Quando a verdade tropeça, a justiça não consegue entrar.
Pelo que o direito se retirou, e a
justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas praças, e a
retidão não pode entrar. Sim, a verdade sumiu, e quem se desvia do mal é
tratado como presa. O SENHOR viu isso e desaprovou o não haver justiça (Isaías
59.14-15)
O Humanismo saiu da arena principal, o modernismo
não conseguiu assumir o seu lugar e o grande gigante que se levantou para a
guerra foi o “pós-modernismo”. Sabemos de onde ele veio, mas, quem ele
realmente é não podemos dizer com clareza. Um o chama de “relativismo”, outro
de “secularismo”, e há o que o conheça por “pluralismo”. A verdade é que ele
responde por todos esses nomes, pois ele próprio prega uma vida dicotomizada
das verdades universais. Seu veneno letal tem afetado não apenas o meio
acadêmico e o seu sistema intelectual, mas toda sociedade contemporânea. De
forma democrática a negação de uma verdade absoluta tem sido uma realidade de
ricos e pobres, homens e mulheres, acadêmicos e leigos, ateus e até religiosos.
Essa realidade, que em um rápido olhar parece ser
uma inversão dos movimentos filosóficos dos nossos dias, é na verdade mais
antiga que imaginamos. O profeta Isaías por volta do ano 700 a.C já asseverava:
“Pelo que o direito se retirou, e a
justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas praças, e a
retidão não pode entrar. Sim, a verdade sumiu, e quem se desvia do mal é
tratado como presa. O SENHOR viu isso e desaprovou o não haver justiça”. O
tempo passou e a verdade continua tropeçando pelos salões políticos, nas praças
das cidades e dentro dos pátios das igrejas, e de igual modo, a retidão não
pode entrar. Semelhante à maioria das sociedades influenciadas pelo espírito de
nossa época a nação brasileira está mergulhada em um oceano de injustiça
política, ética e religiosa, onde cada um busca seu próprio interesse sem
absolutos divinos para o certo e o errado, o verdadeiro e o falso.
A política que rege a nação brasileira tem sido
marcada pela injustiça e imoralidade. Há muito tempo a corrupção passiva se
tornou ativa e a coligação política uma verdadeira formação de quadrilha.
Análogo ao tempo de Isaías nossos governantes “por suborno justificam o
perverso e ao justo negam justiça!” (Isaías 5.23). Os escândalos do “mensalão”,
“petrolão” e a ineficácia da célebre “Lei da Ficha Limpa” com seus inumeráveis
recursos (todos eles filhos de partos normais da morosidade da justiça
brasileira) é uma prova incontestável deste lamentável fato.
Quando o assunto é o retorno dos impostos pagos (os
quais, diga-se de passagem, são os mais altos do mudo) a injustiça brasileira
tem sido pintada com cores fortes. A despeito de ganharem os mais altos
salários da nossa nação e possuírem benefícios a perder de vista, a maioria de
nossos políticos (dos mais diferentes partidos) desvia milhões de reais todos
os anos de creches, escolas e hospitais para apartamentos, malas, bolsos, e
até cuecas. Com seus discursos sofistas e ações egocêntricas, negam justiça aos
pobres, arrebatam o direito dos aflitos e roubam os mais necessitados (Isaías
10.2).
Se na política as coisas não vão bem, na ética elas
vão de mal a pior. O relativismo é visto na teoria nos discursos dos
intelectuais e na prática no “jeitinho” dos brasileiros. Em um passado não tão
distante Eros Roberto Grau ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
asseverou: “Há muitas moralidades. Se cada um pretender afirmar a sua, é bom
sairmos por aí, cada qual com seu porrete”. Essa multiplicidade de conceitos
sobre certo e errado defendida pelo doutor Eros Grau, compreende a essência do
pensamento humano dos nossos dias e seu direito em crer ou deixar de crer no
que quiser, sem ser discriminado por isso. A crença do indivíduo é sua verdade.
Pode-se até dialogar, desde que haja “tolerância”, o que para eles é quase um
sinônimo de concordância. Um exemplo disso é a desgastada lei PL-122 com seu
falso discurso de “tolerância”. Todavia, dialogar implica em respeitar, e não
concordar. A “tolerância” termina onde a verdade absoluta começa.
