OS CRENTES NÃO DEVEM DAR OUVIDOS AOS FALSOS PROFETAS
Segundo Deuteronômio 13. 1-5, os falsos profetas podem
surgir até mesmo no meio do povo de Deus, sendo capazes de realizar grandes
sinais e maravilhas, a fim de conduzir o povo para longe do Senhor. Por isso, é
importante não dar ouvidos àqueles que afirmam falar em nome de Deus, mas que
suas palavras contradizem o que o Senhor disse claramente em sua Lei, mesmo que
eles venham com feitos extraordinários. O texto diz ainda, que Deus permite que
tais coisas aconteçam, a fim de testar se seu povo o ama com todo seu coração e
com toda sua alma.
1. Um alerta
sobre os falsos profetas
Não era novidade o fato de que falsos
profetas apareceriam de fora, tentando “entrar” meio do povo de Deus. Não se
deve se surpreender, no entanto, que eles surgiriam (e eles sugiram) dentro do
povo de Deus com seus extraordinários sinais e maravilhas afastando o povo de
Deus adoração exclusiva a ele.[2]
A. Os falsos profetas podem surgir entre o povo de
Deus
Dt 13. 1,2 – “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar
um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver
falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e
sirvamo-los...”
No capítulo 12 de Deuteronômio, os
israelitas foram advertidos contra a influência da religião cananéia que os
afastavam da obediência ao Senhor. Mas poderia haver perigos mais perto, para
ser mais preciso, no meio do próprio povo.[3]
Por isso, ao que parece, esse que profere mentira não é uma referência a um
profeta de outro deus, mas a um que diz falar em nome do Senhor, porém que
defende o culto também a outros deuses.
Além disso, a expressão “um profeta ou um
sonhador de sonhos”[5] refere-se
a um típico líder religioso judaico, uma vez que os sonhos eram um meio normal
e legítimo de receber uma revelação profética de Deus no antigo Israel. Esses
adjetivos sugerem ainda que não há nada de heterodoxo sobre sua aparência
(aparente piedade), a fonte de sua mensagem (fala em nome de Deus), ou atos
extraordinários oferecidos[6] (sinais
e maravilhas).[7]
Moisés sabia que pessoas no meio do povo
poderia levá-lo a adoração de outros deuses. Foi o que aconteceu no caso de
Arão e o conhecido bezerro de ouro. Arão é apresentado como uma espécie de “profeta”
no sentido de que Deus declarou a Moisés: “Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na
boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos ensinarei o que
deveis fazer. Ele [Arão] falará por ti ao povo; ele te será por boca, e tu lhe
serás por Deus.” (Êxodo 4.15-16). Além disso, através de vara de Arão que Deus
realizou grandes sinais e maravilhas na presença de Faraó e do povo de Israel.
No entanto o próprio Arão, tempos depois, conduziu
o povo para longe do caminho do Senhor. O povo pediu: “faze-nos deuses que vão adiante de nós” (Ex 32.23) e Arão de
forma miraculosa (Então, eu lhes disse: quem tem ouro, tire-o. Deram-mo; e eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro[8] – Ex 32.24) atendeu ao pedido. Arão,
que estava no meio do povo, por meio de grandes sinais e prodígios, levou o
povo à idolatria contrariando a Lei do Senhor.[9]
Por isso, principio é claro, quem quer que
seja e por mais bem respeitado possa ser, se o que diz e faz, está chamando o
povo de Deus a cada hora para se converter do Senhor para outros ídolos e não
dos ídolos para Senhor, esse profeta não pode ser ouvido.[10] Para
Calvino, a partir desse fato podemos inferir que não é o suficiente para ter
uma posição honrosa, ou um nome plausível, seja pastor, ou profeta, ou
sacerdote, a menos que seja aliada a sinceridade de acordo com a sua vocação,
não devemos ouvi-lo.[11]
B. Os falsos profetas podem fazer grandes sinais supostamente
em nome de Deus
Dt 13. 1,2 – “Quando profeta ou sonhador se
levantar no meio de ti e te anunciar um
sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado,
e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los...”
