Teologia dos reformadores.
GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. Tradução de Gérson Dudus, Valéria Fontana. São Paulo: Vida Nova, 2006.
Conclusão pessoal
Timothy George [1] em “Teologia dos reformadores”, nos mostra quais foram os princípios teológicos que fundamentaram esta resposta. A proposta de George é abordar as discussões doutrinárias do século XVI, que marcaram a história do cristianismo. [2] Segundo ele seu “interesse na teologia dos reformadores não é nem um interesse por antigualhas, nem obscurantista. Teologia histórica é o estudo daquilo em que ‘a igreja de Jesus Cristo crê, [o que] confessa e ensina com base na Palavra de Deus’”. [3]
O livro tem seu teor apresentado a partir de quatro nomes importantes da reforma, que são divididos em dois grupos. Os da primeira geração: Matinho Lutero e Ulrich Zuínglio; e os da segunda geração: João Calvino e Menno Simons. Os quais ele diz ser “tanto nossos pais na fé quanto nossos irmãos na comunidade dos fiéis”.[4]
George analisa cada um dos reformadores dentro de seu contexto social, econômico e político. Ele mostra que, de maneira geral que os dias pré-reforma eram caracterizados por violência e intolerância. E que, além disso, no período da denominada Baixa Idade Média, véspera da Reforma, a realidade da morte era algo muito marcante e que consequentemente, tudo o que podia assegurar uma boa vida com Deus era bem enfatizado: indulgências, peregrinações, relíquias, rezas repetidas. E segundo ele tudo isto foi preparando o caminho para a Reforma.
Outro aspecto importante levantado pelo autor é que antes mesmo da Reforma propriamente dita, outras coisas aconteceram como buscas pela verdadeira igreja. Houve o Curialismo e o Conciliarismo e também os pré-reformadores João Wycliffe e de João Hus que não se aproximaram tanto das doutrinas dos reformadores, mas as contribuições eclesiológicas e a ênfase nas Escrituras foram elementos importantes para a Reforma.
Uma das teses fundamentais do autor é que a reforma foi uma voltar à Bíblia e à igreja primitiva a fim de abordar a crise espiritual de seus dias. Ela não foi uma revolta ou rebelião contra a igreja, mas a volta aos seus princípios anteriores. O D. Martin Lloyd-Jones, comentando sobre a Reforma Protestante, diz que: “A maior lição que a Reforma tem a nos ensinar é, justamente, o segredo do sucesso na esfera da igreja e das coisas do Espírito Santo, é olhar para traz”. Lutero e Calvino, diz ele: “foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecida”.[5] (Grifo meu).
Por outro lado ele mostra que os reformadores não repetiram simplesmente os dogmas clássicos do período patrístico. Eles consideraram necessário estendê-los e aplicá-los ao âmbito da soteriologia e da eclesiologia de sua época. Eles estavam mais preocupados com a obra de Cristo do que com a pessoa de Cristo. “As doutrinas reformadas da justificação e da eleição não apenas são inconcebíveis à parte da base do consenso trinitário e cristológico, próprio da igreja primitiva, mas também constituem o resultado e a aplicação necessários de tal consenso”.[6] Diz ele.
George buscou a neutralidade, o que faz dessa obra algo bastante interessante. Apesar de ser reformado ele não nega os erros dos pensadores reformados. Ele mostra os pontos fracos, os anseios e lutas destes grandes homens da história eclesiástica. O livro não se propõe em analisar cegamente os quatros personagens. Também cada reformador que é tratado de forma especial. O livro também nos faz pensar sobre as diferenças doutrinárias entre os reformadores. Suas convergências e divergências são tratadas de forma clara e honesta. De modo que podemos aprender até mesmo com os erros de cada um deles.
Finalmente o autor leva-nos a pensar em algumas questões. Em primeiro lugar, repensar influência e importância da reforma na formação das grandes culturas. A reforma foi além das fronteiras eclesiásticas. Sua transformação foi global. Segundo Clouse não há como a igreja viver no mundo sem que ela seja influênciada por ele, ou o enfluencie. Isso alerta-nos para o fato que, a única maneira de mudarmos o epírito da nossa época é exercendo uma forte influência através da proclamação entendível da Palavra de Deus e uma manisfestação visivel da mesma na vida de quem a proclama, como fezeram os reformados. Todavia, isso só será possivel, assim como foi para os reformados, comprendermos o espírito da nossa época e a cultura que vivemos. Somente assim poderemos proclamar o evangelho bíblico com fidelidade e sensibilidade. O que não é apenas uma opção, mas necessidade vital.[7]
Em segundo lugar, que a fé reformada preocupava-se com o todo da vida, não simplesmente com o âmbito religioso ou espiritual. Isso era verdade porque o Deus soberano da Reforma estava interessado no ser humano inteiro, corpo, alma, mente, instintos, relações sociais e adesões políticas. É preciso resgatar um principio da reforma que tem sido esquecido ao longo dos séculos, a saber: o evangelho traz transformação integral para o homem. É Preciso voltar a ver o ser humano não apenas como uma alma a ser conquistada para o Reino de Cristo. Deve ser uma prática cotidiana da igreja se preocupar com o meio ambiente em que este ser vive, com seus relacionamentos, com sua presença neste mundo, ou seja, com sua vida como um todo.
[1] Timothy George é Bacharel em Artes (A.B.) pela Universidade de Tennessee, Mestre em Teologia (M.Div.) pela Harvard Divinity School e Doutor em Teologia (Th.D.) pela Harvard University. Ele é diretor-fundador e professor da Beeson Divinity School desde 1988, ano em que o livro Teologia dos Reformadores foi lançado em inglês pela Broadman Press. Timothy George é professor de História da Igreja, Teologia Histórica e Teologia dos Reformadores. Atualmente George também é editor-executivo da Christianity Today e participa do conselho editorial da The Harvard Teological Review, da Christian History e da Books & Culture. Serviu também no conselho de diretores da Lifeway da Convenção Batista do Sul. Já escreveu mais de vinte livros e escreve artigos regularmente para revistas teológicas. Teologia dos Reformadores é seu principal livro.
Cf.: dados disponíveis em/: <http://ibadonai.blogspot.com/2008/07/teologia-dos-reformadores.html> Acessado em 04 de novembro de 2009.
[2] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. Tradução de Gérson Dudus, Valéria Fontana. São Paulo: Vida Nova, 2006. P. 14
[3] Ibid e idem p. 22
[4] Idem
[5] Lloyd-Jones apud Neto. NETO, F. Solano Portela. A Mensagem da Reforma para os Dias de Hoje. Fides Reformata. v.2, n.2. jul/dez, 1997. p.29.
[6] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. Tradução de Gérson Dudus, Valéria Fontana. São Paulo: Vida Nova, 2006. P. 305
[7] “A igreja no crepúsculo do Ocidente” in: CLOUSE, Robert G., Pierard, Richard V., Yamauchi, Edwin M.. Dois Reinos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. (pp. 495-517).
[8] Ver: BIÉLER, André. A Força Oculta dos Protestantes. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, (Prefácio e Introdução – pags. 17-49).
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