãs patriarcais começaram a prestar culto somente a Iahweh sua fé com certeza tomou uma feição mais profunda. E baseada na idéia da promessa e aliança que estava arraigada na mente do israelita.
Por fim podemos sabe bastante para estabelecer a confiança de que o quadro dos patriarcas apresentado pela Bíblia está profundamente fundamentado na história. Abraão, Isaac e Jacó permanecem, no mais verdadeiro sentido, no começo da história e da religião de Israel. Eles não representam apenas aquele movimento que trouxe os membros de Israel para a Palestina; também suas crenças peculiares ajudaram a dar forma à religião de Israel, como ela devia ser mais tarde. Com eles, ainda começou a busca incessante do cumprimento da promessa, a qual, embora realizada pela posse da terra e da posteridade, não podia ser satisfeita só com esses dons, mas, como um dedo apontado através de todo o Antigo Testamento, devia conduzir à cidade “da qual Deus é arquiteto e construtor”.
CONCLUSÃO
Não Há como entender as origens de Israel, sem caminharmos com os Patriarcas não só pelas paginas da Bíblia, mas também pelas das histórias do mundo antigo. Páginas estas que trazem os costumes, dados geográficos, topográficos e até mesmo religioso.
Somente através deste contexto muitas vezes obscuros, entende-se com clareza a contexto revelado.
E o John Brigth consegue fazer isso de maneira muito profunda através de uma vasta pesquisa. Mas que muitas vezes tornam-se monótonas.
Todavia não creu que Brigth tem razão em todas as sua posições. Em vários pontos demonstra uma idéia muito liberal da Bíblia e apega-se mais a tradição humana que a revelação divina.
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