O uso de sinais para autenticar a palavra do
profeta como sendo uma verdade divina é parte da própria história das profecias
do Israel antigo e não é ilegítimo por si só. Moisés, por exemplo, recebeu do
Senhor sinais (4.8,9,17,28) que comprovavam que ele tinha estado com ele. Por
isso, quando Moisés apresentou as palavras do Senhor, acompanhado dos sinais,
para o povo, eles acreditavam que ele era um verdadeiro profeta (Ex.4.30-31).[12]
Somos informados e alertados, no entanto,
que os “falsos profetas” são capazes de realizar atos parecidos ou até mesmo
idênticos aos já realizados pelos verdadeiros profetas, a fim de asseverar que
estão realmente falando em nome do Senhor. Moisés descreve, por exemplo, um
profeta que predisse um acontecimento que de fato ocorreu, sendo assim aprovado
no teste do verdadeiro profeta (Dt 18.21, 22).
Além disso, sua palavra veio acompanhada de
“sinais e maravilhas”. O termo “sinais” é usado na Bíblia para descrever algo
que havia sido previsto e cumprido.[13]
A palavra “maravilhas”, por sua vez, referir-se a um ato milagroso feito
na presença de testemunhas.[14]
Logo, os falsos profetas podem realizar coisas extraordinárias. O próprio Jesus
nos advertiu para que estivéssemos atentos a eles (Mc 13.22), pois eles
operariam sinais que se possível enganariam até os próprios eleitos (Mt 24.24).
Observe, no entanto, que depois disso, o
profeta convidou o povo a acompanhá-lo na adoração a outros deuses, o que ia de
encontro com a Lei de Deus e evidenciava que sua mensagem era falsa. Pois, os
falsos profetas eram aqueles que não pregavam a aliança de Deus e não advertiam
o povo para fugir da imoralidade e da idolatria.
Por isso, estas provas (cumprimento da
profecia, sinais e maravilhas),[15]
presentes nas verdadeiras profecias, não devem ser olhadas como o último
critério da veracidade de uma profecia. Estes sinais ainda permaneceriam como
parte da vida religiosa de Israel, mas eles não poderiam ser contraditórios com
conteúdo da mensagem, isto é, lealdade exclusiva para com o Senhor, pois, nada
podia violar os primeiros mandamentos dados por Deus.
Assim, não importa o quão incrível seja a aparente
exibição de autoridade de um profeta, por meio de sinais e maravilhas, se a
mensagem não conduz ao amor exclusivo ao Senhor essa palavra é falsa, não deve
ser ouvida e deve ser contundentemente rejeitada.[16]
C. Os falsos profetas desviam o povo do caminho de
Deus.
Dt 13. 1,2 – “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar
um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver
falado, e disser: Vamos após outros
deuses, que não conheceste, e sirvamo-los...”
Se por um lado os profetas de Deus levavam o
povo ao caminho do Senhor, por outro lado, os falsos profetas levavam o povo aos
caminhos de outros deuses. É nítido, na língua hebraica, contraste entre as
palavras sedutoras dos falsos profetas: “Vamos
após outros deuses” (Dt 12.3), e as palavras sensatas de Moisés: “Andareis após o SENHOR” (Dt 12.4). Em
ambos os versos Moisés usa o mesmo verbo (“yalák” – andar, seguir). Mayes observou que, este é o único lugar no
corpus da lei, onde a frase “andar após” é usada com o Senhor como objeto, ou, caso
contrário a ele, “outros deuses”.[17] Em
outras palavras, esses caminhos nunca se encontram. Eles são, tanto opostos,
como excludentes.
Nesse sentido, o verbo “andar” (“yalák” cf.
Dt 13. 3,4) não é necessariamente uma metáfora de se tornar influenciado por
alguém. Ele aponta, no contexto do Israel antigo, para um significado legal entre
um escravo e um Senhor num relacionamento exclusivo de fidelidade indivisa.[18] De
maneira análoga, o verbo “conhecer”, é muito mais que saber sobre, significa reconhecer
com estatuto legal. Nos tratados antigos entre um senhor e um vassalo, “conhecer”
um rei significava reconhecer como um governante legítimo, com todas as obrigações
necessárias.[19]
Sendo assim, conhecer um deus “desconhecido”,
significaria tratar tal divindade ilegítima como uma legítima. Consequentemente, o legítimo “conhecido”, isto
é Senhor, já não seria mais reconhecido como tal. Por isso, a questão aqui não
é apenas familiaridade. Ir após outros
deuses implica em uma mudança de lealdade de um para outro, como se ver no
exemplo dado por Elias: “Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até
quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é
Baal, segui-o...” (1Rs 18.21).
