DESCONTINUIDADE ENTRE O HABITAT RESTAURADO E O PRESENTE HABITAT (parte 3)
NÃO HAVERÁ MAIS PECADORES
“Disse-me ainda: ‘Está
feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tiver sede, darei
de beber gratuitamente da fonte da água da vida. O vencedor herdará tudo isto,
e eu serei seu Deus e ele será meu filho. Mas os covardes, os incrédulos, os
depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que praticam
feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos, o lugar deles será no lago de
fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte.’” Apocalipse 21.6-8
Uma parte importante da perfeição do estado eterno dos salvos será a
ausência de todos os que praticam obras más. Não existirá ninguém para
perturbar ou assediar os justos. Na eternidade, para que seja mantido um
ambiente de pureza, amor e justiça, é essencial que salvos e ímpios estejam divorciados.[1]
Os versículos de Apocalipse 21. 6-8 destacam esse contraste. O Novos Céus
e na Nova Terra será tudo o que esta vida não pode ser por causa da sempre
presente atividade enganadora de Satanás, do coração pecaminoso e dos pecadores
que habitam ao nosso redor.
Ele assim será, porque enquanto os incrédulos permaneceram em seu estado
de miséria e de mortalidade eterna no lago de fogo, os crentes estarão em seu
estado glorificado e nunca mais experimentarão tais pecados.[2]
Analisemos de forma mais detalhada estes versos e vejamos as razões pelas quais
os pescadores ficarão de fora do Reino do nossos Senhor.
Os pecadores
vivem na prática do pecado
Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que
cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os
mentirosos, o lugar deles será no
lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte. Apocalipse 21.8
Os covardes[3] são os
que se mostraram temerosos, os que não tiveram coragem de assumir sua fé em
Cristo (Cf. Mt 10.32, 33).[4]
A incredulidade é o resultado da maldade espiritual. [5]
O termo “abomináveis” significa “contaminados”[6]
e se refere aos que se entregaram ao pecado e, desse modo, contaminaram sua
mente, espírito e corpo (2 Co 7.1).[7]
Os assassinos não respeitam a Deus e, portanto, não têm nenhum respeito pela
vida humana.[8]
Provavelmente, uma referência direta àqueles que mataram os cristãos nas
perseguições.[9] Os
fornicadores violam a lei eterna de Deus por seu comportamento sexual
pecaminoso (prática latente do império romano e crescente em nosso tempo).[10]
Os feiticeiros praticam um pecado especialmente desprezível porque eles tentam
substituir o poder de Deus por algum outro. Os idólatras dão a glória que
deveria pertencer ao Criador para a criação. Os mentirosos são culpados de
falsas declarações ou do o silêncio que não poucas vezes é uma mentira.[11]
Os que praticam tais coisas não herdarão o reino dos céus.
Os pecadores não
beberão da fonte da água da vida.
“Disse-me ainda: ‘Está
feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da
vida...’”
(Apocalipse 21.6-7)
Uma leitura desatenta do verso 8 pode dar a entender que se alguém é
caracterizado por qualquer um dos pecados listados, então ele não pode estará
na Nova Jerusalém. No entanto, isso sugere a salvação pelas obras e o contexto
imediato enfatiza não a retidão moral nesta era, dos futuros moradores, mas a
graça do cordeiro de Deus: “a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida” (Ap 21.6 - destaques
nossos). “Todos os que têm sede” refere-se a todos aqueles que reconhecem a sua
necessidade, a condição espiritualmente de sequidão da sua alma, e vieram à
Cristo “a fonte da água da vida” (cf. Jo 4.10; 7.37-39; Is 55: 1). “Darei de graça” significa, é claro, pela
graça, como dom de Deus para aqueles que são atraídos à Cristo e veem com fé
(Jo 7.38).[12]
Devemos observar, ainda, que muitos incrédulos não se caracterizam pela
maior parte das coisas listadas aqui. Muitos deles são moralmente íntegros em
várias partes de suas vidas, mas eles também serão excluídos por causa da sua
incredulidade.[13] O
versículo 8 não está descrevendo o que qualifica ou desqualifica as pessoas do
ponto de vista do seu comportamento enquanto aqui na terra, mas mostrando que
tipo de pessoas não farão parte do reino eterno no futuro.
Os incrédulos, isto é, os que não beberam gratuitamente da fonte da água da vida, após a morte são selados
permanentemente como aqueles que não são justificadas, eles permanecerão
pecadores diante de Deus para sempre.[14] Alguns dos salvos eram culpados de crimes como estes, mas eles foram
justificados através da fé em Cristo.[15]
Os pecadores não
terão intimidade com Deus
“O vencedor herdará tudo isto, e eu serei seu
Deus e ele será meu filho.”
