O “coração” ou “eu” é o centro de todo ser humano. O conceito de coração nas Escrituras é diferente do da medicina. Enquanto na última ele é a bomba responsável pela circulação sanguínea, na primeira o coração é a raiz central da existência humana e ele está intimamente ligado à mente. Ele é o ponto de concentração de todas as funções temporais da existência humana (do crer, do raciocinar, do sentir, do querer, do agir, etc.).
Quando Teo-referente positivo, dele que procede às fontes da vida (Pv 4: 23), quando negativo, é dele procede às fontes da morte (Rm. 6: 23) É ele quem determina a ação humana "A linha que separa o bem e o mal não passa por estados, nem entre classes, nem entre partidos políticos, mas pelo coração humano".
Quando criado o coração humano era essencialmente bom. Dele coração jorrava o bem, pois a sua vontade era fazer a vontade de Deus. Este coração pré-queda, era intimo de Deus e vivia para Ele.
Embora fosse criado originalmente bom, o mundo foi amaldiçoado por Deus por causa do pecado do homem. Assim como a criação, a queda atingiu proporções universais. A Bíblia ensina que todas as partes da criação, inclusive nosso coração, foram atingidas na grande rebelião contra o Criador.
A queda do homem o afetou como um todo, mas foi na radix, ou seja, o centro religioso e a raiz da existência humana, que ficaram as principais seqüelas do pecado. Ela mudou a direção do coração do homem e, por conseguinte da sociedade e do desenvolvimento histórico-cultural passaram a seguir um caminho marcado pela apostasia e idolatria. Assim, a queda do homem foi radical, afetando toda a raiz humana, não restando nele nada de espiritualmente bom, e a partir dela tudo nele tende à rebelião contra Criador e sua Palavra. O que antes era direcionado para Deus de forma positiva passou a ser direcionado de forma negativa. Como diz Dooyeweerd “ele perdeu o verdadeiro conhecimento de Deus e o verdadeiro auto-conhecimento”. Perdeu a parte da beleza da imagem de Deus que havia nele. O que antes era direcionado para Deus de forma positiva passou a ser direcionado de forma negativa.
A redenção é tão abrangente quanto a criação e a queda. A graça de Deus resgata a pessoa inteira. Por meio de Jesus Cristo, Palavra encarnada e redentora e salvífica, a imagem de Deus tem sido restaurada no radix da natureza humana. A redenção por Jesus Cristo em seu sentido bíblico radical significa a regeneração ou mudança na raiz humana, que é renascimento de coração humano outrora caído, que se dá hoje de forma suficiente, mas parcial e se dará de forma completa a consumação do século e na manifestação plena do Reino.
A conversão tem o propósito de dar nova direção aos nossos pensamentos, emoções, vontade e hábitos. Paulo nos exorta a oferecer nosso "eu" a Deus como "sacrifício vivo", de forma a não sermos conformados com este mundo, mas sermos transformados pela renovação de nossa mente (Rm 12.1,2), que nas Escrituras sempre está intimamente ligada ao coração. Quando fomos remidos, todas as coisas se fizeram novas (2 Co. 5.17). Deus promete nos dar "um coração novo" e "um espírito novo" (Ez 36.26), e transformar nosso caráter com vida nova.
Sendo assim, falar sobre uma cosmovisão cristã é outro modo de dizer que, quando somos redimidos, toda nossa perspectiva de vida é recentralizada em Deus e reconstruída em sua verdade revelada. Logo a única cosmovisão que apóia as mais altas aspirações do coração humano é o cristianismo. Qualquer ideologia veja o homem sem as lentes da Criação-Queda-Redenção, será uma visão distorcida de uma falsa cosmovisão.
Essa é a razão pela quais os sistemas globais de pensamento formados pelos não-crentes (Teo-referentes negativos) sempre serão falsos, pois, o sistema não é construído sobre a verdade bíblica, e sim sobre outros princípios básicos. Sendo assim, toda antropologia que estude o homem sem as lentes da Criação-Queda-Redenção terá apenas uma visão parcial dele. Por isso que os anos e passam e nenhum sistema filosófico consegue ter uma resposta plausível para a questão “o que é o homem?”, Eles não têm a resposta de como “conhecer a si mesmo”, pois, como disse Calvino "O verdadeiro conhecimento de nós mesmos é dependente do verdadeiro conhecimento de Deus".
Sem. Jailson Santos
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