Essa mudança de caminho não afeta apenas o
habito espiritual. Ela produz também implicações para orientação da vida
pessoal e social. O afastando do caminho do Senhor não é apenas uma rejeição da
sua pessoa, mas é também uma rejeição da sociedade que ele apoia e está
construindo. Wright observa que “ir após outros deuses”, era assumir uma
maneira diferente de viver em todas as esferas da vida; era adotar, novos
valores pessoais, econômicos e políticos.[20]
Rob Barrett lembra que, embora o mundo
moderno separe religião e política, os dois estão entrelaçados aqui: a devoção ao
Senhor implica, também, em um compromisso com sua cosmovisão política e social
já apresentada em suas leis dadas a Moisés. Por isso, a devoção a outro deus,
como apresentada pelos falsos profetas, implica em se mover em direção a
diferentes formas políticas e sociais. A idolatria representa a ameaça mais
clara ao bem-estar e segurança nacional (13.17,18).[21]
Observe, então, que os falsos profetas não
desviam apenas o povo do caminho de Deus, mas a sociedade dos valores do seu
Reino. O falso ensino, não é um câncer que afeta apenas a igreja, mas que se
espalha por toda sociedade deixando-a totalmente debilitada. Essa é uma das
razões, pelas quais, ele deve ser o quanto antes extirpado.
2. Os
crentes não devem ouvir os falsos profetas
Vemos até aqui que os falsos profetas, que
podem surgir até mesmo no meio do povo, são capazes de realizar grandes sinais
e maravilhas, conduzindo o povo para longe do Senhor. Ver-se-á, agora, que é
importante não dar ouvidos àqueles que afirmam falar em nome de Deus, mas que
contradiz o que Ele disse claramente em sua Lei, mesmo que eles venham com
feitos extraordinários. Deus permite que tais coisas aconteçam a fim de testar
se seu povo o ama com todo seu coração e com toda sua alma.[22]
Vamos a análise do texto.
A. Não ouvir significa não crer nos falsos profetas
“Não ouvirás as
palavras desse profeta ou sonhador; Portanto o Senhor vosso Deus vos prova
para saber se amais o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração e de toda a
vossa alma.”
O verbo ouvir é usado muitas vezes em Deuteronômio (por
exemplo, 1.16, 4.1, 5.1, 6.3,4; 9.1, 20.3; 27.10; 33.7), e seu significado
básico, na forma positiva, é “ouvir, de modo a fazer”. Centra-se na ação, não
somente no ato de ouvir (cf. Tiago 1.22-25). Envolve também, na forma
negativa (como presente no texto), “não atender”, “não acompanhar”, “não
concordar” e “não seguir”. Ezequias escreveu sobre a casa de Israel, que eles
“tem ouvidos (!z=ozen) para ouvir e não ouvem ([m;v'
=
shama), porque é casa rebelde” (12.2).
Caso similar vê-se em Apocalipse, quando João escreve: “Se
alguém tem ouvidos, ouça (avkou,w =akouo)!”
(13.9). Portanto, há um fluxo lógico que tem seu início no escutar e depois
meditar e avaliar a partir de determinados parâmetros que nos será por padrão.
Só a partir daí decidir ouvir ou não ouvir, obedecer ou não obedecer.
Paulo nos recomenda julgar todas as coisas, o que pressupõe
ouvi-las e avaliá-las. Depois, nos ordena reter apenas o que é bom (1Ts 5.21).
O texto de deuteronômio não nos convida a ouvir “cegamente” o profeta, mas
avaliá-lo e posicionar-se diante disto. Não importa o quão impressionante sejam
os milagres ou as profecias de um profeta, se suas palavras visa levar o povo
de Deus para longe de seu caminho, elas não devem ser ouvidas.
Algumas tentações são tão grosseiramente vis que nem podemos
sequer dar-lhes a audição. Não tendo acesso aos ouvidos o inimigo não será
capaz de atingir o coração. Aqueles que são verdadeiros falam o que é
verdadeiro (1 João 4.1-2 ), e aqueles que são da verdade ouvem somente o que é
verdade.
B. Não ouvir os falsos profetas é sinal de que
sabemos estar sob prova divina
Dt 13.3 – “Não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador;
Portanto o Senhor vosso Deus vos prova
para saber se amais o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração e de toda a
vossa alma.”
O texto afirma que o Senhor prova (hs'n" - nasah) o
seu povo, e por vezes o faz expondo-o a determinadas circunstâncias como nos
afirma o livro de Juízes, quando Deus decide não expulsar as nações de diante
de Israel para colocá-la “à prova, se guardará ou não o caminho do Senhor, como
seus pais o guardaram” (Jz 2.22).
