Resenha
Resenha
Jailson Jesus dos Santos
NICHOLS, Robert H. História da Igreja Cristã. Tradução de J. Maurício Waderley 13. ed. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 2008. 335 p.
O homem sempre sentiu a necessidade de compreender as questões que envolvem sua vida, e, seu passado lhe fornece muitas informações para tal entendimento. Porém, muitas pessoas não consideram a História como sendo algo importante e relevante. O adágio popular expressar essa realidade quando afirma que “quem vive de passado é museu”. Todavia história é de grande importância para a vida humana. Tennysou em seu poema Ulysses, nos relembra que “somos uma parte de tudo que encontramos”. Por isso a História não apenas nos informa de fatos passados, como também nos ajuda a entender o presente sem cometer os erros do passado e está preparado para os desafios do futuro.
Rev. Robert Hastings Nichols tem de formação reformada. É Doutor em Divindade e foi professor de História da Igreja no (Seminário Teológico da União) de 1913-1944. Seu pai, o Rev. Dr. GP Nichols, foi o pastor de uma próspera congregação Presbiteriana em Milwaukee. Nichols é autor além do livro aqui resenhado, de “Growth of the Christian Church” (Crescimento da Igreja Cristã volumes I e II) e “Presbyterianism in New York State: A history of the Synod and its predecessors (Presbyterian Historical Society. Studies in Presbyterian history)” (Presbiterianismo em Nova Iorque Estado: Uma história do Sínodo e dos seus predecessores. Estudos em Presbiteriana história). Sendo o primeiro também já trazido para nossa língua.
O livro “História da Igreja Cristã” de Robert Hastings Nichols é uma obra para acadêmicos e leigos que desejam conhecer a história da igreja de maneira clara e sucinta. A proposta principal da obra é mostrar que durante todo o desenvolvimento da História da Igreja Deus está sempre operando em favor da salvação do ser humano, o que o faz o autor da História. Através do método dedutivo, Nichols aborda o assunto proposto de forma didática e dentro de uma seqüência sistemática e lógica, trata do tema com grande clareza mostrando um vasto conhecimento do assunto e um grande poder de síntese. O autor não faz conclusões pessoais de forma sistemática ao finalizar cada capitulo, nem no final do livro. Suas conclusões estão tácitas em todo o seu texto, mas mesmo assim revela a convicção de que Deus é o Senhor da História. A obra é divida em capítulos, os quais trazem uma síntese dos períodos históricos.
No capítulo primeiro o autor aborda como o mundo foi preparado para o cristianismo, e a contribuição que os Romanos, os Gregos e os Judeus deram para que Cristo viesse na plenitude dos tempos. Os romanos contribuíram com a unificação dos povos, com a pacificação universal e a construção de estradas que permitia o intercâmbio entre os povos. A contribuição dos gregos se deu com helenização, a qual fez com que tanto a língua, grego koiné, quanto à cultura grega, pensamento filosófico, se tornasse universais, assim criasse um ambiente único. Já os judeus preparam o caminho, preservando e sendo mordomos da esperança do salvador divino, da lei que o prometia, e divulgando estas verdades a todos os povos por meio da diáspora. Por fim o autor mostra-nos como se tornou o mundo ao surgir o cristianismo, onde analisa as condições religiosas, onde vemos o declínio da velha religião clássica, acessão da religião romana, e a curiosidade e anseio religioso. As condições intelectuais, que estava em crise e gerando insatisfação e desespero, por que o movimento filosófico havia chegado ao fim. E as condições morais, que era caracterizada pela baixa moral.
No segundo capítulo o objeto de estudo é o 1° século, onde analisa duas coisas. A primeira, Jesus e sua igreja, onde mostra como Ele se relacionou com as multidões e seus discípulos e como ele fundou a igreja com esses mesmos discípulos que o seguia. A segunda a igreja apostólica até o ano 100 dC. Mostrando que foi após o pentecoste que começou a vida ativa desta igreja, e quer em seguida, após ser proclamada aos judeus e a perseguição ser iniciada, a mensagem desta igreja de Cristo se estendeu por todo o mundo tornando conhecida universalmente. Em seguida, Nichols mostra que a vida da igreja era caracterizada pelo amor fraternal, por um zelo e pureza moral e de uma alegria que se baseava em uma confiança e esperança na segunda vinda de Cristo. Ainda, que os cultos dessa igreja eram realizados nas casas onde os cristãos por meio de hinos e orações louvavam a Deus e edificavam mutuamente. Que a crença da igreja tinha sua base em seus próprios credos, mas mesmo assim alguns se deixaram leva-se pelos erros dos judaizantes e dos gnoticismo. Por fim, mostra-nos que as igrejas eram independentes umas das outras.
