RESENHA
Em 2017 Pregarei lá! Borá?
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RESENHA
Jailson Jesus dos Santos
KAISER, Walter C. Jr. e Moisés Silva. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003. 288 p.
O livro Introdução á Hermenêutica Bíblica de Walter C. Kaiser Jr. e Moisés Silva, tem como objetivo central, orientar as pessoas que desejam interpretar as Escrituras de forma erudita e bíblica. Através de pressupostos reformados, os autores a analisam, a interpretação das Escrituras dentro de uma perspectiva histórica, literária e teológica, e tendo como pano de fundo a analogia das Escrituras e da fé.
Walter C. Kaiser Jr., Walter C. Kaiser, Jr., é um grande erudito do Antigo Testamento e um distinto professor na área. Ele obteve o seu mestrado e doutorado no Mediterrâneo. Atuou como presidente do Seminário Teológico Gordon-Conwell (GCTS). Foi professor de Antigo Testamento e na Trindade Divinity Faculdade Evangélica onde lecionou por mais de vinte anos. Em 1977 ele atuou como presidente da Sociedade Teológica Evangélica. Kaiser é um membro da Wheaton College Scholastic Honor Society. Kaiser ensinou Bíblia e arqueologia em Wheaton College e no Trinity ensinou Evangélica Divinity School, em diversas áreas. Ele também escreveu vários livros, principalmente na área de Antigo Testamento, sendo que alguns deles já foram traduzidos para o português.
O Dr. Moisés Silva, nasceu em Havana, Cuba, e tem vivido nos os Estados Unidos desde 1960. Ministro ordenado da Igreja Presbiteriana Ortodoxa, Silva detém graus de Bob Jones University (BA, 1966), Seminário Teológico Westminster (BD, 1969; THM, 1971), e da Universidade de Manchester (PhD, 1972). Pelo Manchester. Silva estudou com FF Bruce e James e foi uma forte influência sobre na visão Palavras bíblicas e seu significado. Dr. Moisés Silva é atualmente um escritor e editor em Litchfield, Michigan.
O livro é dividido em quatro partes. A primeira parte da obra são orientações gerais sobre a interpretação bíblica; a segunda aborda os gêneros literários; a terceira diz respeito ao significado e aplicação do texto bíblico. Por último traz alguns desafios que os intérpretes encontram, na interpretação das Escrituras. Os capítulos são escritos individualmente onde cada autor expõe seu pensamento.
No capítulo primeiro, ele mostra que todos, direta e indiretamente, necessitam da hermenêutica, pois mesmo de forma inconsciente nós a usamos, até mesmo para interpretar o jornal. Todas as coisas têm um significado e a hermenêutica nos oferece alguns princípios que nos ajuda a interpretá-lo melhor. O autor deixa claro ainda, que além dos princípios gerais da hermenêutica, há também os princípios específicos que norteiam a interpretação bíblica, o que a faz uma disciplina singular.
No capítulo segundo, ainda dentro de uma análise histórica, o autor busca a definição do sentido do significado de um texto. Para esclarecer e entender o assunto o autor traz uma síntese do relato histórico sobre o assunto, destacando as principais teorias, os principais idealizadores das mesmas e as sua influência na interpretação do significado de um texto. Mostra que há quatro modelos principais para analisar e interpretar a Bíblia: O método texto - prova; histórico – crítico; sintático – teológico e o de reação do leitor, mostrando que o último é holístico e envolve aplicações práticas e históricas. Em seguida, ele aborda os aspectos dos significados incluídos aqueles de referente, sentido, intenção e significação. Mostrando que o ato de interpretar o texto envolve os cinco significados que eles abordaram separadamente.
No terceiro capítulo, o autor aborda a importância de se usar as línguas originais e o cuidado que se deve ter para não abusar dos mesmos. Destacando que na interpretação não podemos desprezar nem minimizar o estudo das línguas originas, pois as mesmas são fundamentais para o entendimento correto do significado do mesmo. Mas também que de igual modo não se pode exagerar, enfatizar demasiadamente as línguas originais na qual, a Bíblia foi escrita, bem como ter cuidado as distinções sutis de vocabulários e gramáticas das línguas originais. Em suma deve-se usar as línguas originas com esmero, mas jamais abusar do uso das mesmas.