Calvino sabiamente observa, que sempre que esta palavra é
aplicada a Deus, ela não é usada em um sentido ruim, “para colocar armadilhas
do engano” ou “para apanhar os incautos”. Mas, apenas para “provar ou examinar”
seu povo a fim de conhecer e fortalecer sua fé, sua confiança e sua obediência
nEle (cf. Gn 22.1-12; Ex 15.25; 16.04; 20.20; Dt 8.2,16; Jz 2.22, 3.1,4; II Cr
32. 31).[23]
Além disso, o fato de Deus provar o coração dos homens, não quer dizer que ele
faz isso para saber o que era antes desconhecido por Ele. Na verdade Ele apenas
externalizar o que está tácito no coração. Como assevera Agostinho, “que ele
deve saber, isto é, que Ele pode fazer com que você saiba.”[24]
Por essa razão, Deus permite não apenas que profetas e
sonhadores se levantem no meio de seu povo e façam sinais e maravilhas a fim de
leva-los para longe de Deus, mas até mesmo que suas profecias se cumpram
naquele arraial. Quando o cumprimento de suas profecias se dá, o teste de Deus
está lançado com toda a sua força. Portanto, não nos esqueçamos de que a
realização de uma profecia não é teste último da veracidade do profeta. É o
Senhor nosso Deus que está nos provando, se o amamos e permaneceremos em seus
caminhos ou se o abandonaremos em busca de coisas extraordinárias, que estão,
no entanto, divorciadas de sua Palavra.
Assim, enquanto Israel se aproxima da terra da promissão,
quando enfrenta desafios de ser tentados a ouvir vozes que ameaçariam sua
fidelidade a Deus, são preparados para fechar os ouvidos para os falsos
profetas e ouvirem a única voz que lhes fariam bem sucedidos naquela terra! Em
outras palavras, o Senhor ordena seu povo que sua voz fosse una em seus
ouvidos, como um solo cativado por aqueles corações a produzir amor e
testemunho, fazendo-os ignorar todas as vozes destoantes daquele solo absoluto!
Se o povo ouvisse qualquer outra voz, ele estaria sob prova do Senhor! O Senhor
sempre testa a fidelidade do seu povo!
C. Não ouvir os falsos profetas é evidência de
nosso amor a Deus
Dt 13.3 – “Não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador;
Portanto o Senhor vosso Deus vos prova para
saber se amais o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração e de toda a
vossa alma. “
Nós todos sabemos o quão facilmente, o pobre coração humano,
é iludido por qualquer coisa na forma de um sinal ou prodígio, e especialmente,
quando tais coisas estão conectadas com a religião. Isto não se limita à nação
de Israel; vemo-lo em todos os lugares e em todos os momentos. Qualquer coisa sobrenatural
ou que vá além das leis ordinárias da natureza, agir poderosamente sobre o
coração humano. Um profeta que supostamente faz milagres, sinais e maravilhas, quase
sempre obtém audiência e influência sobre qualquer comunidade.[25]
Por isso, a aparência de tal profeta não foi um acontecimento aleatório.
Foi um teste de Deus para que ele pudesse descobrir se Israel havia
internalizado o Shemá, e estava assim, amando “o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de
todas as suas forças” (Dt 6.5 - NVI). O
Senhor tinha feito muitas coisas para que Israel soubesse que ele era Deus
(4.39; 7.9; 8.5; 9.3,6; 11.2), mas, ele também, queria saber se seu povo o
amava de forma exclusiva.[26] Ele
desejava confirmar se seu povo o amava do mais profundo do seu ser, e
que nada (nem mesmo coisas extraordinárias) poderia convencê-lo a abandoná-lo.
Por essa razão, o teste que vem da parte do Senhor tem uma
finalidade: evidenciar amor do seu povo por Ele, como um amor que parte do mais
profundo do seu interior (Pv 4.23) irradiando para a totalidade do seu ser. A
fé e o amor de Israel pelo Senhor deveria está acima de tudo; nem mesmo um
sinal vindo do mundo divino deveria abalar esse relacionamento. A atitude do
fiel em não ouvir aqueles que querem afastá-lo de seu Senhor, constitui uma
prova de amor, evidência que não há nada que ele queira mais que o Senhor!
Ainda hoje, o coração humano pouco tem resistido à
influência dos “grandes sinais e prodígios” e consequentemente tem se inclinado
a outros deuses. Muitas pessoas, sobre as quais as escrituras não possuem
qualquer influência, iludidas por sinais, continuam dando ouvidos aos falsos
profetas. Jeremias nos declara a realidade de seu tempo, que não é muito
diferente de hoje: “Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente,
queimais incenso a Baal e andais após
outros deuses que não conheceis” (7.9).