O terceiro capítulo da inicio a primeira parte da igreja antiga (100 – 313 dC.). Nele Nichols, mostra que o mundo que a igreja vivia era governado pelo império romano. E que este império com o tempo entrou em uma grande decadência devido a causas internas, imoralidade e maus governantes, e causas externas, avanço dos bárbaros e divisões. No que diz respeito à igreja este período foi de expansão na sociedade da mesma, que se deu através dos missionários, apologistas, como Justino e Tetuliano, mestres, como Origines e cristãos comuns. O autor mostra-nos ainda que com Nero (54 – 68) a perseguição contra os cristãos aumentou, e que ora era intensificada e ora abrandada chegando ao seu “fim” em 331 com o Edito de Milão, de Constantino. Nestes séculos a igreja mantinha uma boa vida moral, mas enfrentava duas tendências o asceticismo e o legalismo. Além das influências gnosticas que se acentuaram. Por fim, escreve que a organização eclesiástica da igreja era de inicio de igrejas locais, mas que logo depois se tornou católica e passou a ter um só governo e a distingue clero e leigo.
O quarto capítulo é a segunda parte da igreja antiga. Aqui o autor mostra-nos o contexto no qual a igreja vivia. Destacando a continuação do declínio do império romano e o avanço dos bárbaros germanos, que levou a queda do mesmo em 476 dC. Em seguida fala sobre a extensão do cristianismo tanto no território romano, como conseqüência dos benefícios alcançados com Constantino e posteriormente com o favor imperial que o tornou religião do império, como fora dele em se espalhando assim por todo o mundo. Também, que este avanço trouxe um declínio moral, o que levou muitos fieis a aceita as idéias do monarquismo, que pregava a separação do mundo e abnegação. Neste período vários mosteiros foram fundados em todo mundo. Também, o debate sobre a pessoa de Cristo, passou a ser o ponto central, o que levou a igreja a se reunir em concílio, em Nicéia para dá uma resposta. Em seguida fala da importância de Jerônimo (340 – 420), que traduziu a bíblia para latim (vulgata) e de Agostinho um dos maiores pensadores desta época e de toda a História da igreja. Por fim, Nichols escreve como era o culto, depois da ênfase pagã na eucaristia, mariolatria, e de como depois de se tornar católica e engrandecer o bispo de Roma a ponto de se torna “papa” ela se dividiu.
O quinto capítulo, da inicio a primeira parte da igreja no início da idade média. (590 – 1073 dC.). Nele o autor mostra-nos que o contexto em que a igreja vivia Europa ocidental, estava passando por um período de guerras, anarquias e avanços mulçumanos. E que depois de muitos anos surgiu um dos grandes construtores de civilização, o rei dos fracos Calos Magno, que por prestar muitos auxílios aos papas e as igreja, foi coroado Imperador pelo papa Leão III. Razão pela qual a igreja era o principal poder político dessa época. Robert mostra ainda, que neste período o cristianismo expandiu-se através das missões romanas e escocesas, e ocupou vários territórios em vários paises da Europa, tanto de forma pacifica, como por força como na Rússia. E que os mosteiros tiveram papel importante nesta missão. Finaliza enfatizando dois fatos importantes neste período: o grande poder da igreja de Roma de seu papa Gregório I, que governava soberano e exercia justiça por vários meios, inclusive falsas decretais, e a divisão da igreja católica em dois ramos, o do Oriente e o do Ocidente. Que aconteceu por causa da diferença de etnia, de governo e da pretensão papal.
