Parábola dos dois devedores - Lucas 7. 36-50
Parábola dos dois devedores
Texto: Lucas 7. 36-50
Tema: “Quem recebe pouca graça, demonstra pouco amor”
Estrutura do texto:
Cena 1: Uma recepção imerecida v. 36
Cena 2: Uma honra merecida vv. 37,38
Cena 3: Um julgamento cego vv. 39, 40
Cena 4: Uma parábola sobre a Graça. Vv. 41-42
Cena 5: Uma única resposta possível v. 43
Cena 6: Atitudes contrastantes vv. 44-48
Cena 7: Um final sem fim vv. 49-50
TEMA: “Quem recebe pouca graça, demonstra pouco amor”
Texto: Lucas 7:36-50
CENA 1 - UMA RECEPÇÃO IMERECIDA.
36 Convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa.
Por que Jesus foi convidado pelo fariseu? Por que ele era um grande mestre e ele queria honrá-lo? A falta de decoro do hospedeiro deixa claro que não. Especificamente dentro do contexto judaico, caso não se tratasse de um ato meritório, era, no mínimo, uma honra receber um mestre respeitado para uma refeição. Ao chamar Jesus de mestre, os fariseus acabaram lhe concedendo um título de honra e respeito, como Mateus 23:8-10 e outros textos deixam claro. O fato das pessoas se reclinarem nas refeições indica que se tratava de uma ocasião relativamente formal, e que alguns protocolos deveriam ser seguidos. Esperava-se, então, que fosse oferecida Jesus, o maior de todos os mestres, a recepção mais refinada conhecida até em tão.
O doutor da Lei, no entanto, deixou de fora todos os rituais básicos de hospitalidade, que ele não poderia ter feito sem má intenção deliberada. Ele estava tratando Jesus não como um convidado de honra, mas como uma pessoa muito inferior. O costume na época ditava que quando um convidado entrasse em sua casa, o anfitrião iria cumprimenta-lo na porta com um beijo, no rosto se fossem iguais (dois mestres por exemplo) ou na mão se fossem diferentes (no caso de mestres e discípulos, por exemplo; no jardim, Judas não beijou Jesus no rosto, como é a opinião popular, mas nas mãos). Levison, um cristão hebreu palestino, assevera que “no caso de um Rabi todos os membros do sexo masculino esperavam na porta da casa, e beijavam em sua mão”.[2] Em seguida, a água e o azeite de oliva eram trazidos para lavar as mãos e os pés do hóspede. Em alguns casos, o anfitrião ungia a cabeça do convidado com o óleo. Todavia, nenhuma dessas cortesias foram estendidas a Jesus por Simão. Foi uma terrível quebra de protocolo e boas maneiras.
Como corretamente observa Tristam, omitir esta cortesia seria dar a entender que o visitante era de posição social inferior. Por isso, diante de uma situação dessa, a maioria dos rabinos teria deixado a casa de Simão, após ter sido tratado de forma tão rude. Simão estava, assim, desafiando diretamente e publicamente a autoridade de Jesus.[3] Normalmente, porque Simão foi tão claramente rude para com Jesus, ele esperava que Jesus não fosse ficar e que deixasse a reunião, não permanecendo assim na humilhação, mas Jesus permanece.
CENA 2: UMA HONRA MERECIDA
37 Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro[4] com perfume, 38 e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. Lucas 7:37-38
A mulher, que era conhecido na cidade[5] como pecadora, soube que Jesus iria comer na casa de Simão, naquele dia, de modo que ela estava presente quando Jesus chegou. A interpretação mais aceita, porém ainda incerta,[6] é que a mulher era uma prostituta.[7] O isolamento de certos alimentos e sobre tudo de pessoas impuras era essencial para um fariseu quando se assentava para comer. Por essa razão, a presença da mulher e suas ações subsequentes, foram extremamente ofensivas para o fariseu e seus outros convidados, eles a enxergava como uma pecadora.
Agora, como é que esta mulher conseguiu entra na casa de Simão? Nenhum fariseu a teria como uma convidada para um jantar, como fica evidente pelo fato de que os fariseus criticavam Jesus por comer com os pecadores. A mulher, na verdade, estava lá não como convidada, mas como uma daquelas pessoas que foi autorizada a observar a refeição, mas sem participar da mesma. Essas pessoas sentavam-se calmamente no chão, contra a parede, e no final da refeição eram alimentadas pelas sobras. Sua presença era um elogio para o anfitrião, que era por essa razão, visto como tão nobre que alimenta os pobres da comunidade. Os rabinos insistiam que as portas fossem abertas quando a refeição estava em andamento para que não “faltasse comida” (ou seja, para que não fechasse as portas para as bênçãos de Deus).