No capítulo quarto o autor fala sobre o sentido das narrativas, que segundo ele é um dos gêneros mais comuns na Bíblia. Mostrando os elementos mais importantes das mesmas, a saber: cena, ponto de vista, diálogos e os recursos retóricos. Que são fundamentais para o interprete a entender a o significado do episodio narrado. Segundo o autor “A interpretação da narrativa deve dar prioridade aos recursos literários e a estrutura literária, se o interprete deseja ter sucesso em interpretar este gênero” (p. 79).
No capítulo quinto, o autor aborda o sentido da poesia e da sabedoria Bíblica, que está presente em um terço do Antigo Testamento e em boa parte do Novo. Destacando principalmente a importância de se entender os subgêneros da poesia e da sabedoria para uma maior compreensão interpretativa do texto bíblico. Para isso o autor classifica e explica os principais subgêneros e alenta-nos que cada um deles requer uma adaptação da estratégia interpretativa e o estudo do contexto no qual o texto estar inserido.
No sexto capítulo, o objeto de estudo são os Evangelhos, e de início o autor fala da importância de se entender a historicidade e o fato teológico dos mesmos, e destaca que “os escritores dos Evangelhos são tanto historiadores quanto teólogos”. E acrescenta: “Eles recontam os fatos, mas também os interpretam para que nós possamos crer” (p. 104). Em seguida, considerando que as parábolas têm um papel importante nos Evangelhos, o autor mostra a importância de compreender a sua natureza, seu propósito e seu contexto literário. Kaiser e Silva encerram o capítulo falando da distinção entre o ensino de Jesus e o dos Rabinos, lembrando-nos que o primeiro ensinava de uma forma e conteúdo diferente e com autoridade.
O sétimo capítulo é dedicado ao estudo das Epístolas, que apesar de não serem cartas pessoais, para serem compreendidas devem ser consideradas como cartas reais e históricas. O que na prática deve nos levar a cinco atitudes: A primeira lê-las como um todo; a segunda estudá-las dentro do seu contexto original; a terceira analisá-las do ponto de vista literário; a quarta vê-las como unidades teológicas e por último, lê-las tendo em mente que apesar de ter todo esse fundo histórico e literário são Palavras de Deus para o seu povo.
No oitavo capítulo o autor trata da profecia e seu significado. De início chama a nossa atenção para o fato de que ela é gênero presente em grande parte da Bíblia (27 %), e que apesar de estar ligada ao futuro, não é um manual de futurologia. As profecias não eram resultados da mente dos profetas, mas uma pregação baseada na lei, e isso fica claro pelo resultado e implicações de suas palavras; pelo conhecimento de coisas humanamente conhecíveis; e o relacionamento de coisas contemporâneas com fatos futuros. Em seguida, o autor fala dos tipos de profecias: condicional, incondicional e seqüencial, e da importância de serem analisadas separadamente. As últimas páginas do capítulo são dedicadas a como os profetas empregavam os termos e expressões para marcar a passagem sobre o futuro.
O nono capítulo é o início da terceira parte, e tem como propósito de ensinar um método de estudo devocional das Escrituras, partindo do pressuposto de que a Bíblia é a Palavra de Deus, e tendo como propósito a praticidade das verdades na vida diária. O método proposto pelos autores enfatiza que a despeito dos pontos obscuros, as Escrituras é clara em sua mensagem básica, e que é indispensável à iluminação do Espírito Santo para o entendimento devocional da mesma. Ainda, que a meditação da Palavra de Deus é essencial para o método devocional, pois é por meio dela que temos comunhão com Deus, e podemos adorá-lo através de um envolvimento total: Corpo, alma e mente.
O décimo capítulo é prático, e tem como objetivo analisar a obediência da Bíblia, tendo como pano de fundo o uso cultural da mesma. A proposta feita pelo autor, para a contextualização da Bíblia, é chamada de “etno-hermenêutica” (p. 172), que é a interpretação bíblica dentro de suas diversas culturas: bíblicas, dos intérpretes e dos receptores. Alertando-nos da necessidade termos sempre o cuidado, das últimas não determinarem a primeira. Logo em seguida, o autor dá algumas opções para a interpretação dos aspectos culturais das Escrituras e algumas diretrizes para usá-las. Trazendo a nossa memória que os princípios a serem aplicados são os mesmos dados aos leitores originais.
