Série: Esperança para famílias disfuncionais (sermão 1)
Série:
Esperança para famílias disfuncionais
Tema: “Quando
o sonho se torna pesadelo”
Texto:
Gênesis 37.1-36
Livros consultados:
Introdução
George Frederic
Watts foi um pintor e escultor inglês muito conhecido em seu tempo. Eu não sou
perito em arte nem conheço a fundo as suas obras, mas há alguns anos me deparei
com um dos seus quadros intitulado de “esperança”:
Observe o
semblante triste e desanimado, dessa mulher assentada no alto deste globo
terrestre. Perceba que as costas estão curvadas como se carregasse um fardo
insustentável. O desespero pode ser percebido, mesmo diante de seus olhos
encobertos por este pano. Em suas mãos está essa lira. Perceba que quase todas
as cordas se partiram. Ela inclina a cabeça para ouvir a música fraca, mas seus
esforços parecem desamparados; a atmosfera geral é de tristeza e desolação, e
não de esperança. A sensação de melancolia da imagem é reforçada pela pincelada
suave e pelas névoas translúcidas que envolvem o globo flutuante. Watts
intencionalmente usou o simbolismo não tradicionalmente associado à esperança
para tornar ambíguo o significado da pintura, por essa razão, quase todos os que
olhavam para ele, no primeiro momento, dizia que o título deveria ser
“desespero” e não esperança. Somente um olhar mais atento concluiria que de
fato ele tem um elemento de esperança. Que elemento é esse? Falaremos sobre ele mais logo mais.
Contextualização
O texto que acabamos de ler foi escrito por
Moisés. A situação de seus leitores-ouvintes é de grandes dificuldades no
deserto. Uma desconfiança e desesperança para tomar conta do povo. Deus, então,
conduz Moisés para escreve Gênesis, a fim de, entre outras coisas trazer
esperança para o povo. Como observou Duguid, ao contar as histórias do povo de
Israel
Moisés queria que olhassem para trás e
se lembrassem de que houve um período em que a promessa de criar um povo de
adoradores harmoniosamente unido parecia tão impossível quanto o cumprimento de
sua promessa anterior, de dar um filho a um casal idoso e estéril . Contudo,
contra todas as probabilidades dos esquemas de homens pecadores, incluindo
aqueles a quem escolhera, Deus realizaria seu alvo de fazer uma unida
comunidade de adoradores.[1]
Moisés narra, então, que em contraste com as
gerações anteriores – em que Deus soberanamente escolheu um membro da família,
em vez de outra, para portar a linha da promessa (elegendo, por exemplo, Isaque
sobre Ismael, e Jacó sobre Esaú) – dessa vez, Deus prometeu que escolheria os
doze filhos de Jacó e os tornaria em uma comunidade harmônica de adoradores, a
nação de Israel.[2]
Essa última seção do livro é descrição desta
família de 12 filhos que serão 12 tribos. Esses fundadores da nação de Israel,
no entanto, é um grupo de indivíduos pecadores imperfeitos e profundamente defeituosos
que Deus. Os pecados de Jacó, de José e de seus irmãos são pintados com cores
fortes nos primeiros versos do capítulo 37 que hora lemos. Assim, se o capítulo
37 de Gênesis fosse um quatro, quando visto no primeiro momento, passaria a sensação de “desespero” e não esperança.
Somente um olhar mais atento concluiria que de fato ele tem um elemento de
esperança. Vejamos qual é.