Há apenas uma coisa que pode fortalecer o coração em tempos
como estes: a Palavra de Deus. Por isso, ter a preciosa verdade de Deus
guardava no coração é o segredo divino da preservação de todo erro, mesmo que
venha apoiado pelos milagres mais surpreendentes. A astúcia, os sinais e
prodígios de mentira, e todos os recursos dos falsos profetas são perfeitamente
impotentes diante um coração que é governado pelo amor da verdade.[27]
Ouçamos o alerta do profeta: “Não deis ouvidos às palavras
dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as
visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor.” (Jr 23.16). Não nos
esqueçamos ainda que, “devemos alijar do mundo as superstições para que a
religião pura floresça.”[28]
D. Não ouvir os falsos profetas é parâmetro
imposto por Deus
Dt 13.4 - “Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a ele
temereis; guardareis os seus mandamentos,
ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis”.
A presente lei levanta a questão da verdadeira e da falsa
profecia, que se torna um tema significativo tanto nos primeiros profetas, como
nos últimos profetas, dentro do cânone da Sagrada Escritura. O cerne da lei é
que quando houver discrepância entre o
texto escrito dos Dez Mandamentos e as reivindicações orais de quaisquer
profetas, a palavra escrita é autoritária.[29]
As palavras da aliança, então, eram absolutas e normativas,
e estavam: acima da autoridade do profeta, acima do cumprimento de qualquer
profecia e acima de sinais e maravilhas. Dito de outra maneira, materializando
a profecia, deve-se avaliar um segundo item para atestar a veracidade do
profeta: a continuidade de sua coerência com as escrituras. Se nos convidam
para servirmos a outros deuses que não conhecemos, contrariando a palavra
revelada, deve-se dizer “não”!
Não importa o grau de acerto da profecia, ou de intimidade
com o povo: o parâmetro deve ser sempre as escrituras. A bíblia nos mostra que
“o miraculoso é frequentemente terreno dos falsos profetas e não pode, por si
mesmo, servir para autenticar a mensagem”.[30]
Peter Jensen assevera, que “desde o princípio, cria-se que uma das marcas do
verdadeiro profeta era a consistência com a revelação de Deus previamente
existente.”[31]
A principal função dos verdadeiros profetas da antiga
aliança era lembrar Israel de suas obrigações do pacto e anunciou bênçãos ou
maldições de acordo com a fidelidade da nação (Dt 18.15-22; 28). Por
essa razão, os teólogos costumam chamar os profetas “promotores da aliança”.[32]
Eles eram conhecidos não pelas suas predições cumpridas, mas sim pela natureza
de seu ensino estavam de acordo com os preceitos básicos da lei de Deus.
Berkhof lembra que, os profetas “eram os monitores ministeriais do povo, os
intérpretes da lei, especialmente nos seus aspectos morais e espirituais”.[33]
No novo testamento o princípio não é alterado, pois o
espírito dos profetas está sujeito aos próprios profetas. Portanto, mesmo nas
igrejas locais, se os profetas fossem reconhecidos como tais, “deveriam ter sua
palavra examinada nos cultos (1Co 14.29)”,[34]
pois eles devem passar pelo crivo da Palavra de Deus, a qual ele não resistirão.
E. Não ouvir os falsos profetas não é o suficiente
Dt 13.5 - “Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia contra o
SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da
servidão, para vos apartar do caminho que vos ordenou o SENHOR, vosso Deus,
para andardes nele. Assim, eliminarás o
mal do meio de ti”.
Não ouvir os falsos profetas não é o suficiente. É
necessário também, extirpar seu ensino do meu do povo de Deus. Os falsos
profetas colocaram o povo de Deus diante de uma escolha, ouvir e obedecer a
Deus, ou seguir os falsos deuses apresentados por eles. Se os israelitas
escolhessem agarrar-se a Deus e aos seus mandamentos, então, eles deveriam “eliminar”
(literalmente “queimar” no hebraico) os falsos profetas do seu meio.[35]
Em textos jurídicos essa é a linguagem para descrever os crimes com penas
capitais. Dentro do contexto legal, isso significava que o poder judiciário de
Israel iria prosseguir com acusação e imposição da pena sobre cada culpado.[36]
A pena era severa devido ao grau de destruição que a falsa profecia poderia
causar na vida do povo de Deus.