No capítulo onze, o assunto abordado é o uso da teologia no processo interpretativo das Escrituras. Para o autor existem duas ferramentas que devem ser usadas nesta tarefa: a primeira é a analogia da fé e a segunda é analogia das Escrituras. A primeira quando usada de maneira correta faz com que a interpretação tenha coerência, considere a natureza orgânica das Escrituras e envolva todo o Cânon. A segunda diz respeito ao uso exegético de textos, que lança luz a outros textos fazendo com que a Bíblia interprete a própria Bíblia. Por fim, destaca alguns pressupostos que devem está presente no uso teológico da Bíblia, entre eles, colocar a exegese antes dos sistemas doutrinários e não permitir que eles vá além das verdades bíblicas, e que somente o que é ensinado diretamente nas escrituras, deve ser transmitido.
O capítulo doze da inicio a quarta e última parte do livro. Nele há uma breve história da interpretação bíblica. O autor inicia falando das escolas judaicas, destacando a importâncias dos targums que e dos grupos que ajudaram a formular a hermenêutica judaica. O primeiro é representado pelo rabino Hillel que desenvolvem as sete regras de interpretação que seriam ampliadas mais tarde. O segundo forma os essênios que desenvolveram o método pesher e o último era composto pelos judeus da diáspora, representado por Philo. Já nos primeiros séculos três escolas ganham destaque: a de Alexandria, a de Antioquia e a do Ocidente. A idade média é marcada pela escola interpretação antialegorica, e representada por Lutero e Calvino. Na pós-Reforma sugiram os pietistas, que defendia a aplicação individual das Escrituras, e logo depois os racionalistas com o método histórico-crítico.
O capítulo treze traz as visões contemporâneas da interpretação bíblica, mostrando as mudanças drásticas, causadas pelo desenvolvimento da crítica literária, da filosofia e da ciência, que ela sofreu no século XX. Aqui destaca os dois principais teólogos responsáveis por essa por essa mudança, que são Karl Barth e Rudolf Butmann. A Nova Crítica defendia a tese que os textos literários, e de maneira principal os bíblicos, têm significados por si mesmo independente da intenção, de qual foi à intenção do autor, pois os mesmos são e vistos apenas como fatores históricos. E por fim, valorizavam a subjetividade da interpretação bíblia.
No penúltimo capítulo o objeto de estudo é a hermenêutica desenvolvida por Calvino. A partir de uma analise do sistema teológico por ele desenvolvido (nas As Institutas) e dos comentários, por ele escrito. O autor citando Schaff diz que “Calvino foi um gênio exegético de primeira ordem. Seus comentários são insuperáveis em termos de originalidade, profundidade, perspicácia, solidez e valor permanente...” (p. 245). Além disso, o pensamento de Calvino, mesmo o ligado a questões teológicas, é de grande valor, pois a sua base está na ênfase na soberania de Deus, e “no que diz respeito à prática exegética, a doutrina na soberania divina nos torna particularmente sensíveis ao age de Deus na história da redenção”. (p. 257).
O último capítulo é dedicado as observações finais dos autores, eles as iniciam, tratando de uma questão histórica, o significado do texto e sua aplicação na vida prática. Mostram como Agostinho lidou com ela com a sua insatisfatória proposta de atribuir três sentidos as escrituras além do literal (alegórico, tropológico e o anagógico). Porém, os autores lembram que as Escrituras podem ter aplicações diferentes em diferentes tempos, todavia o significado de texto é único, e o deve permanecer assim. Por fim, Kaiser e Silva falam da importância de saber identificar, interpretar e aplicar, de forma correta, os princípios gerais contidos nas Escrituras e cuidado de não aplicar o que é particular de forma universal.
Todos os capítulos terminam com uma conclusão útil que, além de recapitular em linhas gerais o que foi analisado anteriormente, sintetiza as principais idéias. O livro é claro e os autores escrevem de maneira didática e atrativa. É uma leitura indispensável para todos os leitores e intérpretes das Escrituras sagrada. E a todos estudiosos da Bíblia, este é um livro que não pode faltar na biblioteca.
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