Na introdução de um relato, geralmente
esperamos encontrar os personagens principais e a apresentação dos conflitos da
trama que formarão o corpo da história. A introdução de Gênesis não é exceção:
encontramos aqui as personagens principais: José, seus irmãos, e seu pai Jacó;
e a principal complicação do drama: o fato de que os irmãos de José o odeiam
como resposta de favoritismo de seu pai e imaturidade deste menino de 17 anos. Nossa mensagem, então será dividida em três partes: No
primeiro momento veremos a imaturidade de José; em seguida o
favoritismo de Jacó, e finalmente, o ódio de seus irmãos. Vamos ao
primeiro ponto:
1. A imaturidade de José
O
narrador inicia o drama introduzindo o personagem principal. Suas palavras são:
“Quando José tinha dezessete anos,
pastoreava os rebanhos com os seus irmãos. Ajudava os filhos de Bila e os
filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e contava ao pai a má fama deles”
(v.2). Moisés destaca que José era, em termos modernos, um adolescente, um
aprendiz de pastor e um profissional
delator.
Em
nossa língua uma “má notícia” pode ser verdadeira ou falsa. Porém, no hebraico,
esta frase específica tem a conotação de um relato falso ou maldoso. Waltker
observou que o termo dibbâ (notícias) denota em si mesmo notícias tendenciosas
para prejudicar a vítima (Cf. Pv. 10.18). O fato de Moisés o qualificar com o
adjetivo “más”, parece não restar dúvidas que José age com maledicência visando
denegrir a imagem de seus irmãos. A autojustiça, geralmente, me cega para a
realidade de quem realmente sou e torna-se muito consciente do pecado dos
outros do que do meu.
Além
disso, ao que parece, José não gostava de seus irmãos, ou talvez não gostasse
de servir aos seus irmãos e, assim, levou para casa um relato fabricado ou
exagerado a respeito dos erros de seus irmãos.[3]
Além do mais, ele fez sua parte para perpetuar as divisões da casa, entre os
filhos de mães diferentes; conflito esse destacado ao chamá-los de “os filhos
de Bila e Zilpa” (Gn 37.2; cf. 29.31–30.24). Resumindo, José nesta fase da vida
é um tolo. Um inconsequente.[4]
Aplicação: Em
famílias disfuncionais as coisas não são resolvidas pelos meios corretos.
A
confrontação em amor normalmente dá lugar a maledicência que é vista nos lábios
de esposos, esposas e filhos. Com isso, tira-se o benefício da dúvida, rouba-se
o direito de defesa e leva-se para longe a honra do outro. Irmãos de sangue e
irmãos da fé precisam ser lembrados que as coisas não eram para ser assim.
Chegamos
agora na descrição de outro personagem. Se essa fosse uma série do Netflix no
nome desse episódio seria:
2. O favoritismo de Jacó
O
pai de José não faz jus aos seus cabelos brancos. Suas atitudes não refletem a
sabedoria esperada de um homem de idade avançada. No verso 3 lemos: “Ora, Israel gostava mais de José do que de
qualquer outro filho, porque lhe havia nascido em sua velhice; por isso mandou
fazer para ele uma túnica longa” (v 3). Depois de dez filhos com outras
mulheres, finalmente nasceu José, filho da mulher favorita de Jacó, Raquel, por
quem o pai trabalhou por 14 anos para conquistar (hoje os meninos querem rachar
o hambúrguer com a pretendente, mas esse é só um comentário, na verdade uma
dica).[5]
José, então, não era apenas o filho da velhice (“uma das rapas do tacho”) era
também o favorito do pai, por isso, Jacó mandou fazer para ele “uma túnica longa”.
Essa
túnica, ao que parece, não era de várias cores como traduz algumas versões
seguindo a LXX e a vulgata latina. O que é certo é que este tipo de roupa era
especial. A única vez que essa expressão aparece na bíblia novamente é para
descrever uma veste real.[6]
Jacó, então deixa bem claro para toda família, que José está acima dos seus
irmãos mais velhos. A imaturidade de José é sublinhada mais uma vez quando ele faz
questão de usar orgulhosamente esse símbolo de posição especial sempre que
pode.
Aplicação: Em
famílias disfuncionais o amor nem sempre é ordenado.