É evidente que, por não vivermos em um estado teocrático
como nos dias da antiga aliança, não é possível julgar e condenar os falsos
profetas que se levantam dentro da igreja, os quais continuam a levar muitos
para longe do Senhor. Todavia, extirpar os falsos ensinos do meio do arraial do
Senhor é uma questão perene. Não podemos e nem devemos tirar a vida dos falsos
profetas, mas temos a obrigação de tirá-los do seio da igreja.
A orientação dada por Deus para seu povo agir rapidamente e
decisivamente quando se depararam com um falso profeta é atemporal. Quer se
trate de pessoas próximas a nós, ou os que estão longe, temos perceber o perigo
que representam e, portanto, nos comprometemos a agir de forma decisiva para
livrar a igreja de sua influência e ensino.[37]
As palavras do apostolo Paulo ecoa esta ideia:
Mas agora estou lhes
escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja
imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas
vocês nem devem comer. Pois, como haveria eu de julgar os de fora da igreja? Não
devem vocês julgar os que estão dentro? Deus julgará os de fora. “Expulsem esse
perverso do meio de vocês”. (1 Co 5.11-13)
Assim como no tempo de Moisés e de Paulo não se pode tolerar
falsos ensinos que vem em forma de palavras ou de ações. Ainda hoje não deve
haver nenhum “pluralismo religioso” no meio do arraial de Deus. No entanto, por
que essa não é uma realidade na igreja moderna? Por que os falsos mestres não
são confrontados? Por que não há mais orações imprecatórias contra eles?
C. S. Lewis tem uma boa resposta para essas perguntas. Analisando
os salmos imprecatórios, disse certa vez que, se nós não nos sentimos
confortáveis com eles, não é por causa da nossa maior sensibilidade cristã, mas
por causa da nossa atual apatia moral terrível. Nós já não sentimos mais a
zelosa paixão do salmista por Deus que nos leve assim reivindicar própria ordem
moral de Deus no mundo.
Nesse mesmo sentido, Calvino, comentando as seções
imprecatórias do salmo 69 asseverou que foi o zelo santo pela glória divina que
impeliu o salmista a intimar o perverso ao assento do julgamento de Deus.[38]
Nós não respondemos mais o mal dos falsos ensinos com um clamor
imprecatório, mas com uma tolerância politicamente correta. Embora não devemos
ser contenciosos sobre questões menores, nunca devemos ter medo de apontar os
erros daqueles que negam ou pervertem as doutrinas centrais do cristianismo e
que prega outro evangelho. Em suma, talvez, a razão pela qual exista tanto
ensino falso, seja porque há pouco zelo verdadeiro.
F. Não ouvir os falsos profetas é uma questão
atual
Os falsos profetas surgiram em dias anteriores, e não é
surpresa que para ninguém que eles estão no meio do povo hoje. Pedro já nos
alertou que: “Assim como, no meio do povo [uma referencia a Israel], surgiram
falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais
introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de
renegarem o Soberano Senhor que os resgatou...” (2 Pe 2.1). Eles estão aqui
como tiveram lá e suas estratégias não mudaram muito com o passar dos anos.
A semelhança do passado, enquanto os verdadeiros profetas
não ousam, nem por um só momento, tirar ou acrescentar uma só vírgula a Palavra
de Deus, os falsos profetas não contentes em mentir com suas próprias bocas,
tentam colocar mentiras na boca de Deus. Pedro apontou que os falsos mestres
usam “palavras fictícias”. A palavra grega traduzida por “fictícias” é “plastos”,
da qual nós temos a nossa palavra, “plástico”. Os ensinos desses falsos
profetas eram por meio de palavras que poderiam (como plásticos) ser torcidas
para significar qualquer coisa que eles quisessem que elas significassem!
Assim, como no passado, uma das suas estratégias é usar nosso
vocabulário, mas não usar nosso dicionário. É falar sobre as grandes palavras
da fé cristã, mas sem dizer o que queremos dizer.[39]
Eles entregam uma mensagem cujo conteúdo é parecido, mas é distorcido. Não
pensemos que sua falsa-profecia é declaradamente infiel, frontalmente
anti-cristã, liturgicamente inaceitável: ela é sutil, maliciosa, secreta, com
verdadeiras intenções escusas! (Jd 12).
Os Falsos profetas, também, continuam a dizer o que queremos
ouvir, e apelarem à nossa natureza decaída. Eles recorrem aos nossos
apetites carnais, prometendo o que Deus nunca dará. Como bem lembrou Pedro eles
“proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por
suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro,
prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção” (2 Pe.