Por que ela estava lá? Qual foi a razão para sua atitude para com Jesus? É provável que ela estava lá porque tinha ouvido as palavras Jesus em um momento anterior a este encontro e foi por elas transformada. Alguém que fora alcançada pela graça e agora vive a alegria da salvação. No entanto, testemunhando[8] a fria recepção e um insulto que Jesus recebeu por Simão a deixou profundamente triste. Simão não tinha lavado os pés de Jesus, um sinal claro de que ele o considerou inferior. Ele, também, não tinha se quer oferecido água para que Jesus mesmo lavasse os seus próprios pés. Não foi dado nenhum beijo de saudação. Jesus foi, assim, desonrado publicamente. Ao ver isto a mulher chora. E, Possuída por um sentimento de devoção e talvez de uma ira santa, oferece a Jesus a honra que ele merecia, mas não tinha recebido. Ela evidencia seu a amor e devoção por meio de três gestos traumáticos:[9]
Com lágrimas ela lava seus pés e com um gesto supreendentemente íntimo, desata o cabelo para enxugá-lo. Isso significa que as lágrimas não foram premeditadas, que elas eram muitas e que, na falta de uma toalha, o cabelo dela era o único meio à mão para secar os pés de Jesus.[10]
Sentindo-se indigna de beijar até mesmo suas mãos, ela “beija repetidamente” (essa é a ideia do verbo [Gr. Katephilei – imperfeito] no original) seus pés. Beijar os pés de uma pessoa era a forma mais extrema de se expressar honra, gratidão e submissão. Era, também, um ato de suprema humildade.
Com um perfume, que era muito caro[11] na época (custando até um ano de salário de um trabalhador médio neste período), ungiu[12] os pés[13] de Jesus, como expressão de gratidão por aquilo que Jesus tinha feito por ela. No Talmude[14] há uma história de um homem acusado de assassinato que beija os pés do advogado que foi absolvido e, assim, salvou sua vida.[15]
Bailey observa que toda ação dramática é conduzida sem palavras, e de fato, a linguagem é inútil na presença de expressões tal caras e ternas de devoção e gratidão. Assim, se por um lado o gesto de Simão dá a entender que Jesus estava em posição social inferior, o ato da mulher lhe atribui a honra de um nobre na casa de um rei.[16]
CENA 3: UM JULGAMENTO CEGO V. 39, 40
39 Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora’ ".
“Se este homem fosse profeta”. Esta frase, na língua grega, é uma sentença condicional de segunda classe, que expressa algo ao contrário ao fato ou irreal. A forma desta frase mostra que Simão não acreditava que Jesus fosse um profeta. Esta é uma construção frasal singular, que seria entendida como "Se este homem fosse profeta, o que ele não é, ele saberia quem e que tipo de pessoa é essa mulher que o toca”.[17] O argumento de Simão, no entanto, se mostra falacioso, pois sua asseveração apresenta uma condição que é verdade, mesmo ele assumindo que não é verdadeira.[18] Observe, ainda, que Simão se dirigiu a Jesus como “professor” (Gr. didaskale, equivalente “rabino” cf. 9.38; 20.21,38; 21.7; 22.11), menos do que um profeta.
Todo o terceiro Evangelho as pessoas estão sempre vendo Jesus e suas obras, e isso leva alguns a acreditar, mas outros não. E este é o tema da seção que precede o episódio na casa de Simão, o fariseu. A cena do jantar vem na sequência da investigação dos discípulos de João Batista feita a Jesus: “És tu aquele [profeta] que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Lc 7.20). O versículo seguinte exclama: “aquele momento Jesus curou muitos que tinham males, doenças graves e espíritos malignos, e concedeu visão a muitos que eram cegos” (Lc 7.21). Jesus então responde aos discípulos de João: “Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos veem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres;” (Lc 7.22). E conclui: “Feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa” (7:23). A questão é como as pessoas avaliam o que veem e ouvem a respeito de Jesus: Eles creem nele? ou eles se ofendem?