O capítulo sexto, traz a segunda parte da igreja no início da idade média, (590 – 1073 d.C.). Onde o autor mostra a luta do cristianismo com o paganismo interno, que havia entrado na no mesmo por causa do decreto imperial que o tornou a religião da moda, que aceitava a todos a despeito de serem convertidos. O que levou a igreja a um declínio moral, principalmente no clero era corrupto e praticava a simonia. A corrupção externa chegou aos mosteiros também. Esse paganismo alcançou a liturgia da igreja que passou a cultuar a Maria, a outros deuses, às relíquias e a da a missa o lugar central do culto. Como reação a este paganismo apareceu no século XI um reavivamento religioso, que trouxe um despertamento intelectual e espiritual e uma reforma moral, que foi liderada pelos reformistas com três propósitos: abolir a simonia, manter o celibato clerical e trazer pureza a vida do clero. Entre esses reformistas o principal nome foi Hildebrando. Por fim, Nichols lembra-nos que este período foi marcado pelas disputas teologia sobre a pessoa de Cristo (Concílio de Calcedônia) e que enquanto a igreja se apegava a isso, os muçulmanos conquistavam territórios, o que trouxe um declínio para a igreja cristã, que só retomaria seu espaço com o reavivamento no IX século.
O objetivo de estudo do sétimo capítulo é a igreja no apogeu da idade média (1073 – 1294 d.C.), Nichols aborda o papado medieval, destacando Hildebrando e Inocêncio III. Segundo ele Hildebrando buscou duas coisas: A primeira, livrar a Igreja do controle do mundo exterior, o que o levou a lutar contra os principais reis e imperadores, como Henrique IV. E segundo tornar a igreja senhora suprema do universo, dando o poder absoluto e mundial. Inocêncio III (1198 – 1216) deu continuidade ao plano de Hildebrando e levou à igreja a governar politicamente a Europa Ocidental e a chegar culminância do poder. Colocava-se entre “Deus e os homens” e o que tinha o poder da justiça. Conseqüentemente o cristianismo se espalhou por toda a grande parte da Europa e travou uma grande guerra contra o islamismo através das cruzadas. Que eram realizadas por causa do desejo de conquistar a terra santa, frear o avanço islâmico, espírito de cavalaria e desejo de lutar que por algo que julgavam honroso. Tudo isso levou a igreja a fazer varias cruzadas, até mesmo infantis, algumas bem sucedidas outras não, mas que no geral trouxeram alguns resultados: fortalecimento do sentimento religioso, poder do papado e espírito de intolerância.
No capítulo oitavo, o autor trata da segunda parte da igreja no apogeu da idade media. Onde mostra como a igreja governava o mundo Ocidental desta época. Quanto aos bens matérias a igreja era possuidora de muitas propriedades e de varias fontes de renda. Mas, que apesar de não investir a quantidade que devia, investia também em instituições de caridade. Diz na seqüência que a igreja era organizada em poderes hierárquicos, sendo o papa autoridade máxima, e abaixo dele os arcebispos, bispos e párocos. Que, além disso, havia as ordens monásticas que contribuíam com: a literatura, escolas e os hospitais. Mas, que sempre estavam envolvidos com corrupções. Nichols fala ainda, da disciplina e lei da igreja romana neste período, para manter a moral do povo. O qual tinha que se confessar ao sacerdote, e pagar penitência para obter a absolvição do pecado. Que também poderia se conquistado depois da morte com o purgatório e indulgência. Quanto aos que não obedeciam estas leis ou disciplinas sofria a pena de excomunhão. Os grupos, como cataristas e valdenses, que questionavam tais leis sofriam com a inquisição, que os considerava “hereges”, e mesmo sendo inocentes e indefesos eram condenados. No que se refere ao culto, o cristianismo seguia ideologia anterior com cultos a santos tendo a ministração dos sete sacramentos lugar central e a igreja como mediadora entre Deus e o homem.
