Resenha
Resenha
Jailson Jesus dos Santos
TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. Tradução de Jaci Maraschin. São Paulo: ASTE, 1988. P. 18 – 144.
Uma das maiores necessidades dos teólogos e historiadores contemporâneos é entender como aconteceu o desenvolvimento do pensamento protestante, bem como os pressupostos básicos de sua fundamentação teológica. O livro “História do Pensamento Cristão” de Paul Tillich, aqui resenhado, nos ajudará a entender os movimentos centrais e mais dramáticos da teologia protestante e nos auxiliará aquisição de uma capacidade de reflexão teológica, que será base para compreender o desenvolvimento teológico no decorre da história e suas implicações para as praticas da atualidade cristã.
Resenha
Jailson Jesus dos Santos
TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. Tradução de Jaci Maraschin. São Paulo: ASTE, 1988. P. 18 – 144.
Uma das maiores necessidades dos teólogos e historiadores contemporâneos é entender como aconteceu o desenvolvimento do pensamento protestante, bem como os pressupostos básicos de sua fundamentação teológica. O livro “História do Pensamento Cristão” de Paul Tillich, aqui resenhado, nos ajudará a entender os movimentos centrais e mais dramáticos da teologia protestante e nos auxiliará aquisição de uma capacidade de reflexão teológica, que será base para compreender o desenvolvimento teológico no decorre da história e suas implicações para as praticas da atualidade cristã.
Paul Tillich ( 1886 - 1965) é um grande erudito nesta área. Estudou filosofia e teologia e doutorou-se em filosofia, e foi professor do Union Theological Seminary por anos. Tillich foi um alemão que viveu nos Estados Unidos. Teólogo e filósofo de linha existencialista, ele foi, juntamente com seus contemporâneos Rudolf Bultmann (Alemanha), Karl Barth (Suíça), e Reinhold Niebuhr (Estados Unidos), um dos quatro mais influentes teólogos protestantes do século XX. Entre a população geral, ele é mais conhecido por suas obras “A coragem de ser” (1952) e “Dinâmica da Fé” (1957), que apresenta questões de teologia e cultura moderna para um público alargado. Teologicamente, ele é mais conhecido por seu trabalho na área de Teologia Sistemática (1951-63), no qual ele desenvolveu seu "método de correspondência", uma abordagem de explorar os símbolos cristãos da revelação como respostas para os problemas da existência humana suscitada, por uma análise filosófica contemporânea e existencialista .
O livro “História do Pensamento Cristão” de Paul Tillich é uma obra para acadêmicos que desejam saber como se desenvolveu o pensamento cristão no decorre da História de maneira profunda e sistemática. A proposta principal da obra é mostrar o poder da história para o entendimento das verdades teológicas e como estas verdades foram desenvolvidas dela. Através do método dedutivo, Tillich, aborda o assunto proposto de forma didática, e, dentro de uma seqüência sistemática (seu ponto forte) e lógica, trata dos temas propostos grande com profundidade mostrando um vasto conhecimento histórico e teológico, e uma grande habilidade de articulação. O autor não faz conclusões pessoais de forma sistemática ao finalizar cada capitulo. Todavia suas conclusões e convicções religiosas estão implícitas em todo o seu texto. Apesar de seus pressupostos serem liberais, Tillich é de certa maneira passivo quando aborda as questões nos assuntos tratados. A obra é fruto das aulas de Tillich no Union Theological Seminary, e divida em capítulos, os quais trazem os principais pensamentos e os mais importantes representantes deles. Na presente resenha trataremos apenas da introdução e dos dois primeiros capítulos.
A introdução poderia ser um capítulo a parte. Nela Tillich tratado conceito de dogma, o qual definir, e em seguida diz ser sinônimo de doutrina cristã especificas. Que são doutrinas protetoras da fé cristã, os quais com o passar do tempo passaram a serem “leis” eclesiásticas. Para ele a teologia ela era uma dogma de idéias simbólicas. Nesta parte ficam claros seus pressupostos liberais e existencialistas.
No primeiro capítulo o objeto de estudo é a preparação para o cristianismo, onde mostra os aspectos que contribuíram para a vinda de Cristo, destacando que ele veio no tempo Kairos, onde a o império romano era o poder universal em todo mundo antigo e a filosofia grega exercia grande influência. Destacando como o pensamento helênico por meio da nova filosofia cética, e a tradição platônica, cridas e divulgadas por grupos como estóicos, epicureos e os “ecléticos” contribuiu para a chegada de Cristo e as discussões teológicas que apareceriam posteriormente. Na seqüência aborda o período intermediário, o qual foi marcado pelo pensamento helênico e que teve grande influência na vida da igreja e na teologia da era apostólica. Além disso, a religião de mistério com seus deuses e aspectos místicos e esotéricos, também exerceu grande influência no culto e teologia cristã deste período. O autor finaliza da metodologia usada pelos autores dos documentos do Novo Testamento, mostrando como foi a sua recepção e como eles usaram termos conhecidos da época sem perder a essência do cristianismo.