2. 18,19). Geerhardus Vos afirmou que, “os mais antigos profetas eram profetas
da calamidade pura e simples, e eles até encontraram a distinção entre eles e
os falsos profetas nisto: que os falsos profetas profetizavam coisas agradáveis
por vir.”[40]
Os falsos profetas, como médicos que mentem para seus
pacientes e se recusam a dar-lhes más notícias, continuam curavam
superficialmente a ferida do povo, dizendo: “Paz, paz; quando não há paz” (Jr
6.14). Hoje em dia, os conselhos de medicina disciplinariam os médicos que
fizessem isso. A igreja não pode ter menor rigor.[41]
[1] As notas
desta parte do capítulo se devem à pesquisa feita por Jailson Jesus dos Santos,
como parte da tarefa da matéria, teologia da Revelação, no Centro de
pós-graduação Andrew Jumper.
[2] BROWN, Paul
E. Deuteronomy: An Expositional Commentary. Leominster: Day One Publications,
2008; Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[3] BROWN, Paul
E.. Deuteronomy: An Expositional Commentary. Leominster: Day One Publications,
2008; Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[4] Tigay,
Jeffrey H. Deuteronomy: The Traditional Hebrew Text With the New JPS
Translation. Philadelphia: Jewish
Publication Society of America, 1996.
Apud BARRETT, Rob. Curtailing
Disloyalty and Disaster: Deuteronomy 13. Artigo disponível no site
http://www.coffeewithbarretts.com/writings/Deut13.pdf, Acessado em abril 2014
[5] O profeta era
mais um proclamador e intérprete da revelação, enquanto que o sonhador era um
receptor da revelação.
[6] HALL, Gary
Harlan: Deuteronomy. Joplin: College Press Pub. Co., 2000 (The College Press
NIV Commentary), Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[7] Maravilhas
são atos milagrosos feitos na presença de testemunhas
[8] Segundo Duane
Christensen, é bem possível que a imagem do bezerro de ouro de Arão, e talvez
os bezerros de ouro de Jeroboão I em Dan e Betel, não eram ídolos de “outros
deuses” propriamente ditos, mas sim símbolos comuns para a presença do Deus
invisível, contrariando de qualquer maneira os Mandamentos já dados a Moisés.
Assim, o perigo prático do símbolo se tornar um ídolo se destaca como um aviso.
Cf. CHRISTENSEN, Duane L.. Word Biblical Commentary: Deuteronomy 1-21:9.
Dallas: Word, 2002 (Word Biblical Commentary 6A), Disponível na Bíblia
Eletrônica Logos
[9] CHRISTENSEN,
Duane L.. Word Biblical Commentary: Deuteronomy 1-21:9. Dallas: Word, 2002
(Word Biblical Commentary 6A), Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[10] NICOLL,
William R. The Sermon Bible. Deut 13 - Parker, vol. iv. Disponível na Bíblia
eletrônica E-sword.
[11] Calvin, John.
“Commentary on Deuteronomy 13:1-5”.
“Calvin's Commentary on the Bible”. Disponível na Bíblia eletrônica E-sword.
[12] BARRETT, Rob.
Curtailing Disloyalty and Disaster:
Deuteronomy 13. Artigo disponível no site
http://www.coffeewithbarretts.com/writings/Deut13.pdf, Acessado em abril 2014
[13] BROWN, F.;
DRIVER, S. R.; BRIGGS, C. A. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament.
6. ed. Based on the Lexicon of William Gesenius. Oxford: Clarendon Press, 1951.
1127p. Disponível na Bíblia eletrônica E-sword
[14] Ibid
[15] A realização
desses sinais ou prodígios não querem dizer que os deuses defendidos por estes
falsos profetas ou sonhadores tinham qualquer poder real, mas apenas que o
verdadeiro Deus permitiria certa as coisas aconteçam, a fim de testar como será
visto mais a frente. Cf. Peter C. Craigie, The Book of Deuteronomy [Nicot;
London: Hodder & Stoughton, 1976], 223 Apud BARRETT, Rob. Curtailing Disloyalty and Disaster:
Deuteronomy 13. Artigo disponível no site
http://www.coffeewithbarretts.com/writings/Deut13.pdf, nota 38. Acessado em
abril 2014
[16] BARRETT, Rob.