O nono capítulo é o enceramento da igreja no apogeu da idade media, onde o autor mostra como era igreja do ocidente nesta época. Começa destacando o a influência religiosa governamental que a igreja exercia sobre o mundo ocidente, por meio de seus lideres, como Bernardo de Claraval, Domingos e Francisco de Assis. Bernardo (1090- 1153) exercia influência não apenas sobre os monges e os que o rodeava, mas também sobre grande parte da Europa, onde exercia a função de conselheiro e mentor espiritual. Domingos (1170- 1221), não muito depois de Bernardo, organizou a ordem dominicana que tinha o propósito de pregar e ensinar o povo por vários paises da Europa. Francisco de Assis (1182- 1226), um dos mais amados da igreja cristã, era um pregador humilde, que fundou a ordem da fraternidade com o propósito de servir ao próximo com alegria, e, assim suprir suas necessidades. Sua ordem marcada pelo zelo cristão se espalhou por toda a parte. Além disso, este período foi marcado por um cristianismo de medo e por uma fé supersticiosa. O povo tinha medo da igreja e uma fé baseada em crendices, originadas no paganismo. Todavia, apesar disso havia muitos dos remanescestes fiéis neste período. Nichols finaliza o capitulo mostrando como era a igreja o culto, a pregação, as cerimônias, missões e o desenvolvimento da igreja Oriental neste período.
O décimo capítulo trata de um período de transição: a decadência e a renovação na igreja Ocidental (1294 – 1517 d.C.). De inicio o autor fala das condições políticas deste período que era marcada pelo espírito nacionalista. Em seguida lista as principais falhas da igreja que as levou a decadência, que segundo ele são: a corrupção do clero, que era motivada pelo egoísmo, imoralidade e avareza; a degradação da religião, a igreja substituiu o evangelho por ritos; o povo abandonado, não havia assistência pastoral. Em protesto a essas práticas, grupos como “Petrobrussiano”, os cataristas, os valdenses e os “irmãos”, se levantaram contra a igreja e ensentivava os fiéis a saírem da católica e migrarem para eles. Na seqüência Nichols fala de como se deu a queda do papado, que teve seu inicio com Bonifácio VIII, que foi preso por Filipe Rei da França, e humilhantemente viu seu poder desmorona e passa para ele. E depois passar por um grande cisma, aponte de se ter três papas governando, cada um distintamente. Além da crise papal, houve grandes revoltas dentro da igreja. A primeira liderada por João Wycliff, tratutor da vulgata para língua inglesa, que resistiu a interferência papal nos negócios da igreja inglesa; e outra liderada por João Huss, seguindo o pensamento de Wycliff não se submeteu as ordens da igreja, e como conseqüência disso depois de excomungado, morreu como mártir. Com o caminho aberto de inicio as tentativas de reforma dentro da igreja, como resposta ao anseio popular e por meio dos concílios reformistas: como o de Pisa, de Constança e de Basiléia. Além disso, a renascença, (com suas descobertas e suas invenções, como a imprensa), o despertamento cultual e político, e por fim, inquietação social, preparou o caminho para a reforma na Europa.
A leitura da obra foi bem produtiva, pois, de maneira rápida e clara foi possível conhecer os principais períodos da História da Igreja, seus principais personagens e acima de tudo suas implicações práticas para se entender o presente mundo que vivemos e evitar a repetição no futuro dos erros do passado. A grande contribuição da obra é apresentar a História da igreja de maneira clara e concisa, o que a torna uma grande fonte de consulta rápida. É de conhecimento de muitos que nem todas as obras na área histórica são assim. Muitas são exaustivas, enfadonhas e ambíguas, porém a que aqui foi resenhada é simples e direta. Na obra fica claro o propósito era trazer de forma sintética a História da Igreja e ele faz isso com eficiência e clareza. Porém, creio que ele deixou a desejar ao não trazer conclusão pessoal no final de cada capítulo e por não ter uma introdução que explique o seu propósito ao escrever o livro. Todavia, essas observações não tiram o mérito da obra. Sendo assim, a obra é indicada para todos aqueles desejam conhecer a História da Igreja de maneira resumida e cristalina, e será uma ótima ferramenta para o entendimento da matéria. Por isso, para todos estudiosos e interessados da História da Igreja Cristã, este é um livro que não pode faltar na biblioteca.
Muito obrigado por esta Resenha, acabou com minhas dúvidas se comprava ou não esse livro. Comprarei.
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