O capítulo dois é um dos mais extensos da obra. Nele Tillich descore sobre o desenvolvimento teológico na igreja antiga. De início fala dos pais apostólicos, Inácio de Antioquia, Clemente, e seus primeiros escritos pós-bíblicos. As principais doutrinas discutidas neste período foi à unicidade da trindade, a criação como obra da economia da trindade, a providência na criação e na salvação e a cristólogia.
Na seqüência fala do movimento apologético, que defendia a fé cristã das influências imperiais e filosóficas e respondia as questões centrais do cristianismo. Destaca que Justino Mártir foi o um dos maiores apologista, neste tempo em que a teologia era conhecida como uma maneira de pensar filosoficamente. O autor mostra ainda que um dos maiores objetos de estudo desse período era a pessoa de Deus e o logos. Para os apologistas a idéia de Deus é a do Antigo Testamento. Um Deus criador e todo poderoso e possuidor do poder que governa todas as coisas. O logos que estava na eternidade, e que foi encarnado no tempo é a principal auto-manifestação de Pai, o qual é uma pessoa distinta e único medidor entre Deus e o homem.
Logo a seguir, expõe sobre a maior ameaça que o cristianismo sofreu nesta época: o gnosticismo. Sistema que misturava idéias filosóficas, crenças judaicas e cristãs. O qual acreditava no dualismo helênico da matéria (que era má) e do corpo (que era bom), e que a salvação se dava por meio do “gnósis” e o grande salvador é “aeon”. Foi uma grande tentação para o cristianismo, mas os apologistas lutaram veemente contra eles, e conseguiu expeli-los da igreja. Os pais antignósticos tiveram como base de sua defesa a doutrina do logos. Neste período três pais foram de grande importância. Irineu, Tertuliano, Hipólito. Contra essas idéias gnóticas estes pais desenvolveram um impressionante sistema de autoridade (a Bíblia, a tradição apostólica, credos, e bispos) que serviu como escudo da igreja. Pouco depois surgiram os motanistas reação do “Espírito” liderada por Montanus. Estes acreditavam que o Espírito havia sido suprimido pela igreja organizada. Todavia a igreja excluiu o montanista de seu seio, mas suas idéias ficaram presente em toda a história da igreja.
Para Tillich, outra tese defendida pelos pais apologistas foi a de um Deus tiuno e criador de tudo e todos a partir do nada, sendo a causa não causada de todas as coisas. E que dentre suas criaturas se encontra o homem, que por sua vez foi criado perfeito e a imagem e semelhança de Deus. Quanto à história da salvação ela se dava por quatro alianças: a da criação; a da pós-queda; da lei em Cristo; e a quarta do paracleto, com Tertuliano que era montanista. No que se refere a trindade e a cristologia dois nomes ganham destaque Tertuliano e Irineu. Tertuliano criou uma fórmula para expressa a trindade e a cristologia. Na primeira, ele introduziu os termos “trinitas” e “economia”. Na segunda, fala de Cristo como uma ‘persona” distinta das demais pessoa da trindade. Já Irineu falava da salvação em termos de regeneração mística para a moralidade. Já sacramento do batismo era o mais importante desta época, e tinham dois sentidos: lavagem dos pecados e recepção do Espírito.
Os pais deste período também enfrentaram a filosofia neoplatônica, que era caracterizada por um sistema que unia idéias filosóficas e religiosas ao mesmo tempo. Ele expressava a as inspirações do mundo por uma nova religião. Os grandes teólogos alexandrinos, Clemente e Origines, enfrentaram o desafio do neoplatonismo e utilizaram seus conceitos para expressar o cristianismo. Além disso, o neoplatonismo influenciou, por meio de Dionísio Areopagita, todas as formas de misticismo cristão e a maior parte das formas da teologia cristã clássica. Este sistema neoplatonico se desenvolveu em Alexandria. Orígenes foi principal teólogo da escola de Alexandria e Clemente o grande mestre. Ambos fizeram uma síntese entre o pensamento cristão e a filosofia grega. Neste período o povo, que não estava interessado em especulações cosmológicas, viu no monarquismo (“monarchia” - governo de um só) um meio de expressa suas idéias. Para eles o único ser divino era Deus e o Logos um deus secundário. Os principais pensadores do monarquismo dinâmico e modalista foram Paulo de Samosata, bispo de Antioquia e Sabélio, que foi um dos grandes líderes do modalista.