Não
poucas vezes pai e mãe amam mais os filhos que um ao outro. Ou filhos que amam
mais os pais que o cônjuge, que estão dispostos a terminarem o casamento por
causa do pai ou da mãe. Nosso amor não poucas vezes é desordenado, no entanto,
não é somente em relação as pessoas, é também, em relação as coisas. Quantos
famílias destruídas depois da divisão de uma herança. Quanto famílias partidas
por caso do amor ao trabalho, conforto, dinheiro, bem-estar. Em famílias
disfuncionais o amor nem sempre é ordenado.
E os
irmãos de José, o que achavam desse menino de 17 anos minado pelo pai? Eles tinham um ódio que parecia não ter fim.
Para esses personagens e para o aspecto principal drama voltaremos agora.
3. O ódio de seus irmãos
A
resposta dos irmãos a imaturidade de José e ao favoritismo do pai é um ódio
ardente e crescente. Veja o que diz o verso 4: “Quando os seus irmãos viram que o pai gostava mais dele do que de
qualquer outro filho, odiaram-no e não conseguiam falar com ele amigavelmente”
(v. 4). A saudação é importante neste período e recusa-se levantar a mão e
saudar amigavelmente com o “Shalom” (“paz”) é uma evidência clara de inimizade.
Os irmãos, então, odiavam José ao ponto de não mais falarem com ele
pacificamente. O que está ruim pode piorar e este sentimento de ódio seria
potencializado despois que ouvissem os seus sonhos. Leve seus olhos até os versos
5,6: “Certa vez, José teve um sonho e,
quando o contou a seus irmãos, eles passaram a odiá-lo ainda mais. ‘Ouçam o
sonho que tive’, disse-lhes. ‘Estávamos amarrando os feixes de trigo no campo,
quando o meu feixe se levantou e ficou em pé, e os seus feixes se ajuntaram ao
redor do meu e se curvaram diante dele’” (VV. 5-7).
Um
parêntese. Hoje sabemos que Deus fala somente pelo Filho, mas no passado ele as
vezes falava por sonhos. Na história de José os sonhos sempre vêm em pares. São
dois sonhos na prisão (padeiro-chefe e copeiro-chefe), são dois sonhos de Faraó
e são dois sonhos neste capítulo. Sonho é uma palavra-chave. O termo aparece
nada menos que 7 vezes na história.[7]
Não
peca, no entanto, o ponto do narrador. A tolice de José é vista pelo fato dele
contar seu sonho gabando-se dele enquanto veste sua roupa real, túnica de
mangas largas. O narrador apresenta a reação dos seus irmãos lhe disseram:
“Então você vai reinar sobre nós? Quer dizer que você vai nos governar?” (v.8a).
O corpo fala e José certamente percebeu na expressão facial de seus irmãos o
ódio crescente. O narrador destaca este sentimento: “E o odiaram ainda mais,
por causa do sonho e do que tinha dito”(v 8b).
José,
no entanto, não para por aí. Ele tem um segundo sonho e agora conta
dramaticamente para seu pai e seus irmãos: “Depois
teve outro sonho e o contou aos seus irmãos: “tive outro sonho, e desta vez o
sol, a lua e onze estrelas se curvavam diante de mim” (v.9). Os ouvintes
entendem a mensagem: O sol é seu o pai Jacó, a lua é sua madrasta Lia (Raquel
morreu antes – Gn. 35.19) e as estrelas são os 11 irmãos. Desta vez até mesmo
Jacó censura José: “Quando o contou ao
pai e aos irmãos, o pai o repreendeu e lhe disse: “Que sonho foi esse que você
teve? Será que eu, sua mãe, e seus irmãos viremos a nos curvar até o chão
diante de você?” (v. 10)
O
narrador, mais uma vez observa: “Assim
seus irmãos tiveram ciúmes dele; o
pai, no entanto, refletia naquilo” (v. 11). Ciúmes é uma palavra forte e
neste contexto aponta para um sentimento mais profundo que o ódio. Em outros
lugares da bíblia o ciúme é o último passo para uma ação violenta (Cf. Nm
25.11,13) e essa virá uma hora ou outra.