Na cena seguinte (7.24-35), depois que mensageiros de João foram embora, Jesus fala às multidões. Ele as interroga sobre o que elas viram no deserto quando seguiram João. Três vezes ele pergunta de forma retórica: “que vocês foram ver no deserto?”: “um caniço agitado pelo vento?” (V. 24). “O que foram ver? Um homem vestido de roupas finas?” (V. 25). E novamente: “Afinal, o que foram ver? Um profeta?” (V. 26). A questão de ver um profeta, criado verso 26, prepara o caninho para a objeção de Simão no v. 39, que, se Jesus fosse um profeta, saberia quem e que tipo de mulher o estava tocando.
Os versículos 29-30 mostram que, com Jesus, assim como foi com João antes dele, alguns estavam dispostos a ver o profeta e se converter a Deus; os outros não. O versículo 29 afirma, de um lado, que “todo o povo, até os publicanos, ouvindo as palavras de Jesus, reconheceram que o caminho de Deus era justo, sendo batizados por João.” Por outro lado, “os fariseus e os peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados por João” (v. 30). A parábola nos versos 31-32 continua a contrastar respostas reais para dadas a mensagem do reino: “A que posso, pois, comparar os homens desta geração?’, prosseguiu Jesus. ‘Com que se parecem? São como crianças que ficam sentadas na praça e gritam umas às outras: Nós lhes tocamos flauta, mas vocês não dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não choraram’”. A menção de choro conduz todo drama de Lucas 7.36-50, onde a mulher, que exemplifica a resposta desejada está por trás de Jesus, “a seus pés chorando” (v 38).
Na sequência a parábola “dos filhos no mercado” (vv. 33-34) retorna à questão de ver. Para aqueles determinados a não “ver” o caminho que conduz à fé, eles vão ver o que querem: em João, “que jejua e não bebe vinho” eles veem um homem “possuído por um demônio” (v. 33); em Jesus, que “veio comendo e bebendo” veem “um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (v. 34).
Agora descobrimos a razão pela qual Simão convidou Jesus para Jantar. Ele queria testá-lo para ver se era ou não um profeta. Para o fariseu, Jesus não poderia ser um profeta por não compreender o tipo de mulher que o havia tocado, mas, com certa ironia da narrativa, Jesus mostra que é um profeta “justamente” por saber o que está no coração dos fariseus e “ainda mais” que um profeta porque anuncia o perdão dos pecados. [19]
Cena 4 - Uma parábola sobre a Graça.
40 Respondeu-lhe Jesus: “Simão, tenho algo a lhe dizer”. “Dize, Mestre”, disse ele. 41 “Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. 42 Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos”.
Respondeu-lhe Jesus: “Simão, tenho algo a lhe dizer”. “Dize, Mestre”, disse ele. Alguns comentaristas dizem que temos aqui um pedido de licença, feito por Jesus, para falar. Mas, é mais provável que essa seja uma expressão idiomática que introduz um discurso brusco que o ouvinte pode não querer ouvir. [20] Jesus agora faz algo que é muito culturalmente inaceitável. Ele critica seu hospedeiro. Jesus teve a coragem de confrontá-lo com o seu comportamento na frente de todos outros convidados.[21] Seu confronto começa com uma breve e simples parábola: “Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos”. Lucas 7. 41,42.
O endividamento era um problema social terrível no mundo antigo. Muitas pessoas se identificaram com esta história. Um denário representava o pagamento de um dia para um trabalhador comum. Portanto, a primeira pessoa citada na parábola devia pouco mais do que o seu salário de um ano e meio de trabalho, e a segunda devia cerca de dois meses.[22]
Ambos os devedores foram incapazes de pagar. Para ambos a dívida fugira de seu controle. Não importava quem devia mais ou menos. Ambos estavam falidos. Assim, os dois devedores são nivelados pela incapacidade de pagar a dívida e necessidade de perdão. Imagine uma pessoa se afogando em 50 metros de água e outra se afogando em 500 metros. Seria ridículo se a pessoa em 50 metros de água olhasse para que se encontra em 500 metros e pensasse: “Bem, pelo menos eu estou melhor do que aquele pobre coitado!” E, não faria nenhum bem para a pessoa em 500 metros de água a pensar: “Se eu conseguir nadar até onde esse cara estar, em 50 metros de água, eu vou ficar bem!” Ambos estão em apuros, pois ambos não “dão pé”. Ambos precisam de um salva-vidas.
