Aconselhamento bíblico pastoral: Coração transformado, comportamento mudado.
Aconselhamento
bíblico pastoral:
Coração
transformado, comportamento mudado.
INTRODUÇÃO
Estes últimos dias, estão sendo marcados, por
um grande afastamento dos seres humanos de Deus e de sua Palavra. A
consequência disso tem sido o caos em todas as áreas da vida humana. Quanto
mais soluções horizontais o homem busca mais desorientado ele fica. O fracasso
dos cristãos modernos em compreender as riquezas que têm em Cristo, escancara a
porta da igreja para uma multiplicidade de influências aberrantes que têm como
base princípios humanistas e sobre tudo antropocêntrico. Como acertadamente
assevera Fabiano: “nesse processo de idolatria socialmente compartilhada, tudo
começa com a tendência inata e universal à absolutização do próprio eu, quando
o eu é entronizado no coração” (OLIVEIRA, 2011, p. 52). O hedonismo dessa atual
sociedade hipermoderna tem levado muitos à construção de altares aos “deuses
funcionais”. Além disso, na atual realidade da “igreja de mercado”, não são
poucos os que querem que Deus mude suas financias, famílias, vidas, mas não
estão dispostas a uma mudança profunda dos seus corações.
Nesse cenário de caos a tarefa da igreja e
principalmente dos conselheiros bíblicos é buscar um método de aconselhamento
que traga mudanças mais profundas no centro do ser humano, isto é, o coração.
As ações exteriores que regem sua vida nascem no comando central interior. Coração,
na Bíblia, é muito mais do que o órgão que bombeia o sangue para todo o corpo,
mas é o aspecto interior do homem, responsável por nossas escolhas, decisões,
vontades e ações.
Assim, o coração guia o comportamento de todo
ser humano. Ele é a fonte primaria dos maus desejos que leva aos mais variados
distúrbios dos seres humanos. Neste trabalho será apresentado, mesmo que de
forma breve, uma proposta de aconselhamento bíblico que tem como alvo a
transformação do coração humano, o centro da vida. Para esta breve pesquisa,
usar-se-á, dentre outros, os seguintes teóricos: (POWLISON, 1996) e (TRIPP,
2009).
O
PROBLEMA BÁSICO DO HOMEM.
“A imaginação do
homem é, por assim dizer, uma perpétua fábrica de ídolos”, dizia João Calvino
(CALVINO, As Institutas, I.XI.8.). Isso por que todo homem tem em si o que ele
chama de “sensus divinitatis”. Todos, de certo modo, são adoradores, que buscam
desesperadamente aquilo o seu coração deseja. Essa adoração dirige crenças
(cognitivo), desejos (afetivo) e vontade (volitivo). O comportamento idólatra
nada mais é do que a expressão da idolatria que já existe no interior, do
homem, isto é em seu coração. Todos os desejos do coração são expressões da
adoração secreta que o homem cultiva. Por isso, o coração é também a habitação
dos seus ídolos particulares. Em outras palavras, ele determina quem é o homem
e como ele viver. Assim o problema básico de todo ser humano não é externo
(comportamento), porém interno (coração). Logo, se o coração é a fonte de todos
maus desejos humanos, que o leva a idolatria que o escraviza, ele deve ser o
alvo da mudança permanente do nosso aconselhamento e do nosso ministério como
um todo.
A
SOLUÇÃO EFICAZ.
Segundo David POWLISON
(1996), o ser humano convive com uma tríplice tensão existente, que são: os
impulsos biológicos, as motivações internas e os condicionamentos sociais e
culturais. A solução para os problemas dos aconselhados está em procurar
identificar os ídolos que o escravizam e exigem deles obediência e procurar num
processo de entrega, dedicação e consagração a Deus, ir renovando o homem
interior, tomando a cruz diariamente, sepultando diariamente os falsos deuses
que estão sendo fabricados no coração (POWLISON, 1996).