Aplicação: Em famílias disfuncionais
pessoas, geralmente, respondem pecado com pecado.
Jacó
não foi o pai que deveria ser e José não é melhor irmão do mundo, mas seus
irmãos não são diferentes destes pecadores. Indistinção é claramente vista
quando eles respondem pecado com pecado.
Em muitas casas a cena é a mesma só mudam os personagens e as circunstâncias.
Você já deve teve ter respondido com raiva porque sua esposa não foi submissa.
Você já deve ter sido insubmissa porque seu marido não foi pulso firme. Você já
deve ter disciplinado com ira a desobediência de seu filho ou filha. Você já
deve ter desonrado seu pai porque o testemunho dele não é dos melhores. Você já
deve ter gritado quando alguém gritou para você. Em famílias disfuncionais normalmente as pessoas respondem pecado com
pecado.
Qual
é o resultado de tudo isso? Sentimentos pecaminosos que ganham forças. O ódio
se transformou em mais ódio, que se tornou ciúmes, que deu à luz a ira, a qual,
por sua vez gerou um profundo sentimento de vingança. A arena está pronta para
uma ação mais drástica. A vingança é um sentimento que reina no coração de seus
irmãos. O pecado está a porta, será que eles vão dominá-lo? (Gn 4:7).
Uma
nova cena em um novo lugar é descrita: Os irmãos de José tinham ido cuidar dos
rebanhos do pai, perto de Siquém (v. 12). Os irmãos estão na labuta e o
favorito José em casa. Israel, então, disse a José: “Como você sabe, seus irmãos estão apascentando os rebanhos perto de
Siquém. Quero que você vá até lá”.
“Sim, senhor”, respondeu ele (v. 13). Disse-lhe o pai: “Vá ver se está tudo bem com os seus irmãos e
com os rebanhos, e traga-me notícias” (v.14). A preocupação de Jacó é
justa. Foi em Siquém que o sague de Diná foi vingado, por isso, os moradores
desta região podem não desejar o bem para os descendentes de Jacó, mesmo neste
tempo de paz (Gn 34. 25,27,30).
José
segue o seu caminho, mas se perde (v.14), todavia “um homem o encontrou vagueando pelos campos e lhe perguntou: “Que é que
você está procurando?” Ele respondeu: “Procuro meus irmãos. Pode me dizer onde
eles estão apascentando os rebanhos?” Respondeu o homem: “Eles já partiram
daqui. Eu os ouvi dizer: ‘Vamos para Dotã’”(vv. 15-17). Assim José foi em
busca dos seus irmãos e os encontrou perto de Dotã. José agora está longe não
apenas da casa, mas da proteção do seu pai. O que acontecerá?
O
foco sai de José para seus irmãos. Uma nova cena é iniciada e o leitor dentro
do cenário pode ouvir suas falas: “eles o
viram de longe e, antes que chegasse, planejaram matá-lo” (v. 18). “Lá vem aquele sonhador!” [provavelmente
o identificando sua túnica que sempre despertava ódio quando vista] (v.19). “É agora! Vamos matá-lo e jogá-lo num destes
poços, e diremos que um animal selvagem o devorou. Veremos então o que será dos
seus sonhos” (v.20). Dizem que foi o seu madruga que disse que “a vingança
nunca é plena, mata a alma e a envenena.” Mas eles não dão a mínima para isso. Os
sonhos ainda estão atravessados na garganta e eles achavam que matando José
destruiria também seus sonhos. E assim, inclinasse diante dele nunca seria uma
realidade.
Aplicação: Em
famílias disfuncionais os pecados não são tradados o tempo certo.
As
pólvoras são acumuladas e só depois que a bomba explode é que se para juntar os
cacos e reconstruir as coisas. Salomão
estava certo quando disse: “... o ciúme é tão inflexível quanto a sepultura”
(Ct 8:6). Quando se permite que o ciúme cresça e se inflame, suas consequências
são devastadoras. Mágoas de anos vem à tona em uma discussão, quando deveriam
ser tratadas quando a ofensa se deu. A frieza de um relacionamento conjugação
vira pauta de um aconselhamento quando o adultério acontece. Você pede ajuda
para cuidar de seus filhos quando eles já estão com as malas prontas para sair
de casa. Em famílias disfuncionais os
pecados, normalmente, não são tratados no tempo certo.