O verbo usado para o cancelamento da dívida tem sua raiz na palavra grega “charis”, que é muitas vezes traduzido como “graça”. Este termo é muito usado por Paulo no sentido de oferecer graça. É isso que o credor faz! Quanto mais você vê a sua dívida e sua própria incapacidade de pagá-la, mais você vai ver o quanto o Salvador fez por você quando Ele sofreu a pena em seu lugar na cruz.
CENA 5: Uma única resposta possível v. 43
42c “Qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: "Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior". "Você julgou bem", disse Jesus.
Existe certa semelhança de forma entre esta parábola e a do Bom Samaritano (Cf. Lc 7.42 e Lc 10.36). Jesus usa uma forma modificada do método Socrático em ambas. Este recurso retórico consiste em uma técnica de investigação filosófica feita em um diálogo no qual o professor conduzir o aluno a um processo de reflexão e descoberta dos próprios valores. Para isso ele faz uso de perguntas simples e quase ingênuas que têm por objetivo, em primeiro lugar, revelar as contradições presentes na atual forma de pensar do aluno, normalmente baseadas em valores e preconceitos da sociedade (o espírito da época) e não da verdade absoluta.
Ao contar a parábola e depois pedir uma resposta óbvia a Simão, diante da qual Ele tira uma conclusão final, Jesus o leva a pensar por si mesmo e de forma pública redefinir seus valores. Evidente, que pelo fato de Simão ter entendido a “arapuca” que acabara de entrar, a resposta veio com certo tom de desdém: "Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior". Mas Jesus pouco se importa com maneira. Ele se concentra no conteúdo da resposta e assevera: "Você julgou bem".
CENA 6: ATITUDES CONTRASTANTES
44 Em seguida, virou-se para a mulher e disse a Simão: "Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com as suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. 45 Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. 46 Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. 47 Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama". 48 Então Jesus disse a ela: "Seus pecados estão perdoados".
Jesus estava levando Simão a olhar aquela mulher como pessoa alcançada pela graça e não como uma pecadora. Ele não entendeu que ela era uma pessoa perdoada porque foi amada por Deus. Ela poderia ser uma convidada porque faz parte da comunhão dos santos. Jesus queria, assim, transformar a visão que Simão tinha da mulher em particular, e através disso, das pessoas em geral.[23]
Observe que Jesus se dirige a Simão, mas enquanto fala olha para mulher. Assim, a ênfase não é em o que Simão deveria fazer e não fez, mas sim no que a mulher fez. Jesus estabelece uma série de contrates.
Chegamos a verso de maior divergência do texto: 47 Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama" (NVI).
A Bíblia na versão ARA o traduz assim: 47 “Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (destaques meus). Uma leitura rápida e desatenta pode levar ao entendimento de que o perdão de Jesus veio como um efeito do amor demostrado pela mulher. Assim, alguns teólogos enfatizam a palavra “amor” e transforma-o em um novo requisito para o perdão e aceitação. No entanto, O amor é certamente o subproduto de um relacionamento pessoal com Deus através de Cristo, mas não é o critério de aceitação. Aceitação é baseado na obra consumada e completa do Filho. Os seres humanos devem responder em arrependimento e fé.[24]
Existem elementos textuais que sustentam esta tese. Em primeiro lugar, o verbo “perdoados” (χάριν) no verso 47 está no tempo perfeito, isso significa na língua grega, que essa é uma condição presente resultada de uma ação passada. Em segundo lugar, o texto diz claramente que a mulher era uma pecadora, mas o tempo verbal no versículo 37 é imperfeito, que tem a conotação de “costumava ser”. Em outras palavras, ela era uma pecadora (que vivia na prática do pecado), mas não vive mais agora. Finalmente, essa afirmação é aplicação da parábola. Nela, como vimos anteriormente, primeiro vem o perdão depois o amor: 42c “Qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: “Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior”. "Você julgou bem", disse Jesus.
A cena continua: “Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama” v. 47. Essa frase pode ser entendida de duas maneiras: A primeira, Jesus está dizendo: Simão você é um homem reto e tem poucos pecados. Está era uma grande pecadora, por isso ela amou muito! A segunda, e a mais provável, é: “Você Simão tem muitos pecados (tais como orgulho, arrogância, dureza de coração, espírito julgador, insensibilidade, e incredulidade) como eu acabei de te mostrar. Você tem pouca percepção deles e não se arrependeu. Por isso, você foi perdoado pouco e assim ama pouco.[25] Logo, o ponto da parábola é que o amor é a resposta correta a graça, favor imerecido; aquele que foi perdoado da maior dívida e que mais ama é o que mostra mais gratidão.