Apocalipse 21.7
Temos aqui o cumprimento das promessas feitas ao povo da aliança por meio
de seus representantes. “Eu serei o seu Deus” é uma referência a promessa feita
a Abraão: Estabelecerei a minha aliança como aliança eterna entre mim e você e
os seus futuros descendentes, para ser o seu Deus e o Deus dos seus
descendentes”. (Cf. Ge 17.7 e Ap 21.3). “Ele será meu filho” é uma alusão ao
que foi dito a Salomão: “Eu serei seu pai, e ele será meu filho”. (2 Sm 7.14) e
aplicada a Davi mais tarde: “Ele me dirá: ‘Tu és o meu Pai, o meu Deus, a Rocha
que me salva’” (Sl 89.26).
Agora os verdadeiros filhos de Abraão que ao longo da história
responderam, tanto inicialmente, como continuamente, com fé, arrependimento,
obediência, serviço, adoração, e perseverança, finalmente desfrutarão de um
relacionamento íntimo especial com o Pai. Assim, a frase “eu serei seu Deus, e
ele será meu filho”, aqui enfatizam não só a regeneração dos descendentes como
acontece em outros lugares, principalmente nas cartas paulinas. O apóstolo
Paulo usou as palavras gregas huios e
teknon, para “filhos” como sendo
sinônimas, João, no entanto, distinguiu os seus dois significados, e aqui usa “huios” para destacar sobretudo a honra
especial do estado de filhos.
John Gill observou bem que Cristo não se preocupa apenas com predestinação
dos eleitos, mas também com sua adoção real. Eles já são agora, na presente
era, filhos de Deus, mas não de forma profunda e ininterrupta. Todavia, neste
novo e glorioso estado das coisas, será abundantemente manifesto que eles são
os filhos de Deus.[16]
Os pecadores
estarão para sempre em outro mundo.
“...o lugar deles será no lago de fogo que arde
com enxofre...” Apocalipse 21.8
Essas características mencionadas em Apocalipse 21.8 se aplicam aos
seguidores da “besta” (Cf. Ap 17:4, 6; 18:3, 9; 19:2) e por isso eles passarão
a eternidade com ela, por isso nos é dito que “o lugar deles será no lago de
fogo que arde com enxofre.” (Ap 21.8b). Tácita na felicidade dos justos está a infelicidade dos ímpios. Enquanto os
fiéis entrarão no gozo eterno, os impios infiéis sofrerão o juízo eterno. Esse lugar foi
preparado especialmente para o diabo e seus anjos, mas será também a habitação
dos ímpios por toda a eternidade. Esse será um caminho sem volta!
Eles
não só serão excluídos da Nova Jerusalém e da comunhão com Deus, mas também,
permanecerão na miséria e infelicidade do seu estado caído. As agonias e os terrores da primeira morte
conduzirão aos terrores e agonias muito superiores da morte eterna.[17] Além disso, o poder
soberano de Deus estará tão disposto contra eles que não haverá meios de
escapar, desses que são os mais profundos terrores que um ser humano pode
passar.[18]
Franklin estava certo ao afirmar que “a regeneração é a
cura para a morte espiritual, a ressurreição do corpo é a cura para a morte
física, mas não haverá cura para a morte eterna.”[19] o que trará maior
magnitude a justiça e santidade divina.
Além
disso, uma vez que o lago de fogo continua a existir após a restauração do céu
e da terra, o inferno não é, provavelmente, no centro da presente terra como
relata a cultura popular em muitos lugares do mundo, nem está ligado a esta
terra espacialmente. Ele vai existir separado do Novo Céu e da Nova Terra.[20]
De igual modo, toda humanidade que não foi redimida sofrerá eternamente e não
poderá vir a este lugar perfeito. Isso é a garantia para os crentes que Deus
está preparando um lugar perfeito para os seus e esse lugar não terá nenhum
mal. Nele só se verá a bondade de Deus para todo sempre.
Os pecadores
terão morte eterna
“...Esta é a segunda morte”. Apocalipse 21.8
Se essa é a segunda morte. Então qual foi a primeira? São três as formas
ou estágios para a morte. A primeira é a espiritual que todos os indivíduos experimentaram
e ainda experimentarão. Deus disse para
os nossos pais: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Ge 2.17).
Adão se tomou mortal quando comeu daquela árvore do jardim, e morreu espiritualmente
naquele mesmo dia, separando-se assim da comunhão com Deus. A segunda
consequência deste pecado foi a separação do espírito do corpo, a qual chamamos
de morte física. A morte eterna, ou a “segunda morte” como foi descrita no
texto (Cf. também Ap 2.11; 20.14), será aquela que os que não creram no
evangelho experimentarão por toda eternidade.
A passagem paralela a esta é João 8.24: “se não crerdes que EU SOU,
morrereis nos vossos pecados.” Os incrédulos morrem em estado de pecado e para
sempre eles permanecerão pecadores. Os crentes, no entanto, não permanecerão em
um estado de pecado, porque eles foram justificados pela fé em Cristo:
“bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado” (Rm 4.8 e 8.33
-34).[21]
Assim, a segunda morte é peculiar aos homens ímpios.