Vamos volta a história. O palco para a cena
mais drástica está pronto, no entanto, “quando
Rúben ouviu isso, tentou livrá-lo das mãos deles, dizendo: “Não lhe tiremos a
vida!” (v. 21) E acrescentou: “Não
derramem sangue. Joguem-no naquele poço no deserto, mas não toquem nele”. O
narrador destaca “Rúben propôs isso com a
intenção de livrá-lo e levá-lo de volta ao pai” (v 21).
O
drama continua e os irmãos de José resolvem seguir o conselho de seu irmão: “Chegando José, seus irmãos lhe arrancaram a
túnica longa, agarraram-no e o jogaram no poço, que estava vazio e sem água”
(v. 23-24). Eles não tiram sua vida, mas destitui de sua posição real
arrancando sua túnica na tentativa de matar seus sonhos. O narrador sutilmente
aponta para a providência divina ao lembrar que o “poço, que estava vazio e sem água.” Ele não se afoga continua vivo,
mas sem o que fazer diante das imigres e altas paredes do poço (algo em torno
de 2-6 metros).[8]
Seus
irmãos, então, se veem livres para assentarem para comer seus sanduíches de
húmus e pão sírio, como se aquele fosse mais um dia comum. Enquanto comiam
calmamente, “viram ao longe uma caravana
de ismaelitas que vinha de Gileade. Seus camelos estavam carregados de
especiarias, bálsamo e mirra, que eles levavam para o Egito” (v. 25). Judá,
que não é o mais velho, mas parece ser um dos líderes disse a seus irmãos: “Que ganharemos se matarmos o nosso irmão e
escondermos o seu sangue?” (v. 26). Judá lembra que José é seu irmão e o
senhor veria o sague dele como viu o de Abel quando foi morto por Caim, e ele
certamente os castigaria (Gn 4.10-11).
Uma
proposta “ganha-ganha” é descrita: “Vamos
vendê-lo aos ismaelitas. Não tocaremos nele, afinal é nosso irmão, é nosso
próprio sangue”. Eles não precisarão esconder o sague de José que
provavelmente morrerá como escravo não muito tempo depois. Assim, ele será
morto do mesmo modo, mas eles estariam livres de confusão e ainda ganhariam uns
trocados. A vida de José seria roubada de uma maneira ou de outra, então, vendê-lo
para escravidão ou assassiná-lo é uma falsa distinção que não apresenta nenhuma
diferença.[9]
Os
seus irmãos concordaram e o plano é posto em ação: “Quando os mercadores ismaelitas de Midiã se aproximaram, seus irmãos
tiraram José do poço e o venderam
por vinte peças de prata aos ismaelitas, que o levaram para o Egito” (v.
28). Em português o nome José aparece apenas uma vez, mas no original 3 vezes.
A repetição de nome próprio, é propositalmente usada para lembra que este era o
José filho favorito de Jacó. Que este era o sonhador. Seus sonhos se tornariam
pesadelos? Deus prometeu que escolheria os doze filhos de Jacó e os tornaria em
uma comunidade harmônica de adoradores, a nação de Israel. Essa promessa seria
anulada? E quanto ao Messias que descenderia da mulher e esmagaria a cabeça da
serpente? Essas são perguntas que ficam no ar.
Rúben,
que evidentemente está em outro lugar quando tal cena acontece, “voltou ao poço e viu que José não estava lá,
rasgou suas vestes” (v.29) e, voltando a seus irmãos, disse: “O jovem não está lá! Para onde irei agora?”
(v.30). Como primogênito ele é responsável pelo irmão. O que dirá para seu pai?
