Poucas palaras sobre as Institutas de Calvino.
Seria necessário um longo texto para dizer convenientemente a relevância das palavras de João Calvino nas páginas das Institutas, o que não podemos fazer aqui. Durante os últimos séculos, tanto do ponto de vista teológico, como do ponto de vista literário, nenhuma obra contribui com igual clareza e igual força para o desenvolvimento da fé reformada. Nos últimos anos as Institutas tem sido o livro texto de muitas instituições religiosas. Varias edições latinas e francesas, e numerosas traduções em línguas estrangeiras foram dadas ao público durante a vida do autor e continuaram a ser após a sua morte.
Não são poucos os que consideram Calvino como o maior e principal teólogo de todos os tempos. Nas palavras de Gouvêa, também não é exagero afirmar que a historia da teologia pode ser dividida em pré-Calvinista e pós-Calvinista. [1] Talvez a grande razão disso seja o fato que Calvino não foi apenas o teólogo da mente, mas também o pastor do coração.
Os primeiros cinco capítulos, do II livro das Institutas, deixam isso bem claro. [2] Os profundos princípios antropológicos e da graça mediante a fé, a despeito de ter um grande teor teológico e exegético, são tratados também de forma devocional. Por isso cabe bem o que disse John Murray: “A Institutas não é somente uma obra prima de teologia cristã; ela é um clássico devocional.” [3] Ou ainda, Martin Lloyd-Jones “diferente de muita teologia moderna (...) a obra de Calvino é profundamente devocional.” [4]
Além da forte ênfase devocional os capítulos supra citados, seguem uma seqüência lógica e didática. Dentro de uma cosmovisão antropológica, Calvino, começando da queda, mostra-nos que o homem é totalmente depravado e que não há nenhum bem nele, enquanto Deus motivado unicamente por sua graça, misericórdia e infinito amor, não o vivificar.
Muitas destas questões exploradas por Calvino são na verdade uma resposta aos que se opuseram a doutrina da Graça. Por essa razão há um tom de dialogo, nos capítulos quatro e cinco, onde Calvino cita a opinião dos seus “opositores” e em seguida os responde de forma magistral. E tudo isso o faz tendo a Escritura como senhora.
Além de ter a Escritura como base primaria, Calvino usa muito o pensamento dos pais da Igreja, entre os “pais” gregos ele cita João Crisóstomo; e entre os “pais” latinos, cita com freqüência Agostinho[5], de quem ele herda e segue as principais idéias. Assim, durante os cinco capítulos Calvino mostra que sua idéia não era somente bíblica, o que já seria suficiente, mas que também tinha o testemunho dos pais da Igreja.
Por fim, as Institutas é uma leitura indispensável para todos os que desejam sabe de fato quem é o homem e como ele chega a Deus. E a todos estudiosos da Bíblia e da teologia este é um livro que não pode faltar na biblioteca.
Soli Deo Gloria
Sem. Jailson Santos.
[1] CALVINO, João. A Verdadeira Vida Cristã. São Paulo: Novo Século, 2000. p. 09.
[2] Objeto de estudo do presente trabalho.
[3] Ver nota 2 de Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa, pg. 29, As Institutas ed. Especial, Vol I, ed. Especial. CEP
[4] Cf. LLOYD-JONES, Martin. Discernindo os tempos. São Paulo: PES, p. 42 – 47.
[5] O D. Martin Lloyd-Jones, comentando sobre a Reforma Protestante, diz que: “A maior lição que a Reforma tem a nos ensinar é, justamente, o segredo do sucesso na esfera da igreja e das coisas do Espírito Santo, é olhar para traz”. Lutero e Calvino, diz ele: “foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido.” (destaque meu). Lloyd-Jones apud Neto. NETO, F. Solano Portela. A Mensagem da Reforma para os Dias de Hoje. Fides Reformata. v.2, n.2. jul/dez, 1997. p.29.
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