Finalmente, se por um lado afirmamos o inferno como a ausência total do
favor de Deus e a manifestação do desprazer divino, por outro lado, o inferno é
a revelação da presente ira de Deus sobre os pecadores.[22]
Como Hendriksen escreveu: “O inferno é inferno porque Deus não está lá, Deus em
toda a sua ira (Hb 12.29; Ap 6.16). O céu é céu porque Deus está lá, Deus em
todo o seu amor. É desta presença de amor que o ímpio é banido para sempre”.[23]
João afirmou de forma categórica que a Jerusalém futura não será como a
presente. Ao mesmo tempo que ela é aberta as todos os remidos em Cristo, os
quais por causa dele são humildes, justos, amorosos, benevolentes e
irrepreensíveis, é também, fechada para os mortos espirituais que não foram
regenerados.
Conclusão
A título de conclusão podemos afirmar que o Novos Céus e na Nova Terra
será tudo o que esta vida não pode ser por causa da sempre presente atividade
enganadora de Satanás, do coração pecaminoso e dos pecadores que habitam ao
nosso redor. Como já foi dito, lá não haverá
lugar para as tentações internas e externas. Na cruz Cristo não só de resgatou da pena e do poder do
pecado, mas também da corrupção do pecado e no seu retorno teremos nosso corpo
transformado, experimentaremos de sua perfeição e pureza. O tentador que já foi
derrotado no calvário, será finalmente lançado no lago de fogo e enxofre, o
qual será sua morada final e eterna. Já os
pecadores, não só
serão excluídos da Nova Jerusalém e da comunhão com Deus, mas também,
permanecerão na miséria e infelicidade do seu estado caído. As agonias e os terrores da primeira morte
conduzirão aos terrores e agonias muito superiores da morte eterna.[24]
[1] FERREIRA, Franklin;
MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética
para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 1068
[2] KEATHLEY III,
J. Hampton. Studies in Revelation:
Christ’s Victory Over the Forces of Darkness. Biblical Studies Press, 1997,
Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
[3] Note que os
“covardes” encabeça a lista. Quando as pessoas temem crer em Cristo, ele é
capaz de cometer qualquer pecado como resultado deste.
[4] WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 1.
Santo André: Geográfica, 2010. p. 792
[5] Box, Charles. “Commentary on Revelation 21:8”.
"Charles Box's Commentaries on Selected books of the Bible".
Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
[6] VINCENT, M.R. Word Studies in the New Testament.
Wilmington: Associated Publishers and Authors, 1972. Disponível na Bíblia
eletrônica E-sword
[7] WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 1.
Santo André: Geográfica, 2010. p. 792
[8] Box, Charles. “Commentary on Revelation 21:8”.
"Charles Box's Commentaries on Selected books of the Bible".
Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
[9] BARCLAY, William. El Nuevo Testamento comentado:
Apocalipsis v.16. Buenos Aires: La Aurora, 1975. Disponível na Bíblia
eletrônica e-sword
[10] Ibid
[11] Ibid
[12] KEATHLEY III,
J. Hampton. Studies in Revelation:
Christ’s Victory Over the Forces of Darkness. Biblical Studies Press, 1997,
Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
[13] KRELL, Keith. It Just Doesn’t Get Any Better Than This!
(Revelation 21:1-22:5). Disponível:
https://bible.org/seriespage/29-it-just-doesn-t-get-any-better-revelation-211-225.
Acessado em 20/12/2014
[14] Ibid
[15] WALVOORD, John F. The New Heaven And The New Earth.
Disponível em: https://bible.org/seriespage/21-new-heaven-and-new-earth.
Acessado em: 15/12/2014
[16] GILL, John. Exposition of the Old and New Testaments:
Complete and Unabridged. Baptist Standard Bearer, 2006.
[17] HENRY, Matthew. Complete Commentary on Revelation 21 in
Matthew Henry Complete Commentary on the Whole Bible. Disponível na Bíblia
eletrônica e-sword
[18] CALVINO, João. As institutas, III.25.12.
[19] FERREIRA, Franklin;
MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma
análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo:
Vida Nova, 2007, p. 1068
[20] CONSTABLE, Thomas L.
Notes On Revelation. Comentário
Bíblico Disponível em: Bíblia eletrônica The Word.
[21] KEATHLEY III,
J. Hampton. Studies in Revelation:
Christ’s Victory Over the Forces of Darkness. Biblical Studies Press, 1997,
Disponível na Bíblia eletrônica e-sword
[22] FERREIRA, Franklin;
MYATT, Alan. Teologia sistemática: uma
análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo:
Vida Nova, 2007, p. 1068
[23] HENDRIKSEN, William.
A vida futura segundo a Bíblia: [uma
análise das mais inquietantes questões acerca do nosso destino final]. 2.
ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 263.
[24] HENRY, Matthew. Complete Commentary on Revelation 21 in
Matthew Henry Complete Commentary on the Whole Bible. Disponível na Bíblia
eletrônica e-sword
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