Cena 7: Uma conclusão inconclusiva.
49 Os outros convidados começaram a perguntar: “Quem é este que até perdoa pecados?” 50 Jesus disse à mulher: “Sua fé a salvou; vá em paz”. Os outros convidados começaram a perguntar: “Quem é este que até perdoa pecados?” 50 Jesus disse à mulher: "Sua fé a salvou; vá em paz".[26]
Não há nenhuma indicação da resposta de Simão. Será que ele entendeu as palavras de Jesus? Ele viu que ele estava errado em seu julgamento da mulher? Será que ele aceitou que ela era alguém que tinha muitos pecados perdoados e, portanto, muito amou? Ele viu a si mesmo como alguém que ama pouco? Será que Simão entendeu que ele é um devedor, e assim um pecador que precisa do amor e do perdão de Deus, ou ele continuou focado nos pecados dos outros? Será que ele aceitou que a mulher era perdoada, e que ela agora mudou, e assim ele vai aceitá-la de volta na comunidade? Estas perguntas não são respondidas. Como na parábola do Filho pródigo a história deixa o final em suspense. Os leitores da época, assim como nós hoje, precisam completar a parábola com a nossa reação pessoal ao único agente de Deus de perdão e paz. Confrontado com a mensagem da cruz, o homem reage de duas maneiras: fé ou ofensa! E sua reação, em termos práticos, qual tem sido?
Conclusão: Amarrando os pontos
Simão, um fariseu, convidou Jesus para um jantar em sua casa com a intenção deliberada de insultá-lo e testá-lo. O doutor da Lei deixou de fora todos os rituais básicos de hospitalidade, que ele não poderia ter feito sem má intenção deliberada. Ele estava tratando Jesus não como um convidado de honra, mas como uma pessoa muito inferior. Uma mulher que provavelmente fora alcançada pela graça do Senhor em um momento anterior a este encontro, mas que ainda era adjetivada de “pecadora”; possuída por um sentimento de devoção e talvez de ira santa, oferece a Jesus a honra que ele merecia, mas não tinha recebido. Neste relato, a designação de “pecador” é precisamente inversa: Quem é o pecador? Aquele que se recusa a acolher Jesus como salvador, que não tem experimentado profundamente a graça de Deus e por isso pouco ama. Logo, o fariseu é o pecador aos olhos do verdadeiro profeta que ver o coração e não apenas a ação.
APLICAÇÕES
1. Somos ágeis em apontar o pecado dos outros e lerdos em reconhecermos os nossos.
Eu tenho percebido isso no trânsito. Que diga se passagem tem muita gente ruim (acabei de pecar julgando os outros novamente). Minha esposa me ajudou a enxergar isso de forma mais clara. Eu vivia: ora falando que tinha muita gente estressada que vivia correndo; ora que tinha muita gente lerda que andava como uma tartaruga. Até que a Denise me alertou: “Amor você já percebeu que, quando você está atrasado todo mundo está lento; e quando você ‘está de boa’; todo mundo está estressado e correndo”. E completou citando as palavras de Jesus: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?” Como Simão, nós condenamos atitudes dos outros e nem percebemos que, não poucas vezes, agimos exatamente da mesma maneira. E que também, somos ágeis em apontar os pecados dos outros e lerdos em reconhecermos os nossos.
2. O mal entendimento da graça faz o Pai um ídolo e o verdadeiro faz dele um Deus.
Os atos de amor da mulher são atitudes de agradecimento pela graça recebida e não atitudes para ganhar outras. Jesus é adorado pelo que ele é e não pelo que ele poderia fazer. A igreja mercado brasileira apresenta Deus como um ídolo com se pode barganhar e não um Deus a quem se deve adorar.