Curtailing Disloyalty and Disaster:
Deuteronomy 13. Artigo disponível no site
http://www.coffeewithbarretts.com/writings/Deut13.pdf, Acessado em abril 2014
[17] Apud
CHRISTENSEN, Duane L.. Word Biblical Commentary: Deuteronomy 1-21:9. Dallas:
Word, 2002 (Word Biblical Commentary 6A), Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[18] DEFFINBAUGH,
Bob False Prophets, disponível no site
https://bible.org/seriespage/false-prophets-part-i, acessado em abril de 2014.
[19] Cf. BARRETT,
Rob. Curtailing Disloyalty and Disaster:
Deuteronomy 13. Artigo disponível no site
http://www.coffeewithbarretts.com/writings/Deut13.pdf, Acessado em abril 2014
[20] Christopher
J. H. Wright, Deuteronomy (Peabody, Mass.: Hendrickson, 1996), 174,175 Apud
BARRETT, Rob. Curtailing Disloyalty and
Disaster: Deuteronomy 13. Artigo disponível no site
http://www.coffeewithbarretts.com/writings/Deut13.pdf, Acessado em abril 2014
[21] BARRETT, Rob.
Curtailing Disloyalty and Disaster:
Deuteronomy 13. Artigo disponível no site
http://www.coffeewithbarretts.com/writings/Deut13.pdf, Acessado em abril 2014
[22] PETT, Peter. Commentary on Deuteronomy 13:1 in
Commentary on the Bible Disponível em:
http://www.studylight.org/commentaries/pet/view.cgi?bk=4&ch=13. Acessado em
abril 2014.
[23] Calvin, John.
“Commentary on Deuteronomy 13:1-5”.
“Calvin's Commentary on the Bible”. Disponível na Bíblia eletrônica E-Sword.
[24] Ibid.
[25] MACKINTOSH,
C.H.. Genesis to Deuteronomy: Notes on the Pentateuch. Neptune: Loizeaux
Brothers, 1972. , Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[26] Cf. HALL,
Gary Harlan: Deuteronomy. Joplin: College Press Pub. Co., 2000 (The College
Press NIV Commentary) , Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[27] MACKINTOSH,
C.H.. Genesis to Deuteronomy: Notes on the Pentateuch. Neptune: Loizeaux
Brothers, 1972. , Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[28] CALVINO,
João. As Institutas. São Paulo: CEP,
1985. I, 06, 04.
[29] CHRISTENSEN,
Duane L.. Word Biblical Commentary: Deuteronomy 1-21:9. Dallas: Word, 2002
(Word Biblical Commentary 6), Disponível na Bíblia Eletrônica Logos
[30] JENSEN,
Peter. A revelação de Deus. São
Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 267
[31] Ibid
[32] The False Prophet. Artigo disponível em:
http://www.ligonier.org/learn/devotionals/false-prophet/, Acessado em abril de
2014
[33] BERKHOF,
Louis. Manual de doutrina cristã. 3.
ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. P. 329
[34] LOPES,
Augustus Nicodemus. O culto espiritual.
São Paulo: C.Cristã, 2007. p. 230
[35]DEFFINBAUGH,
Bob False Prophets, disponível no site
https://bible.org/seriespage/false-prophets-part-i, acessado em abril de 2014.
[36] Outras
pessoas más condenadas em Deuteronômio que tiveram que ser queimadas, foram
aquelas que, por exemplo, agiram com rebeldia contra o juiz ou o sacerdote
(17.12), a testemunha maliciosa (19.19) , o filho rebelde (21.21) , o adúltero
(22.21), e o sequestrador (24.7). Cf. HALL, Gary Harlan: Deuteronomy. Joplin:
College Press Pub. Co., 2000 (The College Press NIV Commentary) , Disponível na
Bíblia Eletrônica Logos
[37] DEFFINBAUGH,
Bob False Prophets, disponível no site
https://bible.org/seriespage/false-prophets-part-i, acessado em abril de 2014.
[38] Calvin, John.
“Commentary on Psalm 69:22”. “Calvin's Commentary on the Bible”. Disponível na
Bíblia eletrônica E-Sword.
[39] Wiersbe,
Warren W. The Bible Exposition Commentary. 2 vols. Wheaton: Scripture Press
Publications, Victor Books, 1989. p. 2.447
[40] VOS,
Geerhardus. Teologia bíblica: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Cultura
Cristã, 2010. P. 349
[41] WIERSBE, Warren W.
Comentário bíblico expositivo. Vol. 1. Santo André: Geográfica, 2010.p. 355.
0 comentários:
Postar um comentário