Assim, o
conselheiro bíblico precisa considerar que a purificação do coração que cobiça
o mal e adora o “eu” precisa de cuidados. Este diagnóstico correto levará ao
tratamento apropriado. Como bem asseverou Dr. John Street (2009) o uso adequado
da hermenêutica do coração é a ressonância magnética cerebral de todo
conselheiro bíblico. Essa hermenêutica é a orientação bíblica para identificar
e interpretar o que há dentro do aconselhado à medida que isso interage com as
várias situações da vida.
BASE
BÍBLICA.
O apóstolo João adverte: “Filhinhos,
guardai-vos dos ídolos.” (1 João 5:21). Segundo POWLISON (1996), os “Ídolos do
coração” são literalmente descritos em Ezequiel 14:1-8. Ele assevera que a
adoração de ídolos tangíveis é, perigosamente, a expressão de uma deserção
prévia de Deus (POWLISON, 1996). Assim biblicamente a “idolatria” é uma palavra
característica do Velho Testamento que resume e refere-se ao nosso desvio de
Deus. Para esse mesmo autor, os “desejos” (gr. epithumiai) do coração é
característica que resumo no Novo Testamento para o mesmo desvio apresentado
pelo profeta Ezequiel (POWLISON, 1996). Segundo POWLISON (1996), ambas
descrevem o problema dos seres humanos. A linguagem do Novo Testamento para
“desejos” problemáticos é uma expansão dramática do décimo mandamento que
proíbe a cobiça (gr.epithumia). Desnuda a natureza egoísta e reivindicativa do
coração humano, poderosamente é descrito por Paulo em Romanos 7 (POWLISON,
1996).
O coração também não é apenas responsável
pelas emoções. Ele é a sede de nosso conhecimento e crenças (cognitivo - Mt
9.4; (Mt 24.48; Mc 11.23; Lc 2.35), desejos e emoções (afetivo - Mt 5.28; 6.21;
Jo 16.22; At 2.26) e vontade (volitivo - Mt 9.4; At 5.4; Mt 15.19; Lc 6.45).
O que foi apresentado até aqui pode ser visto
de forma prática na educação de filhos. Suponhamos que uma mãe tem duas
crianças brigando por causa de brinquedos. Ambas para chamar a atenção querem o
mesmo brinquedo mesmo tendo outros. Claramente um problema de egoísmo.
Abordagem errada: “quem chegou primeiro?” Quem é o mais velho? Quem brincou menos tempo? – "JUSTIÇA"
Mensagem: “eu posso ser egoísta se for justo”.
O real problema: o egoísmo (ídolo do coração).
Abordagem certa: “Aprenda a dividir” – Altruísmo
Solução bíblica: amar o próximo como a si mesmo.
Abordagem errada: “quem chegou primeiro?” Quem é o mais velho? Quem brincou menos tempo? – "JUSTIÇA"
Mensagem: “eu posso ser egoísta se for justo”.
O real problema: o egoísmo (ídolo do coração).
Abordagem certa: “Aprenda a dividir” – Altruísmo
Solução bíblica: amar o próximo como a si mesmo.
A METODOLOGIA.
A metodologia, usada pelos autores que seguem
essa linha de aconselhamento, entende que o papel do conselheiro é perceber
qual é o ídolo que tem governado o ser humano (POWLISON, 1996). Uma vez que,
como já foi dito, o comportamento está enraizado nos pensamentos e nas
motivações do seu coração. Uma ação em direção a um desvio de ídolos provocando
uma mudança no aconselhamento (POWLISON, 1996). Dentro disso o conselheiro deve,
segundo TRIPP (2009), seguir alguns princípios:
O primeiro é estabelecer um plano de
ministério pessoal que será uma espécie de mapa e que dará um sentido
de direção, ou seja, mostrará o destino e dirá como chegar lá. Duas perguntas
devem ser feitas aqui neste plano: O que
a Bíblia diz sobre a informação coletada? Isso levará a examinar os dados
coletados através das “lentes” dos grandes temas das escrituras e moldará as
respostas que daremos aos problemas das pessoas. Que mudança Deus quer fazer no coração desta pessoa? A resposta a
essa pergunta aponta onde é o destino a ser alcançado (TRIPP, 2009).