3. A adoração é o combustível das missões.
Foi o desejo de ver Jesus sendo honrado, como deveria, que levou a mulher a quebra o protocolo a fim de oferecer a Jesus a honra que lhe era devida. O salmo 96. 8 afirma: “Deem ao Senhor a glória devida ao seu nome, e entrem nos seus átrios trazendo ofertas”. O verbo “Deem” (Wbïh' - yâhab – tributai na ARA), em seu radical primitivo traz a ideia de “dar” algo (normalmente importante), tanto de maneira literal como figurada, e ele é usada tanto para se referir a Deus, como aos homens. Quando usado para Deus, não quer dizer que alguém estar dando-lhe algo que ele já não tenha, mas atribuindo-lhe algo que ele já tem, e assim, apenas dar-lhe o que é devido.[27] Por essa razão, ele expressa a ideia de reconhecimento reverente. Sendo assim, as nações apresentadas nos primeiros versos deste salmo, deveriam reconhecer a sua glória e a sua força propocinalmente a sua margestade.[28] Assim, o objetivo das missões é a alegria dos povos na grandeza do Cordeiro de Deus o Rei dos Reis e mestres dos mestres. Para John Piper, a adoração é o alvo principal da Igreja, o combustível das missões e a razão motivacional para a mesma, pois a principal razão de ser das missões é levar os povos a darem a honra devida ao Senhor Jesus. A paixão por Cristo na adoração precede a apresentação de da boa notícia por meio da pregação. Assim as missões começam e terminam na adoração. Não existe igreja adoradora se ela não for missionária.
Notas
[1] Cf. BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 45
[2] Apud BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 45
[3] Apud BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995
[4] “Alabaster” era uma pedra amarela esbranquiçada, que foi nomeado para a cidade no Egito (Alabastron), no qual ele foi desenvolvido.
[5] Esta cidade ficava norte, possivelmente em Cafarnaum. Os outros Evangelhos registram uma unção por uma mulher na casa de um Simão, perto de Jerusalém.
[6] Para os líderes judeus, quem não cumpriu todas as regras e rituais do Talmud esperados era considerado um pecador (por exemplo, pastores, curtidores)
[7] MORRIS, Leon. O evangelho de Lucas: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986. p. 134.
[8] As palavras de Jesus “desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés”, mostra que ela estava lá antes dele, ou que ela tivesse chegado a tempo de testemunhar a recepção descortês que ele tinha recebido em sua chegada.
[9] Cf. BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995
[10] SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus: guia completo. Rio de Janeiro: 2012
[11] MORRIS, Leon. O evangelho de Lucas: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986. p. 139.
[12] A unção com óleo era um procedimento comum (cf. Dt 28.40; Rt 3.3; SI 23.5), mas a unção com um perfume caro (myron, a palavra citada em Lc 7.37) era incomum. A unção dos pés pode ter sido altamente incomum, e o ato de ungi-los com perfume, aparentemente, além de ser uma extravagância seria quase que certamente um ato ofensivo, especialmente se partisse de uma mulher pecadora. Cf. SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus: guia completo. Rio de Janeiro: 2012
[13] Nestes eventos os outros sociais da cidade que não foram convidados eram bem-vindos para vir e sentar-se ao longo das paredes, procure nas janelas e portas, e ouvir as conversas. Lembre-se que Jesus estava reclinado no cotovelo esquerdo, com os pés atrás dele.
[14] O Talmude (em hebraico: תַּלְמוּד, transl. Talmud) é um livro Sagrado dos judeus, um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo.
[15] BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995
[16] Ibid, p. 47
[17] Cf. https://bible.org/seriespage/luke-7
[18] WALLACE, Daniel. B. Gramática grega: uma sintaxe exegética do novo testamento. São Paulo: Batista Regular, 2009. p. 694.
[19] SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus: guia completo. Rio de Janeiro: 2012. p. 140
[20] BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995.
[21] Ibid
[22] SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus: guia completo. Rio de Janeiro: 2012.
[23] http://directors.tfionline.com/post/stories-jesus-told-two-debtors-luke-73650/
[24] https://bible.org/seriespage/luke-7
[25] BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 57
[26] O Grego é literalmente "vai para dentro da paz" e talvez valha a pena notar que os rabinos sustentavam que "Vai em paz" era apropriado ao despedir-se dos mortos, mas aos vivos deve.se dizer, "Vai para dentro da paz”. Cf. Moed Katan apud MORRIS, Leon. O evangelho de Lucas: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986. p. 141
[27] CALVINO, João. O livro dos Salmos: volume 3: salmos de 69-106. São Paulo: Parakletos, 2002. P. 520.
[28] LAIRD HARRIS, R. et al. Dicionário internacional de teologia do antigo testamento. São Paulo, Vida Nova, 1998. p. 601.
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