O relativismo teórico ganhou corpo e vida no famoso
“jeitinho brasileiro”. Este é uma maneira de se colocar entre o certo e o
errado, e decidir pelo que te favorece sem a preocupação de seguir normas
pré-estabelecidas. Mais importante que a lei instituída é a “Lei de Gérson”: “O
importante é obter vantagem em tudo”. Uma sociedade guiada por esse “jeito”
além de injusta sempre será fria, egoísta, calculista, incessível e acima de
tudo desumana. Como a verdade anda tropeçando aqui e ali, a ética tem sido
pragmática e utilitarista. As portas serão abertas para justiça entrar quanto
ética deontológica for libertada e a teleológica condenada à prisão perpetua, pois,
o fim não pode ser divorciado da norma que está no meio. É necessário que a
verdade divina firme seus passos, pois como diria Dostoievski: “Se Deus não
existe e a alma é mortal, tudo é permitido”.
É de se esperar que no âmbito religioso o cenário
seja outro, mas infelizmente isso não é uma verdade. Nesta esfera, o
relativismo não apenas fechou a porta para a justiça, mas abriu a janela para
sincretismo. A particularidade da fé cristã foi engolida pela pluralidade de
pensamentos. Os pressupostos revelacionais foram minimizados nas cátedras e nos
púlpitos e enquanto os racionais foram maximizados na fé e prática. A
multiplicidade de sentimentos não ficou fora do pacote. Assim como a beleza
está nos olhos de quem vê, há quem diga que a verdade está no coração de quem
sente. A objetividade foi abandonada e a subjetividade tem sido aclamada. Pois
o discurso atual é que a fé não se explica se sente!
Além disso, idêntico ao tempo do profeta Isaías não
há quem clame pela justiça, quem compareça em juízo pela verdade. Ao contrário,
grande parte dos líderes religiosos confiam no que é nulo e andam falando
mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniquidade (Isaías 59.4). Como nos
tempos de Miquéias muitos sacerdotes usam a fé sincera de um povo sofrível para
explorá-lo de forma visível; e vivem em desprezível ganância fazendo do
ministério meio de jactância. Líderes dominadores escondem a verdade na obscuridade
da ignorância para oprimir os que clamam por justiça. Os que mais precisam do
favor de Deus são explorados por aqueles que falam “em seu nome”. Seduzidos
pela teologia da prosperidade dão o que não tem para possuir o que Deus nunca
prometeu. Enquanto muitos sacerdotes estão chegando ao topo dos mais ricos da
nossa nação o povo afunda na miséria como quem anda em areia movediça.
O que fazer diante deste quadro? Além de, a
semelhante Cícero, lamentar: “O tempora o mores” (oh que tempos, oh que costumes),
faz-se necessário agir, pois como dizia Calvino “os erros jamais podem ser
arrancados do coração humano, enquanto não for nele implantado o verdadeiro
conhecimento de Deus”. Por isso, para que a justiça entre e tenha acento na
política, na ética e na religião é imprescindível voltar à verdade para
conhecer, pregar e viver. Vivemos na época do vazio. Os membros das igrejas são
recebidos, mas não são instruídos; são animados, mas não são ensinados. A
verdadeira adoração requer o envolvimento com a verdade encarnada (Jesus
Cristo). Todavia, as pessoas então adorando um Deus que elas não conhecem. Muitos
religiosos dos nossos dias são como os atenienses no Areópago. O altar está lá,
adoração está sendo realizada, mas o Deus que se fez carne é desconhecido.
No entanto, não basta conhecer a Deus é imperativo
fazê-lo conhecido por meio da pregação. Martin Lloyd-Jones estava certo quando
afirmou que “a mais urgente necessidade da igreja cristã da atualidade é a
pregação autêntica”. C. H. Spurgeon aconselhava os seus alunos que apegassem a
verdade e anunciassem todo o conselho de Deus, ao invés de cederem às pressões
da época e agradarem aos seus ouvintes. Assim, para que haja justiça é mister
ter o olhar fixo na Palavra infalível de Deus e pregá-la a tempo e fora de
tempo. Que o senhor Deus levante homens e
mulheres comprometidos com a verdade para que a justiça tenha livre acesso nos salões políticos, nas praças das cidades e dentro dos pátios das
igrejas
Jailson Santos
Um dos pastores da IPA Limeira
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