O segundo objetivo é esclarecer as responsabilidades.
A resposta à pergunta: O que eu devo fazer? Deve ser algo claro para o aconselhado.
Sobre a responsabilidade, TRIPP (2009) diz que o conselheiro precisa conduzir
as pessoas a fazerem em espírito de alegria, submissão e obediência o que dever
fazer e em um espírito de confiança e descanso, deixar Deus fazer o que só ele
pode fazer. Isso trará paz e evitará frustrações.
O terceiro
objetivo é infundir a identidade em Cristo. Para isso, o conselheiro
precisa mostrar ao aconselhando quem ele é. Ele precisar fazê-lo entender que
agora ele está em Cristo, e é uma nova criatura e assim ele deve voltar seu
coração somente para Ele (TRIPP, 2009).
O quarto e último objetivo é
proporcionar a prestação de contas. Muitas pessoas tem uma ideia errada
do que de fato é a prestação de contas. Prestação de contas, não é agir como um
detetive que à espera de pegar alguém fazendo coisas erradas. Ao contrário, a
prestação de contas visa advertir amorosamente, e encorajar ativamente alguém
que está disposto a experimentar, a mudança que Deus deseja operar em sua vida.
O encorajamento e a prestação de contas são partes importantes no processo de
aplicação da verdade e na formação do caráter de Cristo na vida do aconselhando
(TRIPP, 2009).
CONCLUSÃO:
O alvo do conselheiro deve ser um
aconselhamento bíblico focado não apenas na mudança do comportamento, mas na
transformação contínua do coração. Será a mudança do coração por meio das
Escrituras que levará a pessoa a abandonar os seus velhos e conhecidos ídolos e
adorar somente a Deus, o que consequentemente mudará a sua situação.
Nesse
sentido, Jesus é o que mais o aconselhado precisa para curar a alma afetada
seja por ídolos interiores, socioculturais, familiares, etc. Ele é a origem e
alvo de toda a realidade. O mundo inteiro somente pode ser entendido
corretamente quando é visto, a partir de Cristo, e em direção à Cristo.
Para
o apóstolo, em Cristo os cristãos são aperfeiçoados: “Também, nele [Cristo],
estais aperfeiçoados.” (Cl. 2.10). Este texto visto a luz do verso nove (veja o
paralelo no grego v.9 πλήρωμα, v.10 πεπληρωμένοι) mostra que plenitude da divindade
que habita em Cristo é a base para a plenitude dos cristãos de Colossos.
Assim,
com o termo “aperfeiçoado”, Paulo que dizer que em Cristo nós somos preenchidos
plenamente. Além disso, o tempo do verbo (perfeito) aponta para um estado
permanente como resultado de alguma ação anterior, com efeitos permanentes. Já
a voz passiva sugere que os leitores foram preenchidos por Deus.
Em
outras palavras, nossa união com Cristo nos conduz para uma vida plena, que vem
do próprio Deus. Tudo que precisamos para vencer as lutas da vida vem de Deus,
por meio de Cristo. Qualquer outro antídoto é apenas paliativo.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
POWLISON, David. Ídolos do coração & feira das vaidades:
vida cristã, motivação individual e condicionamento sociológico. Brasília:
Refúgio, 1996.
STREET, John D. Purificando o coração da idolatria sexual.
São Paulo: NUTRA publicações, 2009. 240 p.
TRIPP, Paul David. Instrumentos nas mãos do Redentor. São Paulo: NUTRA, 2009.
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