Outro dado importante que o autor aborda é a controvérsia trinitária que se deu depois da divisão da escola de Orígenes, por falta de unidade de pensamento, quanto às questões das pessoas da trindade. Esta s divergências teológicas abriu espaço para o arianismo que negava a divindade suprema de Jesus Cristo. Segundo esse grupo o Filho de Deus, segunda pessoa da Trindade, não tem a mesma essência do Pai, sendo uma divindade de segunda ordem. Atanásio foi o grande opositor das idéias de Ário. Os ensinamentos de Ário foram condenados no primeiro Concílio de Nicéia, onde se redigiu um credo estabelecendo que o Filho de Deus foi “concebido e não feito”, consubstancial ao Pai. O principal defensor das decisões de Nicéia foi Atanásio, grande personalidade religiosa e de convicção inabalável. Um dos principais apoiadores de Atanásio chamava-se Marcelo, o qual introduziu o pensamento monárquico no debate, e que foi morto pelos teólogos mais fies de Orígenes.
Essas controvérsias sobre a trindade e a pessoa de Cristo criaram um problema cristológico. Que seria discutido pelas teologias antioquena e alexandrina. O pensamento religioso de Alexandria centralizava-se no problema da salvação por meio do Cristo encarnado. A escola de Antioquia, do teólogo Teodoro de Mopsuestia, oponha-se a teologia alexandrina e desevolveu um pensamento que fez dela a predecessora da ênfase teológica moderna no Jesus histórico. O concílio de Calcedônia (451) procura resolver as questões levantadas pelas teologias alexandrina e antioquena. Uma das pessoas importantes para que esse concílio acontecesse foi o papa Leão I., e o assunto tratado nele foi a humanidade e a divindade de Cristo. A questão de uma natureza ou duas. A conclusão aceita foi que existir “duas naturezas em uma só pessoa”. A fórmula Calcedônia foi em parte nega ou deixada de lado. Depois do cisma entre Oriente e Ocidente ela foi mantida apenas pelo Ocidente.
Tillich expõe na seqüência o pensamento teológico dos dois primeiros pensadores do Ocidente: Tertuliano e Cipriano. O primeiro lida com o paradoxo da morte e ressurreição de Cristo cunha a idéia de credo quia absurdum est (creio porque é absurdo) e que o caminho da graça passava pela auto-negação da própria realidade virtual. Cipriano de igual modo exerceu grande influência na doutrina da igreja. Pregava não haver salvação fora da igreja, que por sua vez estava edificada sobre o episcopado; que o bispo era o sacerdote e que a união da igreja dependia da união deles.
O autor finaliza o segundo capítulo falando sobre a vida e o pensamento de Agostinho (354 – 430), mostrando que bebeu muito da filosofia clássica, principalmente de Platão. Compartilhou dos pensamentos dos maniqueus e depois frustrado caiu no ceticismo, mas que ao cristianismo. Segundo Tillich a epistemologia de Agostinho era marcada pelo desejo de conhecer Deus e a alma. Quanto à doutrina do homem, entedia que a função mais importante no homem era vontade, para ele “afirmamos o que somos pelo que conhecemos e fazemos”. Já sua filosofia da história baseava-se em um dualismo ontológico. Tillich trata ainda, de uma das questões mais importantes na vida de Agostinho: a controvérsia pelagiana, onde mostra que o grande motivo dessa subversão a idéia de pecado e liberdade humana. Agostinho que Adão era livre para não cai, mas quando caiu esse pecado original tornou-se hereditário e universal. Ainda, que com a queda o homem perdeu a possibilidade de voltar a traz, e sendo assim, só se chegara a Deus os predestinados que são chamados irresistivelmente. Com essas idéias o pelagianismo foi rejeitado, todavia as idéias de Agostinho não foram aceitas de modo geral pela igreja. Por fim, Tillich mostra que a base da doutrina pratica de Agostinho era a santidade e correta administração dos sacramentos na igreja.
A obra é um excelente texto, e sua leitura da foi bem produtiva, pois, de maneira clara e profunda foi possível conhecer a formulação do pensamento teológico dos períodos iniciais da História da Igreja, bem como, seus principais personagens e acima de tudo suas implicações práticas para se entender o as questões teológicas e históricas atuais. A grande contribuição da obra é apresentar a História da igreja dentro de uma perspectiva teológica e de forma sistemática. A maioria das obras nesta matéria normalmente aborda com mais profundidade os aspectos história, por isso, a abordagem teológica da obra aqui resenha é um grande diferencial das demais. Na obra fica claro o propósito era trazer de forma sistemática o desenvolvimento de pensamento da História cristã no decorre dos séculos, e o autor faz isso com eficiência e clareza. Entretanto, ele faz isso fazendo uso de seus pressupostos liberais e existencialistas. Tillich ainda analisa o pensamento histórico de maneira fragmentada e unilateral. A obra deixou a desejar também ao escrever capítulos longos e ter alguns erros de português. Finalmente a obra é indicada para todos estudiosos e interessados em descobrir como foram formadas as ideologias dogmáticas da Igreja Cristã. É uma ótima ferramenta para o entendimento da matéria e um livro que não pode faltar na biblioteca.
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