Ou melhor o que eles dirão ao seu
pai?
Eles
decidem voltar a parte do mencionado plano A. “Então eles mataram um bode, mergulharam no sangue a túnica de José e a
mandaram ao pai com este recado: “Achamos isto. Veja se é a túnica de teu filho”
(vv. 31,32). Tecnicamente eles omitiram, mas não mentiram, se é que esta
distinção pode ser feita.
Déjà vu.
Essa cena já foi vista antes em Gênesis com outros personagens. Ironicamente os
irmãos de José agora estão prontos para enganar seu velho pai com a roupa do
irmão, como este fizera no passado quando enganou seu velho pai Isaque
(27.9-27).
Aplicação: Em
famílias disfuncionais costuma-se imitar os pecados dos outros.
Um
tempo atrás li um livro do Paul Tripp (“Em busca de algo maior”) enquanto
escrevia uma série de aulas para editora cultura cristã. Neste livro ele fala
que existe o nosso reino do eu e nós sempre civilizamos os que estão a nossa
volta. Nós tornamos os que estão a nossa volta parecidos conosco, isso tanto
para o bem ou como para o mal. A maridos que tratam as esposas como o pai
tratava sua mãe. Há esposas que já falam no mesmo tom do marido na hora da
briga. Há filhos que já contam as mesmas mentiras do pai. Em famílias disfuncionais costuma-se imitar os pecados dos outros. Então,
aqui estão os filhos de Jacó imitando seu pai. Com isso a tenção volta a crescer.
Eles serão bem-sucedidos na empreitada? Seu pai acreditará nesta
cinematográfica história?
A
tenção longo se desfaz. Jacó a reconheceu e disse: “É a túnica de meu filho! Um animal selvagem o devorou! José foi
despedaçado!” Então Jacó rasgou suas vestes, vestiu-se de pano de saco e chorou
muitos dias por seu filho. Todos os seus filhos e filhas vieram consolá-lo, mas
ele recusou ser consolado, dizendo: “Não! Chorando descerei à sepultura para
junto de meu filho”. E continuou a chorar por ele” (vv 33-35). Perceba, que
o favoritismo de Jacó por José mais uma vez. Seu pranto é de um pai que perdeu
seu único filho. Suas esperanças e sonhos estavam em José. Parte de Jacó morreu
naquele momento.
Conclusão
Acabamos
de ouvir a história que narra imaturidade de José; o favoritismo de Jacó, e finalmente,
o
ódio de seus irmãos. Duas perguntas hermenêuticas precisam
ser respondidas agora para entendermos porque essa é uma história de esperança
e não de desespero como à primeira vista parece ser: Qual é a intenção do autor ao escrever esta
passagem? O que ele queria que soubéssemos?
Você
não pode deixa de entender o contexto do texto. Quando Moisés escreve este
livro o povo estava no deserto. Os perigos eram incontáveis e essa é uma
mensagem de esperança. Como já vimos no início desta mensagem, mais cedo no
livro de Gênesis, o Senhor afirmara que de Jacó viria uma comunidade de nações
(Gn 35.11; cf. 28.3). Em contraste com as gerações anteriores – em que Deus
soberanamente escolheu um membro da família, em vez de outra, para portar a
linha da promessa (elegendo Isaque sobre Ismael, e Jacó sobre Esaú), dessa vez,
Deus prometeu que escolheria os doze filhos de Jacó e os tornaria em uma
comunidade harmônica de adoradores, a nação de Israel.
No
entanto, contra todas as probabilidades dos esquemas de homens pecadores,
incluindo aqueles a quem escolhera, Deus está realizando seu alvo. Essa é a
razão pela qual o narrador termina a trágica história da família de Jacó com
uma nota de esperança. Enquanto Jacó chora, enquanto os irmãos de José agem
como hipócritas e quando a promessa parece ser nula o narrador afirma: “Nesse meio tempo, no Egito, os midianitas
venderam José a Potifar, oficial do faraó e capitão da guarda” (v. 36).
