Conclusão do livro "Origens intelectuais da Reforma". Alister E. McGrath
Uma das maiores necessidades dos teólogos e historiadores contemporâneos é entender como aconteceu o desenvolvimento do pensamento protestante, bem como os pressupostos básicos que o fundamentou. No livro “Origens intelectuais da Reforma” Alister E. McGrath, nos ajuda a entender o desenvolvimento dos movimentos centrais e mais dramáticos da formação do pensamento reformado que herdamos, bem como suas implicações para as práticas da atualidade cristã.
Conclusão do livro “Origens intelectuais da Reforma”. Alister E. McGrath
Sobre o autor:
O ex-ateu Alister McGrath é professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e pesquisador sênior do Harris Manchester College. Possui doutorados em biofísica molecular e em teologia pela Oxford. Seu interesse principal se concentra na história do pensamento cristão, com ênfase particular na relação entre as ciências naturais e a fé cristã. [1]
Esta é a razão pela qual, uma das maiores necessidades dos teólogos e historiadores contemporâneos é entender como aconteceu o desenvolvimento do pensamento protestante, bem como os pressupostos básicos que o fundamentou. No livro “Origens intelectuais da Reforma” Alister E. McGrath, nos ajuda a entender o desenvolvimento dos movimentos centrais e mais dramáticos da formação do pensamento reformado que herdamos, bem como suas implicações para as práticas da atualidade cristã.
Seu recorte na história contempla o período de 1300-1600, concentrando-se no início e meados do século XVI, em uma tentativa de colocar o trabalho e a influência de Lutero, Zuínglio e Calvino no contexto teológico-intelectual do período maior. Seu grande objetivo é tentar filtrar os detalhes do pensamento e da influência dos principais pensadores e investigar as tensões principais do esforço filosófico (humanismo) e teológico que conectam o período final da idade média à Reforma. McGrath organiza o seu trabalho livremente por ordem cronológica, mas principalmente em torno das idéias que surgiram e recuaram em determinados momentos, no final da idade medieval e os períodos de reforma antecipada.
As grandes problemáticas levantadas pelo autor são: é possível falar de “origens intelectuais da Reforma”? Houve “Precursores da Reforma”? Qual a relação entre a Reforma e o Renascimento? Qual a relação entre a Reforma e as escolas de pensamento da Baixa Idade Média, especialmente a via moderna e a schola Agostiniana moderna? Para McGrath A fim de responder essas questões com qualquer grau de precisão e convicção, é necessário examinar o modo como as ideias teológicas foram desenvolvidas e analisadas no final do período medieval e também determinar até que ponto podiam ser, e foram, controladas e dirigidas tanto pela sociedade quanto pela igreja.
Para o autor, é impossível encontrar um único tema unificador que seja a razão principal da formulação do pensamento reformado. Ao contrário, este pensamento foi o resultado de uma combinação de muitas “pequenas reformas” em torno da Escolástica e do Renascimento que determinaram métodos teológicos que foram realizados neste período. Isto dá origem à complexidade da Reforma, ao invés de sua simplicidade. A Reforma não pode simplesmente resume-se numa idéia principal, mas com o intelectual das “origens” (plural) da Reforma, não a origem (singular) do “intelectual” da Reforma.
Sua tese principal é que a reforma foi:
“O movimento conhecido de modo um tanto vago como ‘Reforma’ surgiu de uma determinada matriz complexa e heterogênea de fatores sociais e ideológicos, sendo que estes últimos se encontram associados a personalidades individuais, movimentos intelectuais, escolas de pensamento e universidades, de tal modo que desafiam as generalizações crassas que constituem um número excessivo de interpretações desse fenômeno”.
O grande propósito do autor é tentar consolidar e expandir nossa compreensão das origens intelectuais da Reforma européia do século XVI. Segundo ele há um reconhecimento cada vez maior da parte dos estudiosos da Reforma. Nem os acontecimentos e nem as idéias do século XVI podem ser devidamente compreendidos a menos que sejam considerados, o ponto culminante das involuções ocorridas ao longo dos séculos XIV e XV.
Seu estudo parte do pressuposto que a Reforma representa um episódio significativo na história intelectual, institucional, social e política da Europa e que, em função de seu caráter multifacetado, pode ser encaixado dentro de vários esquemas de periodização. Ele analisa Reforma considerando-a principalmente como um fenômeno intelectual. O autor propõe uma investigação e interpretação da relação entre as duas alas da Reforma e os dois grandes movimentos intelectuais do final do período medieval, o Escolasticismo e o Humanismo, visando esclarecer as origens intelectuais da Reforma na Europa.
Segundo autor, a conclusão mais fundamental desta analise diz respeito à necessidade de reconhecer a complexidade e heterogeneidade das origens das ideias subjacentes à Reforma. Qualquer tentativa de adotar uma abordagem reducionista à esse fenômeno histórico extraordinário, pode ter como único resultado uma compreensão equivocada de sua natureza e importância. Por isso, faz-se necessário observar que o caráter heterogêneo da Reforma é visto de modo mais adequado ao se considerar a relação de seus elementos com o Escolasticismo e o Humanismo; a diversidade doutrinária inerente ao final do período medieval; refere à natureza distinta da Teologia na Baixa Idade Média. Por isso, ele conclui que “se existem "precursores da Reforma", estes não devem ser identificados com indivíduos específicos dentro da igreja do final do período medieval, mas com tendências dentro da igreja como um todo nesse período”.
Além disso, a heterogeneidade dos métodos teológicos subjacentes da Reforma deu origem a divergências correspondentes com relação às suas ideias teológicas. O exemplo mais óbvio desse fato é a discordância fundamental entre os reformadores de Wittemberg e os de Zurique a respeito da doutrina da justificação pela fé. Essa foi à razão pela qual na segunda fase da Reforma visava à consolidação dos interesses possivelmente divergentes de Lutero e Zwinglio.
McGrath é convincente em seu argumento de que não existe uma “origem”, mas sim “origens” da Reforma. Fica claro que o seu é que a mesma foi fruto de pequenas reformas que ocorreram durante o período de 1300-1600. Ela não foi uma ruptura brusca com a tradição intelectual anterior da igreja, como alguns querem acreditar. Da mesma forma razoável é sua afirmação de que a Reforma teve o que precisava, da Renascença e erudição humanista, Ela dependeu do humanismo para o seu cunho social, as reformas moral.
A leitura da obra foi bem produtiva, pois, de maneira rápida e clara foi possível conhecer as principais correntes filosóficas e teológicas que influenciaram na formulação do pensamento reformado que herdamos. A grande contribuição da obra é apresentar a História do pensamento cristão de maneira clara e concisa, o que a torna uma grande fonte de consulta rápida. Na obra fica claro o propósito era trazer de forma sintética a história do pensamento, e ele faz isso com eficiência e clareza. Apesar de ser um livro fortemente acadêmico e rigoroso, é escrito em uma linguagem acessível e esclarece muito o tema da Reforma. De modo algum a monografia de McGrath esgota o tema, mas certamente nos leva a pensar mais sobre esse movimento que herdamos e seguimos. É uma ótima ferramenta para o entendimento da matéria e um livro que não pode faltar na biblioteca.
[1] Dados disponíveis em: <http://www.mundocristao.com.br/autordet.asp?cod_autor=171> Acessado em: 20 de setembro de 2009
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