Não
precisa fazer suspense, pois você sabe o final da história. Esse menino imaturo
se tornaria um homem forjado no sofrimento, que seria fiel a Deus mesmo quando
foi questionado e desafiado pelos egípcios; leal a Deus e ao seu senhor mesmo
quanta a tentação descaradamente batesse em sua porta; paciente quando
esquecido na prisão por aqueles a quem estendeu a mão; sábio para agir bem
diante das decisões mais difíceis não mais de uma vida, uma família, mas sim de
uma nação; perdoador e misericordioso para com os pecadores que contra ele
praticaram o mau!
O
que dizer de seus irmãos? Esses teriam um dia seus pecados expostos e seus
corações mudados. Tomemos por exemplo Judá. Esse experimentaria uma
transformação profunda. É verdade que nós vamos vê-lo domingo que vem possuindo
uma prostituta na beira de uma estrada, e depois, hipocritamente insistir que
sua nora deveria ser morta em sua de sua promiscuidade. Mas, Deus forjaria o
caráter deste também ao ponto de finalmente, ao ver seu irmão preso, se dispor
para entregar a própria vida por ele, de modo que o coração do pai não se
despedaçasse novamente. Deus prometeu que escolheria os doze filhos de Jacó e
os tornaria em uma comunidade harmônica de adoradores, a nação de Israel, e Ele
fez isso. Na verdade, o próprio povo que agora ouve essa mensagem no deserto é
fruto desta transformação.
Moisés
que que seu povo entenda, então, que Deus tem comprido esta promessa. Ele está
levando seu povo a maturidade. Ele está expondo os seus pecados. Ele está
transformando suas vidas. Tudo isso é pela graça, e é por isso, que até mesmo
um velho de 85 anos como Jacó carece da graça de Deus tanto quando seu filho de
17 anos. Não depende de quem quer ou de quem corre, mas de Deus usar sua
misericórdia e graça transformadora. Ninguém pode ser salvo por suas próprias obras,
pois vejam vocês, elas não são justas.
Mas
é não apenas a história de Jacó, José e seus irmãos. Existe alguém que é maior
Jacó. Existe alguém que é maior que José. Existe alguém que é maior que Judá. Essa
é a história daquele que viria para expor os nossos pecados e transformar
nossas vidas. Essa, também, é, a história de Jesus. Essa é a história do
verdadeiro israelita que seria a verdadeira esperança para famílias
disfuncionais como a de Jacó, a minha e a sua. Além disso, essa é também a
nossa história, pois fomos perdoados e inseridos em sua família. Eu sei que
Deus está nos levando por caminhos de sofrimento. Eu sei que Deus está expondo os nossos pecados. Mas ele tem feito isso para que
você entenda que em Cristo ele provê maravilhosa esperança e descanso para
pessoas feridas e famílias disfuncionais.
Quando
Frederick Watts pintou o seu quando ele queria que quem o contemplasse, logo se
perguntasse: “Por que ele o chamou Esperança e não Desespero?” Entretanto, ao
olhar mais atentamente logo descobrisse que a resposta está na única corda da
lira que não se quebrou. A jovem mulher não pode ver brilhar as estrelas que
estão acima da esfera celeste onde se senta; uma a uma as doces notas de música
foram-lhe arrancadas, mas ela continua sentada, inclinada, mas não vencida nem
quebrada, arrancando, com os finos dedos, a melodia possível da última corda
que resta das tantas harmonias possíveis, cheias de beleza que antes ouvira.
Ainda
há uma corda. Ainda há esperança! Podemos voltar a sonhar, podemos ter esperança!
Existe uma corda que resistiu bravamente e nunca se quebrou. Aquele que nunca
desonrou o seu pai, nos faria semelhantes a ele. Aquele que sempre teve o seu
amor ordenado, nos faria semelhantes a ele. Aquele que nunca foi maldizente,
nos faria semelhantes a ele. Aquele que nunca respondeu pecado com pecado, nos
faria semelhantes a ele. Aquele que levou o pecado a sério, nos tornaria
semelhante a ele. Nossas famílias podem deixar de ser disfuncionais em Cristo,
essa a boa-nova do evangelho. Ele é a razão de nossa esperança.
Finalmente,
como podemos responder a esta mensagem? Com confiança! É verdade que a história
de José suscita uma série de perguntas existenciais: Onde está Deus quando ele
lançado no poço? Onde está Deus quando ele é vendido como escravo? Onde está
Deus quando vai injustamente parar na prisão? Onde está Deus quando ele
injustamente é esquecido na prisão? Onde está Deus? Onde está Deus? Onde está
Deus? A resposta para todas essas perguntas é a mesma: Deus está por trás do
cenário trabalhando misteriosamente para cumprir o seu plano na vida de José,
de seu pai e seus irmãos. Aprenda, então, isso: Você pode não entender os planos de Deus, mas você não pode duvidar que
ele tem um plano para sua vida!
Seus feitos são misteriosos, mas sempre cooperam para o bem daqueles que o amam.
Ninguém
captura de maneira mais bela essa verdade que William Cowper. Este escritor de
hinos, confiava (não perfeitamente, mas perseverantemente) que Deus nossa providência
misteriosa e enlouquecedora estava fazendo maravilhas sua vida marcada pela dor.
O hino “Deus se move de um modo misterioso” é uma combinação de afirmações
sobre a bondade, soberania e sabedoria de Deus, juntamente com comandos para
ter coragem e confiança nele. O uso que este grande poeta fez de metáforas,
tais como tempestades, minas, sorrisos e flores, ilustra esse significado de
maneira atemporal. O hino é uma bela expressão do tipo de fé que sustentou
Cowper durante longos períodos de escuridão e desespero. Leia, ouça, cante! A
história da redenção é a esperança para famílias disfuncionais!
Misteriosos feitos
são
As obras
do meu Deus
Caminha
sobre o temporal
O vento e
o mar são seus
Está no
oculto a trabalhar,
Mui hábil,
sem falhar.
Os Seus
desígnios faz valer.
Quão
grande é seu poder!
Meu Deus, confio em ti
Meu Deus, confio em ti
Oh crentes
que temeis a Deus
Só nele
confiai
Por trás
das nuvens negras vem
O amor do
vosso Pai
Não
julgues pelo teu sentir
Sua graça
há de suster
Por trás
do seu penoso agir
Sua face
podes ver
Meu Deus, confio
em ti
Meu Deus,
confio em ti
E se eu
chorar, me entristecer
Em tua paz
continuarei
Confio em
ti
Propósitos
vão se mostrar
Em todo o
acontecer
Sementes
podem amargar
Pra doce
fruto ser
O homem
cego há de errar
Juízo vão
é seu
Só Deus
lhe pode interpretar
A história
que escreveu
[1] DUGUID, Iain M. e
HARMON, Matthew P. A firme esperança: O evangelho segundo José. São Paulo: Cultura
Cristã, 2016. p. 12
[2] Ibid
[3] GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Gênesis:
fundamentos para sermões expositivos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pp.
390-391
[4] DUGUID, Iain M. e
HARMON, Matthew P. A firme esperança: O evangelho segundo José. São Paulo: Cultura
Cristã, 2016. p. 13
[5] Cf. José: Mesmo quando a família não ajuda
in SANTOS, Valdeci da Silva. O triunfo da
graça na vida prática: como a graça de Deus opera em diferentes áreas da vida
humana, sobre as fraquezas. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
[6] GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Gênesis:
fundamentos para sermões expositivos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pp.
391
[7] GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Gênesis:
fundamentos para sermões expositivos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pp.
391
[8] GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Gênesis:
fundamentos para sermões expositivos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pp.
391
[9] DUGUID, Iain M. e
HARMON, Matthew P. A firme esperança: O evangelho segundo José. São Paulo: Cultura
Cristã, 2016.
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